sábado, janeiro 31

Ausência

Desta vez não é uma ausência forçada, mas por opção.
Vou estar ausente deste espaço, do meu mundo e da minha gente durante uma breve semana, período durante o qual vou beber ares diferentes e provar, no local de origem, a Guiness, o Jameson e o Bushmills, coisas que adoro, para além de ouvir os dubliners ao vivo e, se tiver sorte, trocar ideias com Van Morrison, Bono ou Enea.
Se de hoje a uma semana não der notícia, estranhem e desconfiem da air luxor, do IRA ou simplesmente mais um alentejano que se converteu ao gaélico e aos celtas.
Até lá e um abraço.

Mais do mesmo

Uma das afirmações recentes da blogosfera é a afirmação da profissionalidade, dos interesses mais particulares. Faz provavelmente parte do crescimento e do amadurecimento deste mundo, como fará também parte da necessidade de encontrar um local onde possamos deixar a nossa opinião, abrirmo-nos aos outros, deixar em aberto uma ideia, uma oportunidade que, em tempos, tinha local fixo, os jornais, e reservado, os opinion makers.
Hoje, a blogosfera traz com ela ideias, partilha, vontades de contruir uma profissionalidade e permitir um encontro, do que alguns poderão caracterizar como de almas gémeas.
Na minha caixa de correio, mais um parceiro na área da educação, mais um contributo, mais um olhar.
Bem vindo quem vem por bem, que por cá fique muito tempo e que nos legue um olhar que nos permita crescer e compreender mais e melhor este mundo, o da educação.

sexta-feira, janeiro 30

asneira 2

Penso uma coisa e escrevo outra (recuso a dizer e muito menos a escrever, o que penso).
Não tenho comissão e apesar do senhor me ter desorientado e me ter tratado algo mal, reconheço o meu gosto, prazer e privilégio em conhecer, tratar e ter sido desorientado pelo professor João Barroso.
É bom de ler (e, aceditem, melhor de conversar) por isso mesmo vos digo que hoje encontrei um título em que é o organizador, com a colaboração de um outro conhecido, N. Afonso. Título que considero, nos dias de hoje, interessante, imprescindível, A Escola Pública - regulação, desregulação, privatização. Acreditem, entre o lanche passado entre uma empada e duas bejecas e o jantar, mais uma bejeca e uns cogumelos com ovos, devorei-o.

asneira 1

Como é que o Ministério da Educação pode esvaziar se a única coisa que ele tem é ar, incompetência e rivalidades entre PP e PSD, isto é, Mariana Cascais (apesar do nome é cá da terra) e o outro senhor que nem sei o nome e não me apetece ir à procura ao sítio do Min-edu.

quinta-feira, janeiro 29

blogosfera

Andava eu algo entrestecido porque sentia a blogosfera a definhar. Certamente já repararam, pelo menos aqueles que usam uma plataforma nacional, a kolidade da escrita no sapo? Há momentos, títulos, designações que são de arrepiar, mas enfim, liberdade de expressão é isso mesmo, paciência e tolerância para com a ignorância.
Mas há alternativas (mais um po monte, mais coisa menos coisa
Tenho encontrado puras maravilhas, deleitado com a escrita directa, abrupta, simples de muitos dos bloguistas que encontro. Sem pretensiosismo, sem mais expectativas do que aquelas de participar num espaço colectivo.
Como tenho sentido um enorme privilégio de pertencer à classe docente, excepcionalmente bem representada na blogosfera. Exemplos não faltam, passem por eles e sentirão - uns e outros, dias insertos.
Um outro grupo a aparecer nos links residentes será, mais do que certo, o relacionado com a História, a minha disciplina de deformação inicial - exemplos: história e ciência, o blog do Alex.
Resultado, não há que recear, companhia e causas não nos faltam para podermos trocar ideias, para podermos blogar.
Já agora, os compadres da planície que não provoquem sem apontar uma qualquer razão. Essa foi de deformação recebida ou é simplesmente para contrariar as notícias do dia?.

confidências

Esta é só para os amigos, os conhecidos, os colegas e os outros que por aqui passam e têm a pachorra de aturar e suportar a minha escrita (a todos vocemeces, obrigado).
Uma confidência com o pessoal - se prometerem que não dizem nada a ninguém. Outra vez, obrigado pela confidência.
O que tenho para dizer? é que me inscrevi numa acção sobre internet.
Só mudo de escalão lá para 2006, mas tenho que amealhar alguns créditos, caso contrário, como os profes sabem, não mudo. Estar mais um ano em congelamento passa a ser problemático, mais problemático. Assim, há falta de melhor pelo menos vou ouvir, espero eu, alguma ideia diferente, talvez nova, sobre este mundo.
Não posso é dizer que tenho um blogue, página na net, que coordenei equipas de trabalho de desenvolvimento de conteúdos, que leccionei cursos de multimédia, que sou formador reconhecido pelo IEFP na área da web, frontpage e macromedia.
De resto, lá irei eu, cheio de contente por obter um créditozito.
Mas não digam nada, ouviram.

da aferição

Digam lá, estão todos há espera que façamos comentários, possamos construir uma opinião sobre o tema do dia, as provas, ou melhor, os resultados da avaliação aferida?
Ná, hoje reservo o dia ao ruído, no meio da confusão parece mal comentar um tema, as suas análises e possibilidades de retempero, quando ando a fazer isso mesmo vai quase para um ano, neste sítio é claro.
Apenas três breves comentários sobre as provas de aferição e do debate que tive oportunidade de ouvir (Antena1 e TSF, Público ou Diário de Notícias):

1) a conversa tem servido, basicamente, para evidenciar a irresponsabilidade político-administrativa. Todos se acusam, todos sacodem a água do capote. A culpa foi do PS que promoveu e incentivou o facilitismo. A culpa é deste governo que não tem rumo, apenas desorientação, não tem política educativa, apenas vontade de orange boys.
Meus senhores, não me interessam culpados, interessam-me soluções, propostas de trabalho para ultrapassar, local e contextualizadamente a situação.

2) começa a não valer a pena queixarmo-nos dos professores que nos antecederam, não vale a pena queixarmo-nos do ciclo anterior - que não ensinou a ler, escrever e contar, que não ensinou conceitos básicos - uma vez que quanto mais se sobe maior é a desgraça, piores são os resultados [ainda bem que não fizeram uma avaliação aferida às universidades, seria uma total catástrofe]; há que incentivar e definir metodologias de trabalho colaborativo, entre escolas, entre ciclos, entre disciplinas, entre, muito importante, pessoas.

3) Estou certo que estes resultados caíram que nem ginjas a D. Justino e ao primeiro ministro. Com estes resultados é fácil justificar o reforço da defesa de uma reforma de fundo (mais uma, é claro) ao sistema educativo, ao trabalho dos professores, ao desempenho das escolas, ás avaliações, às relações da família, etc., etc, para resolver, de uma vez por todas (isto é, até uma próxima oportunidade política), o cancro que são os resultados da educação. Estou certo é que a opção não recairá na desregulamentação do sistema, na atribuição de capacidades, funções e competências às escolas, na articulação com as autarquias, na clarificação de um sentido ao trabalho docente na e para a integração de alunos com dificuldades de aprendizagem.

Finalmente, acreditem, aqueles que não são docentes e em que as relações com a escola são superficiais e mediadas pelos filhos em idade escolar, que há bons exemplos, boas práticas, bons profissionais, dedicação e vontade de dar a volta a este texto por parte de muitos e muitos professores, velhos e novos, menos novos e mais velhos. Haja também paciência para aturar discursos que não conduzem a lado nenhum, porque amanhã, digo eu, já ninguém se lembra e há outros assuntos, mais urgentes, na agenda do dia.

quarta-feira, janeiro 28

estabilidade - évora outra vez

Ontem, numa rápida troca de galhardetes com um colega hoje na posição, entenda-se apoiante do governo, distinto militante social democrata, referenciou-me como distinto resistente da blogosfera.
O comentário ficou-se por aí, apesar de ter comentado sobre a dinâmica que pressinto do Baixo Alentejo contrastante com a ausente destas bandas.
Já aqui o referi que uma das razões do meu arranque na blogosfera se prendeu com a cidade, com Évora, com este imenso espaço interior que é o Alentejo.
Mas constata-se, à boa maneira alentejana, a estabilidade a que chegou a blogosfera eborense, isto é, o amorfismo, a ausência, a estagnação.
É certo que o meu olhar pode captar apenas uma parte da realidade, que me podem escapar inúmeras experiências e dinâmicas e pecar por não as considerar. Mas dos links residentes apenas noto actividade no Miniscente, do Luís Carmelo, d'O Sexo dos Anjos, de Manuel Azinhal, e As Saudade de Antero, de Frederico Mira, todos eles hoje mais virados para outras bandas do que propriamente para a cidade, para a política. Os outros, estão parados, estagnados em clara estabilidade inativa.
Reconheço que alimentar esta dinâmica não é tarefa fácil, exige de nós e consome energias e capacidades. Como reconheço que muitos daqueles que, há um ano atrás davam vida e sentido a uma blogosfera eborense, detém outras paragens onde participar, discorrer, deixar opiniões e críticas.
Mas é pena que a blogosfera eborense esvaneça na crítica, se fique pelo desbaratar de ideias e estagne numa estabilidade amorfa.
Évora precisa do comentário, da crítica, da opinião de todos, do contributo que uns e outros podem disponibilizar para que possamos ter uma melhor cidade, para que possam existir alternativas, para que exista afirmação. Dizer mal, falar mal de tudo e de todos é o modo mais fácil de nos afirmarmos, talvez daí a dinâmica de há um anos atrás, mas hoje é necessário apresentar alternativas, e deixar espaço para que juntos as possamos construir e possamos ter uma melhor cidade.
Não se esqueça que a guerra das eleições vai começar dentro em pouco, num palco perto de si.

do espírito

Hoje, por estas minhas bandas, o céu apresenta-se brilhante, pintalgado com laivos de sol transparente. Não está um dia quente, mas permite reconfortar o espírito depois de um dia chuvoso. Já tive vontade de replicar, acrescentar ideias às ideias do Miguel, sobre o professor, sobre os desafios da sociedade. Deixei-me estar, quieto, sossegado. E a vontade passou. Hoje apetece-me apenas não dizer nada ou dizer apenas mais um conjunto de banalidades, frivolidades, bestialiades.
Apetece-me olhar o céu claro, sentir o sol e ir à vida, que se faz tarde.

terça-feira, janeiro 27

da escola e de casa

Aprender a partir de casa, com a experiência dos mais velhos, ouvindo a voz da experiência, ou simplesmente aprofundando conhecimentos, mediante uma formação ao longo da vida, com recurso a estas mesmas tecnologias - internet, correio electrónico, chats, etc - pode ser uma mais valia em determinados contextos e face a determinadas situações ou circunstâncias em que uma pessoa, ou uma dada comunidade, se encontra.
Agora, generalizar esta situação e fazer com que pareça uma plausível alternativa à escola actual parece-me demais. Talvez seja cota. Talvez esteja a traduzir mal a coisa.
Mas deixo um conjunto de sítios para poderem comentar:

link1
link2
link3
link4
link5

das águas

Apesar da chuva, não é destas águas que trata este post. Apenas da separação das águas entre a educação e a política. Há quem defenda que "política e educação não se misturam".
Tenho dúvidas, que penso razoáveis, sobre um possível aproveitamento nacional desta afirmação.
Contudo, reconheço que em determinados momentos, face a algumas circunstâncias político-eleitorais ou de vontades incontinentes de reformismo agudo, me dá vontade de mandar calar os políticos e de lhes dizer para que se abstenham de falar da escola, da educação, dos professores e dos alunos.

