quarta-feira, novembro 30

desadequação

Entre sábado e ontem, 3ª feira, marquei encontro em duas iniciativas organizadas na cidade de Évora que me merecem dois comentários.
Por um lado, o fervilhar de pequenos acontecimentos, pequenos factos que mobilizam gentes e mexem com um conjunto ainda significativo de pessoas. Sábado tive oportunidade de ver um conjunto de jovens, oriundo do grupo de teatro da escola secundária Gabriel Pereira, que, ao contrário do que se pensa e do que alguns dizem, mostram garras [os espanhois diriam ganas] de fazer coisas, de ocupar produtiva e culturalmente o seu tempo.
Gostei de os ver.
Ontem num seminário, organizado pela associação de jovens professores do alentejo que mostrou dinâmicas, vontade de mostrar trabalho e onde dois dos conferencistas, da extremadura espanhola, mostraram o que é fazer política, o que é procurar alternativas dentro das contrariedades, o que é procurar fazer um trabalho sério, sustentado e coerente. Gostei mesmo de ali ter estado.
Contudo ambas as situações foram atravessadas por uma certa, por vezes evidente, desadequação entre quem apresentava e quem ouvia.
Foi evidente esta desadequação, certo que as responsabilidades não poderão ser atribuídas a uns ou a outros. Será certamente um trabalho de organização procurar adequar os públicos à conversa, ou vice-versa. Todos ganhariamos.

segunda-feira, novembro 28

cruzamentos

Cruzo aqui dois apontamentos de ideias. Por um lado, o comentário que uma mãe, a Lurdes, deixou na minha anterior entrada. Por outro as barbaridades que se dizem sobre educação e veiculadas numa rádio local. Felizmente que neste caso não é acessível a todos o enxurrilho de palavrões que foram ditos sobre a escola e sobre a educação, com a agravante de alguns elementos se afirmarem conhecedores do que diziam.
Neste cruzamento uma referência assente numa constatação, nos últimos 30 anos tudo tem mudado, fruto da democracia e dos ventos europeus, tudo tem mudado, a organização do tempo e do trabalho, as acessibilidades (físicas ou imateriais, de circulação ou de comunicação), as concepções de nós e dos outros, os receios e as desventuras, etc.
Mesmo a escola tem mudado e muito - cresceu, massificou-se, revelou outras realidades, solicitou outros intervenientes, exigiu outras dimensões.
Mas entre a mudança de um e de outro sector a escola permanece quase que imutável na sua organização, assente ainda na concepção de ensinar a muitos como se de um só se tratasse.
É esta contradição (será paradoxo) da transformação da escola nas suas diferentes dimensões e a sua permanência organizacional que leva a mútiplas considerações sobre o seu papel, o seu protagonismo, a sua crise - à qual contraponho a ideia de perda de legitimidade.
É esta sensação e é esta evidência de perda de legitimidade que leva à constação das diferenças com outras realidades escolares e educativas, como é esta perda de legitimidade que leva muitos a dizerem barbaridades como aquelas que foram ditas em rádio local. Felizmente a rádio é local e não saem deste pequeno espaço as vergonhosas destidas sobre a escola e a educação.

quinta-feira, novembro 24

elites

Um amigo comentava, em regime off line, o meu texto anterior, referente à entrevista do prof. Jorge Araújo, com uma referência que considero de todo em todo pertinente, adequada e controversa.
Diz ele que a falta de elites nacionais, que, digo eu, por um lado ofuscada pelo brilhantismo verborativo de alguns fazedores de opinião, e pela clara incapacidade de alguns sectores político sociais penetrarem as retóricas mediáticas, tem sido um dos obstáculos ao desenvolvimento do país em geral, e da universidade portuguesa em particular.
Também eu digo que, por um lado terá razão. Há estudos suficentes sobre o papel das elites (sociais, intelectuais, culturais) no desenvolvimento do país e neste contexto não se justifica o carácter marcadamente opinativo deste meu apontamento;
Por outro os seus próprios argumentos enfermam de uma visão ainda restritiva da participação, da cidadania, da capacidade de alguns, poucos mas bons, puxarem pela nação, serem o farol os restantes.
Ora o que se assistiu recentemente em França é exactamente a afirmação que a defesa das ideias é de todos e todos procuram o seu espaço de afirmação, seja de ideias, seja político, seja pessoal.