Cenas de um quotidiano II

Ao sair da escola cruzei-me com uma colega que atarefada parecia esconder algo. Como habitualmente a minha boca é grande e a vergonha rigorosamente nenhuma, meti-me com ela.
Efectivamente escondia algo numa pequena mala. Abriu-a e mostrou-me o seu conteúdo. Logo ali, quase a cair do bordo da mala, consegui ver três ou quatro embalagens, das pequenas, de Ferrero Rocher. Diz-me, algo entre o envergonhado e o comprometido, que os trouxe para negociar com uma turma, por acaso da qual sou o director de turma, se se portarem bem ganham uns bombons. Caso se portem mal, seguem o caminho habitual, a porta da rua.
A colega tem 33 anos de serviço, 58 de idade e muita, muita mesmo, paciência para os alunos.
Os alunos é que não têm paciência rigorosamente nenhuma para as aulas.

cenas de um quotidiano I

Uma sala de professores onde, habitualmente, pelo menos desde Setembro, período em que cheguei a esta escola, a porta estava sempre, ou quase sempre, aberta e havia sempre quem resmungasse por isso. Colocada uma mola na porta, agora está sempre fechada. E há quem resmungue por isso.
Vá lá o "pissoal" compreender os gregos e os troianos.

da alegria

Ontem, em conversa com uma colega na escola, discurria-se sobre o gosto e o prazer dos miudos de 7º, 8º ou 9º ano "andarem" na escola. Diziamos, nessa troca de palavras, que vimos os miudos amarguarados, desencantados, por vezes mesmo zangados com a escola. Que no nosso tempo não era assim, e ela sublinhava o facto de não ter deixado a escola assim há tanto tempo que permitisse criar o fosso geracional.
Mas é verdade. Comentamos que os miudos não gostam de frequentar a escola, por vezes terão razão. Os meus alunos do ensino básico iniciam, quase todos, o dia entre as 6h00 e a 6h30 e terminam-no, no que á escola diz respeito, entre as 19h00 e as 19h30. Qualquer coisa como 12 horas entre autocarro e suportar professores, colegas, birras, amizades, amores e desamores.
Como é possível gostar de andar, nestas condições, na escola, será assim tão diferente da situação de residir em Sintra e atravessar o IC19, para ir trabalhar?
Compreendo os americanos e os autocarros amarelos, de recolha e distribuição das crianças. Já o presidente chamou, em tempos, a atenção para este pormenor, mas uma rede de transporte coerente e sustentável no interior do país é mentira. Não dá rendimento.
Nem a escola.

segunda-feira, janeiro 26

A ver

No meio das tristezas e da consternação, um sítio com humor fino e pontiagudo. Valem mais as imagens que as palavras. Os comentários, esses, são mordazes, directos sem bixas colaterais. A ver, muitas vezes.

Incontornável

Hoje e provavelmente durante mais dias será incontornável a morte de Miklos Feher.
O único comentário de geito que encontrei vem com a assinatura do Mocho, merda de vida.
Esta mesma vida, feita de instantes, de um instante sorridente, ganhador, para, logo depois, se morrer em campo.

domingo, janeiro 25

do professor

Não que seja um confesso admirador de A. Teodoro, não sou. Mas reconheço-lhe honestidade, preserverança na defesa da imagem e do papel do professor, e da sua intervenção na construção de uma política educativa.
Também lhe reconheço outros interesses, como o de ter utilizado o sindicado como algo de passagem e em face de eventuais outras estratégias.
Contudo, reconheço na afirmação do post anterior algo que é sintomático, preocupante, qual o papel do professor neste princípio de século.
Se é certo que temos, alguns de nós, discutido o papel da escola, a eventual crise da escola ou do sistema, a existência de modelos para a escola, a definição ou a sua tentativa de construirmos uma alternativa ao modelo de escola que temos, temos também descurado um pouco qual o papel do professor neste conjunto de ideias.
Assim, qual o papel do professor face aos modelos que se possam desenhar - sejam na escola cultural, na reconfiguração da escola nova, da escola moderna ou noutro figurino?.
Qual a função do professor face à escola, aos alunos, à comunidade em que se insere?
Apenas ideias, nada mais, talvez um dos desafios que, colectivamente e utilizando esta realidade da blogosfera, possamos desenvolver, tal como o Miguel me colocou.

Não é, não se entenda desse modo, uma sugestão de leitura, apenas uma referência quanto a uma ideia, um olhar, sobre o papel do professor. Não perde quando retirado do conjunto, do seu contexto, ainda que, face ao conjunto, se possa perceber melhor o sentido dado ao papel do professor. Mesmo assim aqui fica uma pequena passagem de um pequeno texto, de um pequeno livro.

António Teodoro, Globalização e Educação, políticas educacionais e novos modos de governação, 2003 (não encontrei referências nas bases de dados on-line):

Previsivelmente, o que se acentuará na próxima década será a contradição entre a forma escolar e o exercício da actividade docente próprias da modernidade.
[Nesta perspectiva, coloca-se a necessidade da] definição de novos perfis para o exercício profissional da actividade docente e com a formação para novas competências (...). [Onde oas novas competências vão ao encontro do] entendimento do professor como um pesquisador de sala de aula, capaz de conhecer os seus alunos (e a comunidade) com que trabalha, de construir estratégias de diferenciação pedagógica, de trabalhar em equipa, de produzir quotidianamente inovação, de mediar o espírito crítico dos seus alunos com a beleza do conhecimento e da aventura humana
. (p. 98 e 99)

sábado, janeiro 24

Novos títulos

De repente a blogosfera inunda-se de professores, espero que por aqui se mantenham, espero que alarguem perspectivas e ajudem a descobrir novos horizontes de uma profissão.

sexta-feira, janeiro 23

das contradições

apesar da disparidade dos números, da antipatia de que se revestem governo e sindicatos, apesar dos sindicatos necessitarem de uma outra roupagem e de uma nova forma de afirmação, apesar de tudo isso e do muito que fica por dizer e por fazer, que este seja apenas mais um dos dias em que mostramos que estamos descontentes. Que seja apenas mais um, que amanhã seja um outro dia onde possamos dizer e acreditar que há um futuro a construir, que podemos e devemos participar nessa construção.

Novidades

Não terminei o meu dia de greve, não cesso agora a minha luta por um governo melhor, por uma melhor política educativa, por um melhor país. Continuo a exigir que os secretários de estado se entendam, para bem da escola, da educação, do país. Continuo a fazer força para que existam alternativas, para que haja luz no fundo do túnel.
Suspendo tudo, paro no espaço e no tempo para destacar um novo blogue. Desta vez não fui eu que o descobri, fui descoberto. Ainda bem, eu, agnóstico confesso, digo e afirmo, graças a Deus que alguém me encontrou.
Bonito. Terrivelmente simples. Até dói e não cansa. Masoquista? Esperem pela pancada e passem por lá, sintam as palavras, sintam as imagens. Sintam, que não custa nada e sabe bem.

Em greve

Pelo direito à participação
Pelo direito à indignação
Pela perda de poder de compra
Contra a intrujisse e mentira
Contra o congelamento dos salários
Contra a política educativa (qual?, como?) deste governo
Contra o autismo e a prepotência

Estou em greve

quinta-feira, janeiro 22

leituras

Achei engraçado o comentário do Miguel relativamente ao facto de também ele por vezes não terminar um livro. Não digo mais coisas esquisitas, não vá algum amigo, conhecido ou simplesmente leitor dizer cobras e lagartos a meu respeito, mas aqui que poucos nos ouvem, assumo um pecado algo não original, é que não consigo ler Saramago. Já experimentei de tudo, em todas as posições, de todas as maneiras e nada. O único em que me adiantei até quase ao final, ficaram-me a faltar meia dúzia de páginas, foi o primeiro, o Levantado do Chão. Os restantes não consigo, não resisto, caio, fico k.o. por volta da página 20/30. Houve um colega que ficou estarrecido, quando, numa cavaqueira, assumi este meu pecado. Perguntei-lhe, já lles-te o quê. Disse-me que ia começar a ler. Mais tarde assumiu que também ele não conseguia ler Saramago. Deficiência nossa, eu sei, mas é verdade.

quarta-feira, janeiro 21

Os livros

Tenho, há muito, um gosto por livros, sejam novos ou menos novos, grandes ou pequenos, de poucas folhas ou de largas lombadas. Com cor ou sem ela, aos desenhos ou com muitos desenhos, alguns com arabescos, outros com pequenas notas.
A acompanhar este meu gosto pelos livros, as canetas. Desde a minha primeira caneta de tinta permanente, uma Reform, preta, de aparo dourado, pontiagudo, que me ficaram na imaginação estas pequenas relações. De um lado a caneta, do outro os livros.
Por vezes nem os leio, ou melhor, começo a le-los mas perco o entuasiasmo, o desejo de o possuir e fico-me, por vezes miseravelmente, pelos preliminares e pronto.
Por outras regresso insistentemente a eles, à sua companhia, ao seu prazer de reler aquilo que já sei que vai acontecer na página seguinte. Mas não reparei naquela virgula, naquela descrição, naquele pormenor de vida.
Isto porque um dos livros que temi perdido em prateleiras portuguesas dos Correios é um sobre "Schools That Learn". Um pequeno excerto, em geito de memória futura:
It is becoming clear that schools can be re-created, made vital, and sustainably renewed not by fiat or command, and not by regulation, but by taking a learning orientation. This mean involving everyone in the system in expressing their aspirations, buiding their awareness, and developing their capabilitis together".

em parte incerta

Há coisas em que nós confiamos de forma acrítica, impensável. Ontem de manhã dirigi-me ao posto de correios da minha área afim de levantar dois livros que espero há algum tempo oriundos da Amazon. Sentia-me curioso, algo entusiasmado por ir ter mais dois livros, num dos quais deposito algumas expectativas.
Tirei a minha senha e aguardei pacientemente. Tilintado o meu número naquelas modernices que abundam em repartições públicas e não só, talhos, supermercados, dirigi-me ao balcão. Apresento o postal, o Bilhete de Identidade e a senha. A senhora, sem uma palavra, levanta-se e desloca-se, presumi eu, para a zona de encomendas. Esperei cinco minutos, que se arrastaram até ao notável quarto de hora. E nada.
Ao fim deste tempo, eu impaciente e as pessoas que não me viam sair dali piores que eu, recebo a notícia que não encontram a minha encomenda. Responda a um conjunto de questões, quando me deixaram o postal, onde resido, etc., ficam com cópia do postal e com o meu contacto telefónico. Até hoje nada. Lá voltarei, pronto para a confusão esgotada que está a confiança que houve nos serviços postais deste país.