do sol

Esta entrevista, do prof. Jorge Araújo como candidato à reitoria da UÉvora, é elucidativa de diferentes situações.
Tendo a clara consciência que é um discurso dirigido ao seu eleitorado, portanto predominantemente para consumo interno, não deixa de ser elucidativa do nível de desfazamento a que os senhores da universidade já chegaram.
Mantém-se o espírito iluminista de uma concepção solar da universidade. Dali irradia o saber, o conhecimento e a inteligência para aqueles que ainda vivem nas trevas, na escuridão, na opacidade da ignorância.
Como se todo o restante mundo, os outros espaços não fossem também eles espaços de aprendizagem e formação. Como se esse fosse exclusivo da universidade.
Não é e a manutenção desta concepção é claramente um dos factores de decrepititude do ensino superior;
Independemente da aparentemente assumida valorização do aluno (espera-se que do proceso de trabalho e ensino) é também algo evidente o desnorte que a universidade portuguesa se encontra relativamente a Bolonha. Faltam ideias, faltam sentidos, falta uma concepção de qual o novo papel e o outro protagonismo que a academia deverá assumir.
E esta universidade que em tempos foi reconhecida e assumida como uma escola agrária e, depois, com uma forte componente pedagógica (para o bom e para o mau, mas com um caminho e uma ideia relativamente clara do seu papel na região) encontra-se hoje numa aparenre encruzilhada de indefinições, onde os processos de investigação são desgarrados, onde não se percebe qual o foco/focalização dos processos nem de conteúdos/resultados, onde os departamentos estão umbilicalizados, ilhas onde a procura do sustento [competição, rivalidades] se sobrepoêm a um sentido do trabalho desenvolvido e do papel da universidade nesta região, que continua carente de formação, do aprofundamento de competências e conhecimentos.
pelo que me é dado observar ainda não será desta que a Universidade de Évora, elemento fundamental de afirmação regional, se desenvencilhará das teias que ela própria teceu.

gelo

Quando abri a porta de casa, esta manhã, não tinha ainda percebido o frio que estava. Quando entrei no carro e ligo o limpa-parabrisas, não tinha percebido que estava apenas congelado, cheio de gelo.
É a primeira vez este ano que me apercebo da descida das temperaturas.
O inverno instala-se, de mansinho, lentamente, obrigando aos aconchegos da lareira e aos prazeres das companhias familiares.

estatística

As sondagens disponibilizadas sobre as eleições presidenciais (as da antena 1 e as da TSF) são a prova provada que as sondagens valem o que valem, se é que valem.
Mas, pelo menos, têm o expressivo valor de permitirem perceber a construção que sobre elas e com elas se pode fazer do mesmo cenário e dos mesmos protagonistas.

quarta-feira, novembro 23

ao de leve

Não quero escrever sobre educação, mas em face da troca de argumentos faltosos entre o Bloco e Valter Lemos três apontamentos;
Até parece que as faltas de um justificam, legitimam o absentismo de outros. É óbvio que não e é óbvio que é incorrecta a argumentação;
Quase certo que há boa maneira americana de futuro para cargos políticos só santos, com asinhas e, se possível, auréola. É óbvio que é idiota, é óbvio que é demagógico.
Finalmente, trocam-se argumentos que mais não são que elementos colaterais numa discussão política onde escasseiam argumentos e sobra pobreza de atitudes, na tentativa de desviar o foco da questão, a construção local da escola e da educação e, nessa, qual o papel dos diferentes actores sociais (professores, pais, alunos, sindicatos, ministério, autarquia).