terça-feira, janeiro 20

descobertas

Navegar aleatoriamente pela blogosfera traz coisas agradáveis. Descobrimos pensamentos, ideias, confidências, palavras escritas, como se ninguém as lesse, as escutasse. Dinâmicas que presentimos, que perspectivamos. Amizades que se escutam.
Neste deambular aleatório duas referências:
1 - duas páginas onde se abordam outros pontos de vista sobre a escola, outras problemáticas da escola ou, como diria o Miguel, outros olhares, outras perspectivas sobre a escola e sobre a educação. Um, com um nome apelativo, Dias Incertos, outro, resultante de um curso de mestrado, pensava-o adormecido, será que reapareceu, associa dois temas do mais interessante que existe ou, melhor dito, um olhar interessante, Educação e Comunicação.
2. A perspectiva de uma dinâmica própria oriunda do Baixo Alentejo e que se sente na blogosfera. Será de perguntar, algo sentido mas sem despeito, que é feito dos blogues que tinham Évora como pano de fundo.
Para perceberem o que digo, passem pela Planície, apercebam-se das Ideias Soltas que por aí existem, e digam se não vale a pena discorrer sobre um teclado?

do frio

Ontem um dos matutinos, não sei qual, trazia os números dos mortos causados pelas elevadas temperaturas do Verão passado. Mais de 2000 mortos, de acordo com os dados.
E o frio? Quantos não causará. Quem passa pelas aldeias portuguesas, pelo interior do país, sente claramente a morte a passear nas ruas, pelo meio dos velhos, de raspão passa por um e por outro. Há aldeias em que semanalmente há um, dois, três funerais. Mortes naturais, da velhice, do cansaço, da solidão?
Temos a mania que vivemos num clima temperado, ameno, onde o frio penetra o ossos e o verão os queima. Que raio de país temos nós, cansados de pedofilias, de corrupção, de incompetências, lembremo-nos daqueles que nada têm e que gelam, mirram com este frio.

da planície

Há dias senti nos outros aquilo que por mim já perpassou, um sentimento de reconhecimento da escrita que desenvolvo por estas paragens. Tinha um mail dos colegas e compadres da planície-heróica, gratos resistentes de um quotidiano alentejano. Agradeciam-me, reconhecidos, o link que aqui existe. É bem feita. Têm escrito que se desunham, deixam ideias e histórias e queriam passar despercebidos. Não pode ser. É para crescerem ainda mais. Deixarem-nos mais histórias, mais imaginação alentejana. É para resistir nesta planície. O frio a isso obriga.

(a)Normalidade

Prefiro, nesta manhã fria, regressar à minha anormalidade, ao simples discorrer dos dedos, das pontas geladas dos dedos, sobre o teclado. O que sai, mais não é que um pequeno fio de imaginação, fracamente iluminado pelo sol de uma manhã de inverno.
O resto, meus amigos, fica para depois. Agora, apenas quero sentir o prazer de uma normalidade da escrita, sem pensar o meu pensamento, sem sentir aquilo que me leva a escrever.

segunda-feira, janeiro 19

da construção

Mais que procurar a inevitabilidade do entendimento, procuro, neste momento, um sentido ao meu próprio trabalho. Reconheço-me na insatisfação dos momentos, redescubro-me na redefinição dos sistemas. Mas preciso, neste momento, de algo mais. O prazer da blogosfera, em face da construção de uma ideia de escola ou da reconfiguração de um sistema, pode ser e é, pelo menos para mim, interessante e aliciante. Mas preciso de enfrentar o quotidiano, defender uma posição em que nada digo e nada faço.
A hipocrisia dos governos tem feito com que nos alheemos do debate, da participação, da reconstrução de uma dada identidade profissional. Reside aí, em grande parte, a defesa de uma escola e do lugar central do aluno.
A principal ideia a retirar, mais do que um posicionamento numa qualquer pirâmide social ou ideológica, é a da necessidade do reforço de todos os mecanismos de participação, autonomia e liberdade. O que fica expresso nestes e noutros blogues, que têm a escola ou a educação como tema central ou qualquer outro tema, é a participação, o debate das ideias, a troca de opiniões.
Este permanente refazer de ideias e de pensamentos tem provocado em mim um constante crescer. Cresço em mim, há medida que conheço mais os outros. E isto é, para mim o mais importante. Como é trazer mais gente ao debate, envolver o maior número de pessoas a partir de uma lógica de rede. Assegurar a participação, recusar a indiferença, este é o nosso desafio, da blogosfera e de quem nela participa.

Mudança

A discussão tem rondado, nos últimos tempos, sobre a possibilidade de mudança nas escolas. Há quem a defenda, há quem afirme da sua impossibilidade e há aqueles, como eu, que dizem que resistimos a tudo aquilo em que não reconhecemos interesse.
Em primeiro lugar uma constatação. Só o facto de se equacionar a possibilidade de mudança nas escolas, faz com que ela seja uma possibilidade. Logo, por este raciocínio é possível mudar a escola. Segundo, a escola tem resistido, e bem, ás sucessivas tentativas de mudança de que tem sido alvo. Por muito incrível que possa parecer continuamos com a mesma escola que herdamos da velha senhora, como disse um dos Migueis. Estou também certo que muitos concordarão que esta escola que herdamos a poucos interessa e ninguém, pelo menos de bom senso, nela se reconhece. Uma escola elitista, com base na meritocracia, selectiva, entre outros adjectivos. É certo que não tem sido apenas por oposição dos seus actores, professores, alunos, pais/encarregados de educação, membros da comunidade. Para além dos interesses a sua própria estrutura física é, em muitos casos, o claro obstáculo à mudança.
Mas, a despeito destas considerações, o problema da mudança, se me permitem o pretensiosismo, radica no seu sentido, na sua direcção, nos seus objectivos. É fácil concordar que queremos mudar para melhor. É fácil concordar que queremos melhores condições, melhores oportunidades, maior sucesso, maior participação, maior envolvimento e que para tudo isto é importante mudar a escola. Não concordo. E não é por uma questão de pessimismo, nem de inconformismo. Apenas de receio quanto ao sentido, à direcção dessa mudança. Eu divirjo, recuso o sentido de mudança deste governo. Outros certamente divergirão do meu sentido de mudança. Isto é, não me queiram convencer que existe um caminho mais correcto que os outros, um sentido mais adequado, uma direcção mais certa para a mudança.
Existem hoje nas escolas, nas nossas escolas, espaços de mudança, espaços de trabalho, oportunidades de esperança que devem ser aproveitadas. Mais que criar um sentido de mudança, importa criar tantos quantas as pessoas que se reconhecem na escola, nesta ou noutra, que queiram criar e participar numa escola em mudança.
Caso contrário corre-se o risco de se repetir aquilo que aconteceu com o programa das TIC do secundário. Discute-se tanto, equacionam-se tantos cenários e tantos sentidos de evolução e mudança que quando implementado o programa ele se encontra ultrapassado, desadequado das necessidades e do real.
Mudar é possível, é desejável, é ambicionado por tudo e por todos. Mas a mudança tem que ser em cada um de nós, em cada pessoa, na forma como entende a escola, nos modos como com ela se relaciona, nos modelos de relacionamento que define, nos objectivos que se constroem.
Aqui, reconheço pertinência às valorizações, recuso modelos, sejam oriundas da escola moderna, da escola nova, da escola cultural, como ao papel das pedagogias, sejam elas mais ou menos directivas, da participação, mais ou menos empenhada, do envolvimento, mais ou menos determinado.
É esta mudança, a que é re-construída diária e quotidianamente em todos nós que ambiciono, que prescrevo como fundamental na construção de uma escola em mudança.

sábado, janeiro 17

Dos desafios

Posso estar redondamente enganado, posso tomar a nuvem por Juno, mas creio que, neste início de ano, os blogues da educação têm uma maior predisposição para a discussão, para a construção de um sentido colectivo do texto, que os restantes.
Os desafios lançados pela pequena, mas significativa, comunidade educativa na blogosfera, faz com que possa pensar o futuro de forma reconfortante. Garantidamente que não serão estes a mudar o mundo, para além do mais nenhum chegou recentemente à escola, à educação, ao sistema educativo. Deste modo, nenhum acalentará esperanças de mudar aquilo que não é passível de mudar, nenhum quererá fazer a figura quixotesca de lutar contra moinhos de vento.
Estou certo que todos quererão, todos pretenderão criar o seu próprio espaço de discussão, de debate, de re-criação do sentido da escola.
Nesta perspectiva concordo com Paulo Serralheiro, quando afirma que a escola, esta escola que temos e que conhecemos, nasceu com o Estado Moderno. O difícil está em enterrar esta escola com a morte do Estado moderno.
Primeiro porque interessa a muitos manter esta escola, esta organização, inclusivamente aos sindicatos.
Segundo, porque é difícil perspectivar alternativas credíveis ao modo, como J. Barroso muito bem definiu, de "ensinar a muitos como a um só".
Terceiro, como Paulo Serralheiro deixa claro quanto ao papel dos sindicatos, a defesa intransigente de uma classe com capacidade crítica, de auto-análise e de criação própria de referenciais é determinante na criação de um espaço que, mais do que surgir de uma qualquer cabeça iluminada, deverá surgir do pensar a acção profissional, da capacidade de avaliar resultados, da capacidade de redefinir caminhos e repensar alternativas.
É esta defesa intransigente, crítica e activa, que determino nos blogues da educação. Claramente que neste início de ano as novas perspectivas, os novos olhares surgidos trouxeram algo de novo à blogosfera. Quem me dera conseguir determinar o quê ou quais as suas consequências mais imediatas.

Da Harmonia

Escrevi há tempos, assumo que nem eu sei em que post andará, que quando um dia me sentir inclinado a colocar em prática a utopia que defendo para a escola me assustarei, me sentirei pequenino, incerto, duvidoso.
Isto porque o quotidiano da escola, como noutras organizações, é um equilíbrio instável, periclitante, provisório, instável entre o que fomos, o que somos e o que queremos ser. Esta santíssima trindade define um dado sentido, por muito que muitos procurem contrariar, ao conjunto de relações que se estabelecem, definem e entretecem numa qualquer organização.
É esta trindade que define, em muitos casos e em muitas circunstâncias, a forma como olhamos a escola, os seus profissionais, as relações que ela define. É ela que de algum modo condiciona o nosso olhar. A cultura de uma escola existe para isso mesmo, por isso mesmo.
O desafio da escola portuguesa neste momento consiste exactamente em encontrar o seu ponto de equilíbrio, a sua harmonia entre aquilo que foi (determinante na construção e afirmação da democracia), aquilo que actualmente é (algo instável e indefinível na transição da sociedade industrial para a era do conhecimento, da fluidez das informações) e aquilo que pretenderá um dia ser (aqui reconheço a minha menoridade, não sei o que a escola poderá vir a ser). Estou é certo que se manterá como um instrumento determinante da formação, tanto inicial como contínua.
O prazer que sinto neste momento nos blogues é poder partilhar a construção de uma ideia de escola, entre aquilo que fomos, provavelmente serei um dos mais crescidos nessa área, aquilo que somos e aquilo que queremos ser. Aqui, nesta troca de ideias, palavras, escritas, pensamentos, sinto o claro prazer e um certo privilégio em participar numa construção.
Neste campo, destaque para uma experiência de docentes do 1º ciclo que encontrei recentemente e que merece ser divulgada por mais parceiros, pode ser uma das pistas do futuro, a colaboração à distância, fazer do distante próximo, do ausente presente, do virtual algo real, do isolado e individual colaborativo e em equipa.

sexta-feira, janeiro 16

do poder

Então vamos lá trocar ideias.
desde que a minha máquina se recusou a arrancar, que não tinha oportunidade de trocar ideias.
Já da primeira vez que o Miguel trouxe à baila o tema do poder nas escolas que tive vontade de comentar, de dar algumas achegas. Não o fiz porque o tema requer alguma fundamentação para além do carácter mais opinativo que gosto de dar aos meus post. Mas agora, face ao aprofundar do tema não resisto.
Primeiro para dizer que, perante o post, não lhe reconheço uma visão negativa da escola, ao contrário do modo como afirma o seu fim. Apenas real.
Há quem pense a escola como um qualquer local mais ou menos asséptico, onde as coisas não se passam e as lutas e os interesses pelo poder não se manifestam. Há quem o afirme à boca cheia, dizendo que ninguém quer o poder, pois não há interessado(a)s no órgão de gestão.
Este é apenas um destaque, uma das formas de poder e, há semelhança do que acontece na real politik, muitas das vezes o que detém menos poder.
A segunda questão serve para contrariar o meu colega, quando ele afirma que há os que "rejeitam a mudança, sobretudo, a que suscitar a modificação do “modus vivendi” instalado".
Aqui temos algumas divergências de opinião, que eu sei que na prática não acontecerão. É que pessoalmente não lhes reconheço resistência, apenas um interesse diferente, por vezes até divergente, da forma de assumir a negociação quanto aos equilíbrios, sempre instáveis e precários, dos interesses e dos interessados. Isto é, esta resistência mais não é que o claro exercício da "margem de liberdade dos actores" no "exercício do poder na interacção", (Friedberg, 1993) da colaboração e da cooperação que interessa a uns, para assegurar a pretensa existência social de uma qualquer forma de poder, e a outros no reconhecimento do seu papel, do seu protagonismo perante esse poder.
A dificuldade, muita das vezes, resulta em destrinçar quem são uns e outros, quem assegura, de forma efectiva, a condução da negociação.
Finalmente, para particularmente concordar com aquilo que se encontra subentendido no seu texto, que há que visibilizar atitudes, desmontar estratégias e, como diria M. F. Patrício, desvelar comportamentos estratégicos. Este é, no meu entendimento, o grande desafio que se coloca à escola na construção e na afirmação de um espaço de valorização das pessoas, sejam elas alunos, docentes, pais/encarregados de educação, funcionários ou outros.
O poder que a escola, isto é, que os docentes têm disputado são nestes tempos que correm marginais aos próprios objectivos e ao objecto de uma classe profissional e do seu próprio sentido de afirmação. E isso, como diz o Miguel, é fundamental afirmar e contrariar.

A Crise

Efectivamente, estamos condenados à crise, a viver a crise, a viver em crise. E ai daquele que abra a boca. É antipatriota, é contra o esforço colectivo de salvação da pátria, de certeza absoluta que é de esquerda, dessa corja de bandidos.
Pena é que sejam sempre os mesmos a pagar a crise, a pagar a incompetência de uns e o desleixo de outros.
Ontem à noite, na sic notícias ouvi o director do Jornal de Negócios a defender a senhora Manuela Ferreira Leite, hoje, logo pela manhã, o director do Público. Justificam o esforço. Os argumentos cheiram a salazarismo bafiento, a mofo, a incompetência rodeada de cariz técnico e económico. Palavras bonitas para uma nação atrasada.
Afinal a justificação do não aumento da função pública, daquele conjunto de ricos, que ganham mais de 1.000€ é feito pelos privados, aqueles mesmos que ganham mais de 1.000, mas em contos.
Será que continuamos calados, impávidos e serenos? Será que não temos argumentos nem alternativas?

quinta-feira, janeiro 15

Agenda

Assim se vê a força que a comunicação social tem. A fazer uma agenda, a definir uma dada orientação, política, social.
Assim se vê a diferença entre uma opinião publicada e uma opinião pública.
Ontem o senhor presidente fez uma comunicação à Assembleia da República.
Hoje o dia era dedicado, em parte, ao ensino básico e secundário, às dificuldades porque passam muitos dos alunos deste nível de ensino.
Das notícias alguém se apercebeu de alguma coisa, de algum comentário. Para além de uma ou outra nota em rodapé, pouco mais.
Quanto às proposta do senhor presidente só comentar que esse não é o desejo do governo. Currículos diferentes? programas especiais?, ná, a uniformização é que dá. Temos de comer do mesmo, da mesma maneira, ainda que estejamos no Alentejo, nos arrabaldes de Lisboa, ou em Trás-os-Montes. Resultado, temos avaliações diferentes, lá isso temos.

Tempo

Não é para falar do tempo que os professores não têm. É este tempo parvo, meio chuvoso, meio nublado. Irrita-me. Sei que estamos no Inverno e que é natural este tempo.
Mas apetece-me uma decisão quanto ao tempo.

da colaboração

Reconheço que um dos meus recentes interesses sobre a escola recai no trabalho colaborativo dos professores, não procuro uma versão importada e muito menos transfigurada do que nos anos 90 foi definido como as organizações aprendentes, as learning organizations.
Considero que, no contexto educativo, este trabalho apresenta especificidades, características próprias, singularidades que não são passíveis de interpretação ou de compreensão ou, sequer, de análise a partir de organizações empresariais, independentemente do seu objecto.
Ora o que quero aqui relatar é a experiência que ontem decorreu na "minha" escola relativamente ao trabalho colaborativo ainda que sobre outros pretextos.
É sabido que a inexistência de um sentido ao trabalho docente, seja numa lógica macro educativa (sistema ou ministério) seja numa lógica meso, a da escola, tem como consequência o refúgio do docente numa escala micro-educativa, a da sala de aula. Neste espaço o docente define e cria o seu mundo, cria a teia de relações sociais que suporta a sua própria sobrevivência na escola. Complementa este aspecto com regulares visitas à sala de professores e pronto. As reuniões muitas das vezes mais não são que um leve ponto onde se podem aflorar algumas perspectivas.
Mas ontem não. Em face de uma turma problemática (tão problemática quanto o desinteresse e alheamento de alunos perante as aulas) resolveu-se realizar um Conselho de Turma tendo como base a articulação e consensualização de estratégias colaborativas.
É bonito ver a surpresa das pessoas depois de uma conversa de 30', o espanto de descobrirmos o outro, o que o outro faz, como faz, as valorizações que faz, a descriminação que determina, as estratégias que utiliza, entre outros.
Não chegamos ainda a um objecto comum, lá havemos de chegar. Mas foi dado um passo para percebermos melhor o sentido do nosso trabalho e, deste modo, perdermos um pouco as nossas angústias perante a indiferença e o alheamento. Talvez consigamos ganhar novos aderentes. Para a semana há mais.

quarta-feira, janeiro 14

dos computadores

Quando o meu PC de secretária pifou pensei, considerei seriamente adquirir um portátil.
Pelo menos podia levá-lo para a escola, andar com a informação de um lado para o outro, parecer um tipo importante, digo, mais importante.
Passem por este sítio e reparem na elevação dos comentários.
Afinal, sempre acabo por perceber o porque de uma oferta formativa na "minha" escola sobre informática e criatividade.

À Noite

Ainda estou na escola, e por aqui vou ficar um pouco mais.
Este é um espaço multifacetado, de acordo com as horas dos dias, as sombras, os ruidos, os passos.
A escola é sempre um espaço em mutação, perde pele a qualquer hora do dia, ou da noite.
Que perpapassa pela cabeça destas pessoas que abandonaram a escola dizendo dela cobras e lagartos e agora por aqui andam à espera de qualificações, de promoções, de ambições?.
Que contributo podem elas dar aos rapazes e raparigas que a frequentam durante o dia e que nela não se reconhecem?
Enfim, ideias de uma espera.

Inconformismo

Na ausência forçada a que fui sujeito, duas observações.
A primeira sobre a insistência de dizerem que tenho uma visão pessimista da escola. Não reconheço, mas aceito, o comentário. Considero que tenho uma visão inconformista da escola. Considero que podemos e devemos ir mais longe, fazer mais e melhor. Posso não destacar o que de bonito há e se faz na escola, talvez. Mas é um olhar sobre a escola e sobre os aspectos e assuntos que gostaria, eventualmente, de ver alterados.
Segundo, apenas para carpir a minha mágoa de ter perdido muita e alguma fundamental informação. Foi um disco que se foi. Contactos de amigos, colegas e conhecidos, textos diversos eventualmente base para uma tese (um dia, quem sabe). Notas soltas de um trabalho de pesquisa, enfim, era uma vez um disco.
Resultado, partir para outra, reformular textos, reconsiderar hipóteses, reconstruir projectos, avançar.

terça-feira, janeiro 13

de passagem

Não é, por enquanto e infelizmente, um regresso. Continuo sem máquina e sem acesso a um acesso de geito, razoável, que me permita retirar o rendimento que gosto e que preciso. Este acesso, da "minha" escola é lento, mediocre, a máquina fica-lhe ainda mais atrás. As TIC nesta escola, como em muitas outras, estou certo, neste assunto como noutros, carecem de uma estratégia, de uma linha de rumo, de um sentido de orientação.
Mas regresso, o gosto é demasiado, a saudade muita e a vontade de dizer alguma coisa inconformável e incontornável, mesmo perante algumas agruras.
Duas referências.
Não vi ninguém comentar a proposta de revisão da educação especial. Estou certo que muitos concordarão com a proposta, ainda que em sectores revista claros sinais de demagogia. Falo apenas do que ouvi, nas rádios e televisões, e li nos jornais. A redução do número de alunos (de 20 para 18) é demagógica. Suficiente para trabalhar com alunos que apresentam deficiências leves, claramente escassa para níveis de deficiência profundo.
Sou a favor da integração dos alunos deficientes na escola. Como sou a favor da criação de estruturas no seio da escola de apoio ao combate ao insucesso, absentismo e abandono, uma santíssima trindade que dá cabo de um país. MAs que resultado terá esta proposta quando chegar à secretária da senhora ministra das finanças e em em face da redução dos valores atribuídos à educação?, como vai o senhor ministro david justino apresentar e enquadrar estes elementos nos quadros de pessoal? que quadros de pessoal?, onde vai buscar o dinheiro que enquadre o pessoal?
algumas questões fundamentais a tratar atempadamente.
A segunda questão fica para depois, uma vez que me solicitam a máquina.

segunda-feira, janeiro 12

Ausência forçada

A minha máquina não aguentou a pedalada e pifou, gripou, deu o berro. Tal situação vai provocar uma ausência forçada, espero que não prolongada, deste espaço. Antes de me ausentar, só referir que já levo saudades.

sábado, janeiro 10

da Amizade

A escola é um espaço de pessoas, de relações de sentimentos e de modo quase que inevitável, de amizades. Algumas pontuais, umas por interesses, outras mais sustentáveis, outras tão longas quanto o tempo que demoram a sustentar. Desde os alunos, crianças, aos professores passantes, a escola constrói uma imagem do outro, da amizade, das relações humanas, da sociabilidade.
Porque sou docente do ensino básico e secundário, quando lecciono 7º anos, costumo dizer aos miúdos que ali começa a vida. Ali irão descobrir o mundo e descobrirem-se a eles mesmos. Tudo ali desponta, desde a mesquinhez, a intriga, o desfavor, mas também o amor, a amizade sincera, a tolerância, o companheirismo, a camaradagem, a saudade.
Provavelmente por causa disto e por valorizar a vida tal como ela é, nunca recorri aos chats, aos mettings, a uma realidade virtual da qual, hoje, já todos ouvimos umas quantas histórias.
Resultado, ao vir para a blogosfera dou por mim a afirmar à boca cheia, que fiz novos amigos. Talvez ainda não saibam, mas certamente desconfiarão. A troca de ideias, a partilha de pontos de vista, a cumplicidade que existe na rede e na escola pode fomentar destas coisas. Mas reconheço-me surpreendido.
Não temos de ter todos a mesma opinião, nem defender os mesmos pontos de vista. É na diferença, na heterogeneidade que se encontra a complementaridade, por isso sou contra esta escola uniformizante, standardizada, sufocante.
Afinal, com tudo isto apenas pretende agradecer aos meus novos amigos.
Obrigado pela tolerância e pelo saber, obrigado por me ensinarem a ser melhor gente e melhor pessoa. Vocês são os culpados. Felicidades.

sexta-feira, janeiro 9

do secundário

O ensino secundário era, até há bem pouco tempo, isso mesmo, secundário, algo prescindível na vida e na formação de uma pessoa. A preocupação com os estudos de nível secundário é, queira-se ou não, bem recente, remontando, de modo consequente ao pós Abril de 1974. A sua aplicabilidade é-o ainda mais, isto é, a constituição de uma rede de oferta formativa e a procura de alunos tem pouco mais que 10 anos.
As notícias de hoje, sobre a reforma do secundário e a sua entrada em vigor, de modo progressivo, a partir do próximo ano lectivo, despertam em mim dois comentários.
Primeiro, qual o papel da escola (com destaque para professores e funcionários) e da comunidade (autarquia, outras entidades com responsabilidades políticas e formativas) nesta reforma? - de acordo com a notícia, apenas verbos de encher, será isso que pretendemos, que ambicionamos, ser funcionários operadores de objectivos e funções por outros desenhados;
Segundo, a preocupação, como já é notório em alguns artigos, recai na discussão do acessório, do umbigo, esquecendo-se o essencial das questões, isto é, qual o papel e quais os objectivos da escola em face da comunidade em que está e, perante esse papel e esses objectivos, qual o currículo e quais as disciplinas mais adequadas. Sem esta discussão, que deverá ter início na escola e abranger o maior número de participações possível e desejável, corre-se o risco de acentuarmos o pronto-a-vestir pedagógico e deixar de fora inúmera gente.

aleivosias

Na sequência da troca de posts, entre os diferentes blogues de educação que estão referenciados, há dois elementos que, em meu entender, é importante ter presente.
Em primeiro lugar, referir e sublinhar que pessoalmente não estou interessado em centrar excessivamente a conversa no ataque, na crítica, na desmontagem de ideias ou de pensamentos dos professores, muito menos em acusar professores do que quer que seja. O meu ataque, a minha análise e pretensa desmontagem ideológica e política vai no sentido das políticas deste governo, das barbaridades que se cometem com a educação deste país. A acusar algo ou alguém, acuso este governo de desgoverno na área da educação, acuso da falta de uma visão estratégica, da ausência de um sentido final do papel da escola na sociedade e na democracia, do papel dos professores na escola e na sociedade.
Daí não discutir reformas nem revisões da matéria, que mais não fazem que aprofundar o carácter ideológico do currículo e de condicionar o trabalho do docente.
Falta, e isso procuro discutir e partilhar, criar as condições que permitam definir um novo enquadramento organizacional ao trabalho docente e a criação de políticas educativas locais (escolares?, territorializadas?, municipalizadas?, regionais?, contratualizadas?, protocolarizadas?).
Para que esta construção local de políticas educativas seja possível é fundamental, no meu entendimento e e com recurso à blogosfera, discutir opiniões, trocar pontos de vista, partilhar ideias
Tudo o mais será e é garantidamente pertinente, interessante, fundamental, mas noutro espaço, noutros modos, com um outro enquadramento.

Segundo aspecto, decorrente de um post do Luís e que replico porque considero adequado ao contexto e me serviu para recentrar a discussão:

Que supremo prazer este dos blogues, sobretudo para poder exprimir, quando tal apetece, que nada existe de facto a dizer e para dizer (...) praticantes de aleivosias ao sabor do céu escuro e ainda mais opaco e mudo do que o fio incerto destas letras.

e disse. E disse bem.

quinta-feira, janeiro 8

da voz e das vozes

Finalmente começo-me a sentir em casa. Existe companhia, existem vontades, distantes, é verdade e é pena, mas existe companhia, existem, permita-se-me este meu pretensiosismo, amigos com quem partilhar e debater ideias. O Mocho, o Outro Olhar, Educação para a Saúde, o Educa Portugal, vieram animar as hostes, dar ânimo e esperança de longas conversas a este bloguista. Espero e faço votos para que mais apareçam, para que se alimente a fogueira das ideias e haja espaço e tempo para discutir a escola, a nossa escola.
As discussões atingem o nível que permite colocar em causa ideias, opiniões, conceitos e pré-conceitos. Permite-se, por intermédio do seu questionar, recolocar ideias, reconstruir opiniões, redefinir conceitos, redescobrir velhos caminhos, sentir, outra vez e sempre, a escola.
É disto que eu gosto, é esta escola que eu ambiciono, que promovo, a da crítica, a da disputa das ideias, não numa perspectiva de superação dos outros, nem do reducionismo ao que quer que seja. Mas a escola que tenha sentido para os alunos, para os professores, para os funcionários, para os pais e encarregados de educação. A escola que promova a formação cívica e crítica da pessoa, a construção de uma democracia participativa, onde a opinião seja respeitada, haja tolerância para com o outro e a vitória seja daquele em que se reconhece a melhor das utopias.
Estou nesta guerra dos blogues desde Julho do ano passado, muito tenho eu batido no teclado, clamado por vozes e mais vozes. Não se vão embora. Juntemo-nos, utilizemos esta ferramenta e criemos ideias, sentidos para a escola, ideias de escola que possamos partilhar.
Sinto aqui na blogosfera aquilo que é comum sentir na escola, a de um permanente arranque, um recomeçar constante, que desgasta energias e nos consome o ânimo, é certo, mas que permite um eterno repensar da profissão. Se não existir capacidade crítica, encarada sob uma perspectiva analítica, não conseguiremos valorizar o que de bom existe, nem o que de bom se faz na escola. Se existem boas práticas?, bons profissionais?, boas ideias?, disso nunca duvidei. Se assim não fosse, a escola não teria resistido tanto tempo.
Com tudo isto, com a minha impertinência e alguma, muita paixão, quero apenas e nas palavras do Real Colégio, “ressuscitar o atrevimento dos criadores. Nos olhares, nas dúvidas, na aplicação das pequenas pessoas que ali querem aprender, assisto maravilhado a esse renascer.”

Um claro e objectivo esclarecimento.
Não sou contra os professores. Não posso ser contra mim, sou professor dos ensinos básico e secundário, ficar-me-ia mal esse sentimento algo autofágico. Também não sou defensor da contenção das palavras quando o meu objectivo, ainda que possa não parecer, é a de debater e discutir a escola que queremos. Não procuro fulanizar estas questões, ainda que possa, em muitos casos, existir essa tentação. Fulanizar não com pessoas, mas com grupos sociais, profissionais. Como diz o Miguel, a culpa não pode morrer solteira, pois é bem verdade. Mas eu não estou preocupado com culpados. Eu estou preocupado é com o futuro.

da crítica e dos professores

Como (ir)responsável por este blogue em que a escola e a educação básica e secundária são o tema central, não posso deixar passar em branco o desafio e o espicaçar de um sentimento que o Mocho coloca.
Apesar de dar a entender que acuso os professores, que sou contra os professores, penso exactamente o contrário, não culpo apenas os professores pelo estado em que está a escola ou em que estamos nós docentes, mas que temos grande cota parte de responsabilidade, disso ninguém nos livra.
Somos responsáveis por não assumirmos uma postura profissional que respeite a formação comum e, antes, procuremos acentuar a descriminação pela arrogância e desplante da balcanização pedagógica ou científica, pela pretensa diferenciação que se procura efectuar em face do nível de ensino que se lecciona, pela arrogância com que muitos exercem a sua profissão, com lampejos de classe superior, pela falta de humildade que muitos carregam em duas pernas.
Já não apenas os docentes, também o ministério, também as universidades pela falta de formação que temos e que quando nos é proporcionada visa o interesse de quem a promove e não de quem a recebe, que se adequa aos centros de formação e não às escolas em contexto, pelas leituras que não fazemos porque a teoria não nos interessa e não nos dá soluções, pela funcionalização da profissão docente, pela quase fé que muitos colocam na sua prática lectiva, como se nada mais restasse para além da fé.
Mas não somos os únicos responsáveis. Tem interessado manter este estado de situação a muita gente. Aos ministérios e aos ministros, aos políticos e aos governantes, aos sindicatos, às associações de classe ou profissionais em que com uma classe docente dividida é mais fácil reinar, mais fácil obter aquilo que se pretende.
Mas há, reconheço isso desde sempre, muitos e bons exemplos, gratas recordações, boas práticas, inumeras vontades de fazer mais e melhor, de não nos calarmos, de fazer sentir sentimentos, vozes, anseios. De nunca culpabilizar o sistema, de se contentarem com pouco e de com o pouco que têm fazerem muito, darem muito, proporcionarem o milagre da multiplicação.
Com estes exemplos só temos a aprender, com estes exemplos quero eu aprender a ser gente e profissional. Crítico é os maus exemplos. Sei que uma árvore não faz a floresta nem nos permite retirar uma ilação correcta. Mas é o ponto de vista, uma opinião da qual sou assumidamente responsável e culpado.
Uma atitude que defendo aqui, neste blogue, como na escola, na sala de professores, nos conselhos de turma, nas instâncias sindicais ou políticas em que tenha oportunidade de participar ou aceder, em casa, em tertúlias de colegas de profissão ou não.
Pretendo colaborar na construção de um sentido para a escola, na formação de uma ideia de escola que inclua a dinamização da região, da sociedade da democracia.

Imperdíveis

Nesta blogosfera, neste espaço de mundovidências, ideias e ideais, vontades e sonhos, há um conjunto de blogues que procuro acompanhar quotidianamente. Ainda que alguns estejam, pontualmente, sem actualização, sem acrescentos, não deixo, várias vezes ao dia, de por lá passar.
São vários e, dentro em breve, irei alterar a coluna das ligações fixas para evidenciar aquele conjunto que considero imperdível.
Sem qualquer ordem ou sentido hierárquico, refiro, entre eles o VIVAZ, O Miniscente, o Sexo dos Anjos, O Mocho, Outro Olhar, o Retorta.
Mas este post vem a propósito de dois deles, o Sexo dos Anjos e do VivaZ.
Do primeiro já há algum tempo que ando para trocar ideias, opiniões. Primeiro pelo seu claroo sentido histórico, pelo domínio de uma cultura clássica hoje em clara desaceleração e perda de protagonismo. Assumir este conjunto de ideias e de posições, ainda que pessoalmente não concorde com muitas delas e possam existir divergências em algumas, faz com que o olhe de modo sério, coerente e essencialmente atento, e não perca pitada da sua escrita.
Já antes o referi, não tenho, penso eu de que..., o privilégio de conhecer este meu conterrâneo. Pode ser que por intermédio desta rede e desta metodologia possamos trocar ideias, convermo-nos mais das nossas posições, das nossas opiniões.
Vale a pena e recomenda-se.
O outro, que é causa e justificação deste post, é o meu carissímo colega e amigo, tenho pena que ainda não possamos ser mais cumplíces, Mário Simões. Foi ele, juntamente com a Patrícia, um dos instigadores deste espaço. Procurávamos, à falta de oportunidade para nos juntarmos, trocar ideias, desenvolver opiniões, fomentar a amizade e o repseito que aprendemos a assumir um pelo outro. Apesar do claro mau feitio que caracteriza a minha pessoa. Mas ele aguenta-se.
Estes elementos, aos quais se deverão acrescentar outros, são a prova provada, se me é permitida a redundância, que existe massa crítica, pessoas com ideias, vontades de por em prática sonhos.
Não são, nem de perto nem de longe, a ponta de qualquer icebergue, são, antes, apenas e somente duas gotas de água, deste imenso oceano interior chamado Alentejo.
Sem eles não posso passar e terei muita pena quando este espaço de alterar, se modificar.

quarta-feira, janeiro 7

Com os pais

As relações entre professores (escola de um modo geral) e os pais/encarregados de educação não tem sido, nos últimos tempos, pacífica. Exemplo disso basta ler a blogonovela do blogue Educa Portugal. Lá se pode encontrar grande parte da fricção entre professores e pais com alunos de permeio.
Contudo, não considero que tenha de ser forçosa e obrigatoriamente assim, e sempre tive boas e fartas razões para assim pensar e, mais importante, assim agir.
Terminei há pouco a reunião com os pais encarregados de educação da turma da qual sou director de turma. Gente humilde, pobre, no pleno sentido que a senhora ministra das finanças dará à palavra, daqueles que nada recebem do Estado Providência. Alguns, poucos, com alguma formação, isto é, atingiram, no seu tempo de escola, o 6º ou 7º ano. Poucos daí passaram. Pessoas na casa dos 30 ou dos 40 e poucos anos analfabetas, pouco, muito pouco mais sabem do que assinar o seu nome e folhear um ou outro jornal. De meio rural, ainda que próximos da cidade, com uma cultura marcadamente agricola, artesanal.
Depositam ainda algumas esperanças em que a escola possa, consiga mudar os desencantos do(a)s seu(a)s filho(a)s, do(a)s seu(a)s educando(a)s, que consigam, com os estudos, melhorar um pouco a sua condição de vida. Em 18 alunos de uma turma com sérios problemas de comportamento (quanto sérios podem ser os problemas de desinteresse, alheamento, indiferença e desconsideração pela escola) e de aproveitamento (resultado ou consequência do anterior?), apareceram 14 pais/encarregados de educação.
Falámos da turma, do que se tenciona fazer na tentativa de melhorar resultados, pedi-lhes o contributo e a colaboração, para não deixar tudo à escola, para exigirem também eles dos seus filhos/educandos. Exigirem respeito, tolerância, paciência, compreensão. Rigor.
Trocámos ideias e palavras e, no meio das palavras que não saíam por falta de vocabulário, na simplicidade das intenções e das vontades, pergunta uma mãe se a escola não devia ter outros técnicos capazes de ajudar professores e pais na resolução de problema, na ultrapassagem de obstáculos na superação de dificuldades. É que uns e outros estão limitados nas suas capacidades, nas suas disponibilidades, nos seus conhecimentos, outros, com outros conhecimentos seriam certamente úteis para formarmos esta geração, para nos ajudarmos, para fazermos melhor aquilo que todos pretendemos, formar pessoas. Na minha condição actualmente de docente do batente, da prática lectiva, da sala de aula, não tenho referência em como está, ou não está, estruturada a rede de psicologia e orientação escolar. Mas nesta "minha" escola nota-se a sua carência, a importância que seria ter mais um conjunto de cabeças a pensar sobre o mesmo, a considerar outros pontos de vista, a inventariar outras propostas.
Há, é determinante, necessidade de definir outros arranjos organizacionais à escola, com capacidade de responder à diversidade, à heterogeneidade, à pluralidade. Arranjos que considerem outras formas de organizar o trabalho, outras realidades profissionais importantes na escola e para a formação das pessoas.
O tempo em que o professor, voluntarioso ou curioso, fazia um pouco de tudo e de tudo tomava conta, por muitos que não queiram, já foi chão que deu uvas.

da cidadania

A escola pública portuguesa deve ser um dos suportes basilares da formação de uma consciência de cidadania e da construção da democracia participativa. Isto fica bem e bonito, particularmente quando escrito e melhor soa quando se diz em voz alta. Geralmente todos concordam e acenam afirmativamente com a cabeça.
Acabei há pouco de redigir um texto que consiste num projecto de intenções para a "minha" escola que tem como pressuposto esta mesma consideração, a da escola ser uma espaço de exercício da cidadania.
Não há espaço nem tempo para as actividades extracurriculares da escola, uma vez que todas as acções desenvolvidas em contexto educativo, portanto também fora da escola, são curriculares e concorrem para um dado currículo, expresso ou oculto, de momento não interessa. Esta afirmação, ou a ideia que se lhe encontra subjacente, não é minha, não recordo quem a proferiu ou escreveu, mas concordo inteiramente com ela.
Parte-se de um dado problema, de um contexto específico que se procura contrariar, uma situação mais indelicada, diria eu, em o que pretende desenvolver mais não é que uma sensibilização para outros papeis que a escola tem e assume mas que habitualmente não são nem os mais valorizados nem os mais vistos.
A ver vamos como correrá, primeiro, a sua assunção pela escola, coisa que não se afigura muito pacífica neste momento, depois como será a receptividade dos alunos para acções fora do tradicional da escola mas que se afiguram como determinantes na e para a sua formação.

Agenda oculta

Há dias o meu amigo e conterrâneo Luís Carmelo dissertou sobre o fenómeno da agenda noticiosa.
Afirmava ele que esta agenda "serve para nos delimitar, com alguma precisão, as coisas em que devemos pensar e as coisas que devemos ouvir e ver (os chamados "conteúdos"). No fundo, a "agenda" resume-se a um conjunto de instruções que tende a edificar um mundo fechado sobre si próprio e que conteria em si todas as referências possíveis do nosso discorrer."
Ontem, ao ver as imagens em catadupa que assinalam o terceiro aniversário da SIC Notícias dou comigo a pensar na obrigatoriedade assumida pelo telespectador na assunção de uma agenda noticiosa. Como o mundo, os factos, os acontecimentos, as pessoas, os sentimentos se volatilizam, se desvanecem no escoar dos telejornais, dessa agenda noticiosa. Como é feita uma opinião publicada que condiciona um olhar, uma perspectiva, a nossa, perante o outro, perante a sociedade e a política, perante o mundo.
No comentário ali colocado regressa, nesta forma mediática, um elemento que já fez carreira na escola, a do currículo/agenda oculto. Entre o que nos oferecem, de modo directo, aquilo que pretensamente nos é imposto e aquilo que de modo subliminar nos é exigido. Entre a agenda e o currículo ocultos venha o diabo e escolha. Estou convencido que, perante um e outro, apenas o aprofundar do pensamento crítico, a adopção da desconstrução do dado pode contrariar a passividade e a formação de sujeitos homogéneos. Na escola apenas se pode alcançar, em face da idade e da formação dos jovens, pela diversidade de opiniões, pela pluralidade de ideias, pelo debate de opiniões, isto é, se a escola se assumir como um espaço de formação da cidadania.

Nevoeiro

Da janela do meu espaço e para o exterior pouco se vê. Talvez, e na esperança desencantada, de recordar D. Sebastião, a saudade.
Partiu uma amiga, com quem partilhei confidências e amizades, que me ensinou um pouco mais da vida. Partiu depois do Natal. Deixou as saudades.
Adeus.

terça-feira, janeiro 6

da Tecnologia

Referenciei há dias um novo blogue da área da educação que tem como tema central as tecnologias da informação e da comunicação, vulgo TIC.
"De facto, a utilização dos meios informáticos, constitui uma das mais evidentes marcas das sociedades actuais." esta afirmação é de retirada (infelizmente padece do mesmo mal de muitos, a pouca actualização, que faz com que passemos ao lado, frustrados pela inactividade, e eu é que sou alentejano).
Isto a propósito de ter pensado e estruturado efectivamente, um conjunto de aulas em que o powerpoint é uma base de trabalho, sem grandes ambições, assumo, apenas (mais) uma tentativa de captar as atenções, jogar com o hipertexto em offline, com a imagem e o texto em plena integração e articulação. Hoje fui requisitar o material, com uma semana de antecedência. Impossível. Tenho que ser eu a levantá-lo e a instalá-lo no próprio dia, e como vou andar nestes procedimentos ao longo do dia e ao longo da semana?, não pode, porque o datashow faz falta, a quem? ao auditório, mas não há lá aulas nem estão previstas actividades para esse espaço, mas não se pode andar a circular com o equipamento, e como faço então para tentar captar a atenção de uma turma em que mais de metade dos seus elementos tiveram mais de 50% de níveis inferiores da 3 (falamos do ensino básico)?, articule com os docentes de informática para determinar da disponibilidade da sala. Felizmente apenas coincide a utilização dessa respectiva sala com os meus tempos lectivos num período. Das duas uma, ou a turma fica prejudicada, porque não apresento este recurso nas suas aulas, ou existe uma cedência, do docente que está a ocupar a sala de informática em que nesse tempo desloca a turma, ou de um outro docente em horário que a turma possa compatibilizar com a utilização da sala de informática.
Resultado a afirmação "A par do papel lúdico e exploratório, as novas tecnologias assumem uma função educativa e formativa proporcionando aos alunos, professores e escola novas e variadas formas de ensino/aprendizagem que apostam na utilização de metodologias participativas e activas" fica muito gira, mas não é na minha escola.

da formação

Ando a sentir a necessidade e alguma curiosidade, reconheço, de fazer uma formação que me permita obter alguns créditos para a progressão na carreira. Eu sei que ainda me faltam três anos (penso eu de que) para progredir na carreira e, como tal, fazer justiça à necessidade de créditos, mas, numa tentativa de juntar progressivamente os custos e as obrigações, tenho vontade de começar já a amealhar os necessários créditos.
Em face desta necessidade de quando em quando olho o placar onde se encontra a publicidade e a oferta relativa à formação de professores. O que vejo ali presentemente diz respeito à área da tecnologia, com a qual simpatizo. A oferta consiste em: Internet (noções básicas e avançadas), construir uma página na Internet com o FrontPage, Noções básicas e avançadas sobre o Word.
Que faço eu com isto??
Provavelmente, e vontade não me falta, terei de obter créditos em área que nada me diz, pessoal ou profissionalmente. Falta saber se depois me aceitariam, não vá acontecer comigo o mesmo que a um colega de Educação Visual, que foi recusado num curso de tapeçaria. Razão, ninguém acreditou que ele estivesse, efectivamente, interessado no curso. Mas estava.
Hoje, olho para a formação e vejo, do lado da oferta, apenas um mealheiro, uma forma de sustentar alguns centros de formação (universidades, escolas superiores e politécnicos incluídos) e alguns formadores em horas de complemento de horário (ainda que hajam bons centros de formação e boas iniciativas na área da formação continua de docentes).
Do lado da procura o que se vê consiste na necessidade de cumprir um ritual, sem chatear nem incomodar muito, apenas o q.b. para, eventualmente, despertar algumas sensibilidades, alguns gostos e as inevitáveis modas e os intragáveis modismos pedagógico-docentes.
Não sinto uma adequação entre as necessidades dos docentes e a oferta disponibilizada, não quero com isto dizer que não existam casos de compatibilidade. Como não determino um levantamento sistemático, coerente e sustentável sobre as necessidades que os órgãos de gestão determinam no seu quadro de pessoal, em face do projecto educativo ou dos projectos existentes, das orientações de médio/longo prazo da escola.
Também, quem se importa com uma coisa como esta???

Invisibilidade

Esta manhã, ao chegar à sala de professores, dou de caras com um jovem na casa dos 20 anos, barba mal feita, ou por fazer de um ou dois dias, magro, estatura mediana, na casa do 1.70m, cabelo muito curto e negro, tez escura e olhos castanhos, a minha curiosidade foi directa à questão, ao olhar para ele e perguntar "novo professor?", uma vez que alguns professores, em horário de substituição de colegas, apareceram sem qualquer informação por parte do Conselho Executivo, não seria de estranhar se fosse mais um dos casos.
Mas não. É um jovem estudante israelita, em intercâmbio escolar com uma Universidade de Telavive. Neste intercâmbio permite-se a sua circulação por escolas portuguesas, para vendas de arte, angariação de fundos que sustentem a sua estadia no nosso país.
Na pequena conversa que com ele estabeleci, a partir de um ideia feita - a de que Israel é uma zona quente - fiquei a saber que se estava a sentir invisível. Desde as 09h00 que ali estava, eram 10h30, e ninguém lhe tinha dirigido o olhar, quanto mais uma palavra ou, muito menos, estabelecido qualquer conversa. Nem por curiosidade, como foi o meu caso, nada.
Há que reconhecer que este não é um comportamento típico da escola portuguesa, mas é da escola em que estou. Por isso me sinto algo incomodado, como se ali estivesse a mais, a incomodar. Foi este o tema que mais o preocupou, que o atormentava. Logo a seguir foi embora.
Soube também que, no intercâmbio, podia escolher entre dois países de destino, Portugal ou Inglaterra. Optou por Portugal pelo desconhecido, pelo eventual tipicismo (ou exotismo?) que esperava encontrar. E, diz, que encontrou, não se sente arrepende. Será que nós nos arrependemos deste país?

da colaboração

O blogue Outro Olhar traz à cena um tema que me é muito caro, o da colaboração e colegialidade, por intermédio de um texto já algo antiguinho de Hargreaves, mas que ainda não perdeu a sua actualidade e pertinência.
É um tema, um assunto perante o qual tento desenvolver algum trabalho que me permita compreender o funcionamento da escola, a organização (formal e informal) do trabalho docente, as suas repercussões e impactos nas expectativas profissionais, na concretização de objectivos pedagógicos e curriculares, no reforço das autonomias educativas.
A questão que tenho levantado, a partir destes textos e de outros, nomeadamente e ainda Hargreaves (1991), M. Apple ou o português J. Lima., é a de qual a forma e as condições (factores?)organizacionais que se podem desenhar para promover o trabalho colaborativo.
Este trabalho procuro encara-lo não na área da cultura, ainda que seja determinante, mas sobre uma valorização organizacional escolar, enquanto formas que se podem determinar para organizar os espaços e tempos da escola de modo diferente e diferenciado, de acordo com objectivos, interesses, prioridades, estratégias, entre outros.
Faço votos para que consiga trocar ideias e opiniões sobre esta temática. Estou certo que sairemos todos mais ricos e com a clara possibilidade de, não inventando a roda, criar alternativas ao modelo (que contesto) da escola actual.

Dores de crescimento

Pelo zaping que faço pelos blogues imperdíveis, definitivos e aleatórios, dou, nesta altura, com duas situações.
Primeira, um quase desaparecimento dos mais antigos, aqueles que lançaram ideias, provocações, solicitações e que foram, para o bem e para o mal, algo responsáveis pelo despontar desta ideia. Dentro deste desaparecimento é também de referenciar alguma reconversão, nomeadamente para plataformas nacionais (para o Sapo, predominante neste momento), com novas funcionalidades, novos desafios.
A segunda situação encontrada diz respeito a dois momentos diferenciados. Na área da educação o aparecimento de áreas mais específicas - como foram o caso do projecto educativo, da escola cultural, das tecnologias da informação, disciplinar, entre outras - (ganha-se em face do pormenor e do nível de contextualização, da ideia, perde-se pela capacidade de discussão, uma vez que o tema é demasiadamente restrito, fechado, para ser passível de uma conversa aberta, de troca de ideias e de opiniões). A segunda circunstância refere-se ao nível das conversas, particularmente evidente nesta plataforma nacional onde os comentários apelativos ao voeurismo são evidentes. É, pode-se dizer, uma estratégia, é certo, mas perde-se pela capacidade de discussão, parece que as pessoas estão mais interessadas em falar sozinhas, não importando do que falam ou se as ouvem e, muito menos, em obter qualquer tipo de feedback.
Faz parte do crescimento é certo, mas precisamos de alargar horizontes. Esta área é também uma constatação com a qual me tenho confrontado. Mesmo perante pessoas que utilizam quotidiana e regulamente a Net os blogues passam ao lado da generalidade das pessoas. Por desconhecimento? desinteresse?, fastio pela pulverização de ideias e blogues?. Dores de crescimento, provavelmente.

segunda-feira, janeiro 5

Novidades e especialização

Era inevitável que com o passar dos dias e dos acontecimentos surgissem novos blogues, novas e diferentes ideias, novas e diferentes formas e perspectivas de olhar a escola.
Cá está mais uma, por intermédio de uma ferramenta que muitas vezes é encarada como um fim em si mesma, as tecnologias da informação e da comunicação.
É um outro olhar, são outras perpsectivas de encarar o trabalho da e na escola.
Longa e próspera vida com muitas e muitas actualizações.
Fica o link residente.

Afirmações

Algumas para nunca nos esquecermos delas, outras para relembrar que a culpa não é solteira e que não deverão ser sempre os mesmos a pagar por aquilo que outros não fazem.
Isto a propósito do novo artigo em exposição no Real Colégio. Há diferenças entre nós, claras e assumidas, sejam elas políticas ou pedagógicas, culturais ou simplesmente regionais. Mas sempre me interessou realçar, perante a escola, aquilo que nos une, a força das ideias, ainda que diferentes. Neste sentido não posso deixar de transcrever duas frases, lapidares, de longa experiência feitas:

Primeira, sobre a ignorância que grassa no sistema, em que habitualmente são os da frente a apontar os de trás, agora apontam-se também os da frente, de quem é a culpa: "Em primeiro lugar, das universidades onde verdadeiros anacronismos pedagógicos e científicos continuam a medrar na pessoa de mandarins e de outras nulidades inamovíveis. Da filosofia do chamado "sistema educativo", um enorme calhau a rolar penosamente por uma encosta acidentada onde se cuida apenas de desimpedir a descida e, ao mesmo tempo, de evitar a queda vertiginosa."

Segundo, um hino que muitas das vezes esquecemos ou não queremos ver, é bom senso, apenas, revestido com algum saber: "Estou-me nas tintas para os paradigmas e para as revoluções científicas, para o Khun e o Lacatos, o que eu quero é vida."

E a escola é vida, sentimentos e paixões. Amores e rancores. Arte e ideias, ideologia e apologia da vida. Belo texto a merecer ser lido com calma alentejana, com paixão educativa, com sentimento de professor. Creia em mim um amigo. Obrigado pelo belo texto.

domingo, janeiro 4

Benfica que mal nos fica

É verdade, sou do Benfica e não tenho nem pena, nem vergonha. Mesmo em dias como os de hoje. Não sou daqueles que me refugio na incompetência ou perseguição dos árbitos, nem daqueles que digo que é a sorte.
Como Camacho referiu, o Benfica, de há uns anos a esta parte, quando enfrenta os do seu tamanho, ou aqueles que procuram dar um pouco de luta, treme que nem varas verdes, falha num hora onde falhar significa a morte.
Como sempre defendi que o problema deste clube não são os treinadores, já por lá passaram os que de melhor por cá temos e mais alguns que importámos. Talvez de organização, talvez de empresários e de dirigentes, certamente. Somos um dos clubes mais democráticos deste país à beira mar plantado. Sempre que existem eleições existem dois, três candidatos. Já os viram no Sporting ou no Porto??, mas a democracia dá-se mal com os resultados desportivos.
Um vez mais, logo após o Natal, ficamos apeados da corrida. Resta-nos dizer, como outros já disseram, é pró ano. Será????

em debate

Nunca acreditei que estivesse sozinho e, como tal, muito bem acompanhado. Sempre quis e quero acreditar que existem mais vozes e mais vontades de participar num debate alargado sobre a escola e sobre a nossa educação, e mais importante que tudo isto que temos, sobre a escola e a educação que queremos ter.
Neste sentido, sinto-me reconfortado quando o nível de discussão tem tendência a subir e os ruídos marginais a descer.
Tudo isto a propósito do desafio e do debate que Miguel Pinto lança no seu "Outro olhar".
Como é bom determinar que os comentários que ali se colocam são também apelativos de um debate e das ideias que se pretendem construir. E concordo com o comentário ali feito, não pelas razões ali expressas. Há um sentimento que, provavelmente interessará a muitos, sobre uma pretensa crise da escola. Como concordo que hoje a escola é melhor e mais adequada do que no tempo em que eu por lá andei. Não me alongarei muito, pois o princípio que advogo nos blogues é o do curto e grosso, mas já me passou pela ideia a possibilidade dos bloguistas da educação se juntarem um dia, quem sabe.

sábado, janeiro 3

Modelos

Encontrei um conjunto de mensagens na minha caixa de correio em que me questionam sobre qual a minha objecção ao modelo da escola cultural. Não foi o autor dos blogues que estão referenciados e que fazem a defesa da escola cultural. Perguntam-me se a minha renitência a esse modelo assenta no facto de o seu ideólogo ser do PSD.
Nada disso e passo a esclarecer.
A minha renitência a este, ou a qualquer outro modelo pedagógico, assenta exactamente na consideração de um modelo, que existe um modelo capaz de resolver os problemas da escola, dos professores, dos alunos, dos pais e encarregados de educação, dos funcionários e auxiliares, entre outros. Que se adoptada uma determinada configuração modelar conseguimos uma escola de sucesso, uma escola onde todos se reconheçam e se sintam integrados independentemente de defender a escola cultural ou qualquer outro atributo.
Pelo contrário, sou claramente a favor da inexistência de qualquer pretenso modelo, optando pela capacidade dos actores e protagonistas da escola, em face dos mecanismos de participação que desenharem, a definir uma dado sentido organizacional e estratégico à escola que têm e à escola que querem.
Isto é, não considero que exista um modelo, mas tantos quantos os actores, os intervenientes, as pessoas que se encontram envolvidas e enleadas num dado processo pedagógico.
Ainda que se possam aproveitar determinado pontos de vista, atitudes ou princípios eles terão obrigatoriamente de ser contextualizados a uma dado ambiente, aos protagonistas e às capacidades que entre eles desenharem na e para a negociação.
Eu sei que muitos não gostam ou não simpatizam com estas palavras. Mas há que reconhecer que são um dado em qualquer relação humana. Relacionamo-nos em face de um qualquer interesse e na disputa dos equilíbrios que nos permitam alcançar os objectivos (pessoais e individuais ou colectivos).
Por isso a minha oposição aos modelos, e não particularmente ao da escola cultural.

A sala de aula

Numa tertúlia de professores, um daqueles momentos em que se aproveita o colectivo para dizer mal de tudo e de todos, independentemente do ministro e do governo, das políticas ou das opções ideológicas ou pedagógicas, um colega, perante a constatação que este governo adiou quase tudo sem ter decidido nada, referiu que perante a desorientação geral o professor prefere o conforto e a segurança da sua sala de aula. É um regresso à sala de aula, espaço privilegiado da individualização do ensino, do quasí segredo das opções pedagógicas, metodológicas, das estratégias e das negociações com a turma.
É um espaço em que, por muito que chova ou faça sol lá fora, independentemente dos ruídos ou da poeira exterior, o professor se refugia. Porta fechada, segurança instalada. Venham lá modas ou receitas, sejam pedagógicas ou técnicas, venham lá vozes ou gritarias, aqui impera a minha democracia, aquela em que eu mando, aquela em que a lei é a do mais velho ou do mais graduado (nem sempre é o mais forte).
Bem vistas as coisas é um facto. Não há reforma que resista se não mexer na organização dos espaços e dos tempos lectivos, no modo organizacional da escola (tempos lectivos, trabalho docente e discente). Ao adiar a implementação da revisão curricular do ensino secundário, sem contrapor qualquer outra medida, mais não se fez que apelar ao regresso à sala de aula. Ao exigir o aproveitamento dos alunos em escolaridade básica obrigatória e com a introdução de novas áreas curriculares sem existir uma clarificação dos seus objectivos e das suas funções, nomeadamente nas áreas de projecto, estudo acompanhado, formação cívica, definem-se metodologias de disciplinarizar essas áreas que eram curriculares e que os alunos (e os professores) tratam como disciplinas.
O regresso à sala de aula é também o regresso às atitudes mais bafientas de uma direita que venera as funções básicas da escola - ensinar a ler, escrever e contar e preparar para o mundo do trabalho industrial e acéfalo - e omite os desafios do conhecimento, da informação, do debate de ideias, da capacidade crítica, da defesa de um sentido estético da sociedade, da defesa de uma deontologia humana e pessoal. Ainda que este discurso se possa, de quando-em-quando, revestir de uma nova roupagem, com acesso à figura das TIC, da Internet.
Em princípio de século é esta a escola que este governo está a construir. Uma escola assente na defesa de valores e princípios que já nos inícios do século XX muitos, em Portugal, contestavam.

sexta-feira, janeiro 2

Capacidade técnica - não se precisa

Estive, durante a tarde, com um colega docente que há já alguns anos empresta os seus serviços à direcção executiva de uma escola cá do burgo.
saber de longa experiência feito, não resiste, de quando em quando, a resvalar para uma ideia feita ideologia pelo senhor, também ele professor, Cavaco Silva, a de que é necessária competência técnica para o exercício de cargos políticos. Atenção é que quando se fala de competência técnica estamos a falar do profundo conhecimento dos dossiers, da formação de algumas competências ao nível das práticas, mas, sobretudo, de capacidade pragmática, dada pelo intenso e pretenso conhecimento da realidade com que se lida.
Resultado, misturamos racionalidades técnicas e políticas e mais não fazemos que trazer à superfície aquela maravilhosa série do "Sim, senhor primeiro-ministro".
Afinal, quem define as opções políticas?, os políticos os técnicos?, será que queremos pôr os técnicos a decidir sobre questões políticas?, então, nesse caso, não estaremos a inverter os papéis e a trocar racionalidades?
É uma questão delicada que apenas deixo à consideração. Tão delicada que sou claro na sua assunção, isto é, considero que não se tem que ser médico para se ser ministro da saúde, como não se tem de ser engenheiro (ou construtor civil, ou empreiteiro) para se ser ministro das obras públicas, como não se tem que ser professor dos ensinos básico e secundário para se ser ministro da educação. Se fosse, então qual a formação inicial e continua de um primeiro ministro??
Tem isso sim, que se ter capacidade e competência para dirigir uma equipa, defender opções e ideias, implementar práticas e definir caminhos.
É isto mesmo que neste momento não temos...

Mais gente

Mais escola, é uma associação quase directa que pode e deverá ser feita. Progressivamente vamos dando conta de todos quantos defendem uma escola inclusiva, heterogénea, diferenciada, plural, crítica e participativa.
Sempre defendi que a pobreza de espírito decorre, muitas vezes, do isolamento a que nos obrigam ou em que nos refugiamos. Uma das eventuais estratégias de ultrapassar esse isolamento, esse refúgio, essas falsas sensações de segurança é podermos conhecer novos mundos, novas pessoas, com eles e com elas aprender, sempre, a discutir e partilhar ideias, a conhecer outros pontos de vistas.
Para evitar esse isolamento, para partilhar ideias e opiniões, para podermos arranjar mais instrumentos e ferramentas que nos permitam construir uma ideia de escola, cá está mais um colega distinto. Como nome: arcanjo.
Bem-vinda, longa e frutuosa vida, com actualizações permanentes e discussões eternas.
Fica o link residente.
Vamos blogar.??

Escola Cultural ou a participação pela blogosfera

Ora aqui está um bom exemplo do que pode ser uma forma de envolvimento e de participação estimulada e definida por uma escola e que utiliza a blogosfera como palco.
Pena é não assumir, pelo menos por agora, a sua identificação, ainda que por algumas das características do texto se possa inferir de uma eventual proximidade regional.
Ainda que não procure ir ao fundo das questões ali abordadas não resisto à tentação de comentar duas ou três ideias que, em minha opinião, enformam o documento (não deixa de ser uma das formas de participação, ainda que distante e desconhecedora da realidade contextual onde a escola se insere e sem muitos dos pormenores que me permitiriam ir mais fundo, quer na análise quer nos comentários e opiniões que aqui deixo.)

Primeiro - a meio do documento surge uma afirmação com a qual concordo plenamente, que a formação mais não é que uma "passagem por instituições, que mais parecem ilhas sem ligações que permitam a comunicação." Da qual a escola faz parte. Apesar de conceber a reificação das instituições omite, pelo menos no imediato, a configuração de propostas que permitam ultrapassar esse isolamento, mas deixa subjacente que compete à escola alguma da centralidade no esbater das distâncias.
Segundo - o projecto educativo enforma, de acordo com o que me é dado a ler, da tradicional roupagem educativa deste tipo de documento. Razoavelmente bem elaborado, coerente q.b., fundamentado em orientações técnico didácticas e metodológicas, alguma pretensão de criar um espaço de orientação pedagógica. Mas pronto. Não define, pelo menos no que nos é dado a ler, objectivos viáveis, plausíveis, formas de trabalho pela qual a escola e os seus docentes possam optar, orientações políticas (ainda que a escola cultural seja uma escollha/opção política evidente). Reconhece que "a escola não se confina às aulas formais mas a todo um conjunto de actividades que se interligam em perfeita consonância" mas não aponta caminhos, não deixa sequer implícitas possíveis estratégias que permitam reforçar essas interligações ou os modos de as valorizar.
Denota-se, para terminar uma análise que assumo sintética e partindo de uma leitura em diagonal do texto, o carácter voluntarioso do documento, que parte da valorização de um conjunto de leituras, por ventura de alguma formação específica entretanto adquirida. Como denota ainda alguma fragilidade ideológica no sentido de o Projecto Educativo não reflectir nem apontar uma dada ideia de escola, concreta, com medidas, com objectivos, mensurável, com critérios de avaliação (internos e externos, endógenos e exógenos) metas onde uma comunidade pretenda chegar, como chegar, quando chegar.
Mas as hipóteses estão todas lá, neste palco que é a blogosfera e este é um passo determinante na abertura da escola e na aproximação dos espaços que são referenciados com ilhas. Esta é uma forma de deixarmos de ser uma ilha e podermos construir um continente.

de início

Um novo ano, na escola, significa voltar a envelhecer. Desde que lecciono, sempre tive esta dupla sensação de envelhecimento. Sinto uma dose de envelhecimento sempre que muda o ano, bem como quando se inicia um novo ano lectivo. Já dou algum desconto quando faço anos, já seriam vezes a mais.

quinta-feira, janeiro 1

Novo Ano

Este é o primeiro dia do resto das nossas vidas, assim diria o poeta cantor. E a vida continua. Velha, velhinha, como todos os dias. As mesmas desventuras, as mesmas aventuras. Não fiz desejos de mudar grande ou pequena coisa. Mais do mesmo, apenas paciência e que a idade me atribua o bom senso que o passar dos anos deveriam conceber às pessoas.
Terminamos a semana, começamos um novo ano. Os desafios são os mesmos de sempre. Apoiar a criação de uma escola à dimensão dos sonhos, das necessidades e das utopias de cada um.
É, assumo isso, um desafio. Daqueles em que gosto de me envolver. Um desafio com todo o ingrediente de utopia. Provavelmente sentir-me-ei assustado quando tiver de colocar em prática esta utopia, este desafio. Mas não desistirei, por este meio e em todos os pequenos e grandes espaços, de pregar no meu deserto, à procura de ideias, de companhia, que vai crescendo à medida que as linhas aumentam, de gente boa, que há muita, de vontades e utopias, em que também há alguns, de práticas que possamos partilhar, em que as escolas se manifestam.
Este é um espaço privilegiado de partilha de opinião, de comentar ideias e um quotidiano, é um espaço de pequenas estórias com alguma história.
Neste espaço, estas minhas crónicas da escola, apenas procurarei acentuar um ou dois aspectos.
Em primeiro lugar, reforçar a concepção de uma ideia de escola. Assente na partilha, na participação, na conjugação de esforços, na negociação de futuros.
Em segundo lugar, por aqui procurarei deixar expressas as vontades e as ideias de uma cultura de colaboração. Juntos conseguiremos mais, melhor e mais facilmente do que, isolada e individualmente, andarmos a pregar no deserto.
Não pretendo nem inventar a roda, nem voltar a dominar o fogo. Apenas acentuar o que de bom existe em todas as escolas, na minha escola, em todos os quotidianos, no meu quotidiano, nas companhias que temos, na delicadeza dos pormenores, na insignificância de um sorriso, na abertura de uma ideia, na tolerância de um novo ano.
Outra vez, um BOM ANO 2004.
São estes os meus votos para este espaço dedicado, integralmente, à escola. E este será, assim o espero, um reforço que procurarei fazer este ano. Até que os dedos me doam e o tempo e a minha vontade o permita.