Ota

Foram ontem apresentados os estudos sobre a opção da Ota para a construção de um novo aeroporto. Não entro em pormenores técnicos nem na discussão se é necessário ou oportuno em face dos constrangimentos orçamentais - entre argumentos válidos e demagogia pura quase tudo parece valer.
Mas não deixo de opinar sobre dois aspectos que considero impertinentes.
Mantemos, para o bom e para o mau, a portuguesa tradição de primeiro dizer que não, de contrariar, de nos opormos, para depois, talvez, pensarmos que deveria ter sido sempre assim. Enmfim, será normal.
Defender o aeroporto de Lisboa onde ele presentemente está em virtude da vantagem comparativa de ter aviões a aterrar na segunda circular só é argumento nacional e só é argumento até ao momento em que um deles fique em cima de carros e casas. Aí certamente se defenderá que há muito se devia ter mudado a sua localização.
Portuguesises. Da qual faço parte.

contrastes

Provavelmente terá passado apenas pela simple curiosidade a contracapa da passada 2ª feira do jornal público. Entre a discussão do fim-de-semana sobre o comboio de alta velocidade, um dos temas da cimeira ibérica de Évora, o contraste com uma velha e poluente locomotiva que se arrasta entre Casa Branca e Évora na ligação diária de Lisboa Évora e vice versa.
É o contraste ainda não ultrapssado de um Portugal a diferentes tempos, a ritmos dessincronizados, a velocidades muito diferentes. É difícil compaginar muitas das ideias europeias, tecnologicamente correctas, com imagens que recordam outros tempos, a pacatez do passar dos dias, a saudade do futuro.
É neste dilema, entre o passado e o futuro, entre um e outro dos tempos, numa prega do tempo que nos encontramos, sem saber, ou sem perceber para onde nos virarmos, para onde podemos ou devemos ir.
Será que vamos a tempo de perceber?

quinta-feira, novembro 17

amizades

Podia - talvez devesse - responder em privado, guardar, como se fosse apenas para mim, uma amizade que fiz por estas bandas, as da blogosfera.
Mas não a quero guardar, quero dar conta dela e dizer, uma e outra vez, obrigado.
O Miguel incentiva-me, acredita em possibilidades que ue não sei se terei, em condições que, por vezes, eu próprio não descubro.
Não é apenas simpático, simpático é o outro. É mais que isso. Eu sei, reconheço e agradeço.
Obrigado Miguel.

manias

entretenho-me a ler uma revista. Passoas folhas devagar, uma atrás da outra, leio primeiro as gordas, faço uma rápida passagem de olhos pelo corpo da notícia.
No meio da leitura, do olhar as letras da revista, alguém me pergunta se leio a revista ao contrário.
É verdade, é uma mania minha feita de um hábito que eu já vi no meu pai, o de começar a leitura de uma revista, de um jornal, do fim para o princípio. Como se procurássemos trocar a importância das notícias, as voltas aos editores.
Manias.

quarta-feira, novembro 16

um desabafo

para que mais tarde possa ler e perceber (ou procurar perceber).
Regresso aos livros com um entusiasmo próprio de quem quer construir um objecto de estudo e desenhar um objectivo de investigação.
Condicionado pelas palavras sérias e ponderadas, frias e crueis de um orientador implacável mas correcto, (como é possível conjugar todas estas diferenças??), consigo perceber que escrevo melhor quando pressionado, que consigo organizar o trabalho quando me é imposto um contrato.
Como fico surpreendido (e assustado) pela tarefa e me questiono, serei capaz?, estarei eu ao alcance deste projecto? terei eu unhas para esta viola?
Estou na fase da descoberta, da contemplação, da admiração, entre o assustado e a vontade temerária de me fazer à fera e procurar provar, uma e outra vez mais, que serei capaz.
Serei mesmo??

regionalismos

em amena cavaqueira de almoço trocaram-se ideias sobre a regionalização.
Um (dois) traço em comum nos conversantes, serem socialistas e alentejanos.
Um traço também comum, a divergência de pontos de vistas, a dificuldade de consensualizar uma ideia, ainda que genérica, sobre o que é isto de regiões e qual o papel (será protagonismo?) que a actual divisão administrativa (distrital) consignaria num contexto regional.
Um outro traço comum, a assumida diferença entre os elementos eborenses (assumidamente todos regionalistas convictos, ou convencidos) e os elementos oriundos de Portalegre (disponíveis mas relutantes) e os de Beja (só com dois alentejos).
Em que ficamos. Provavelmente na mesma [como a lesma].

cópias

Não resisto em transcrever uma das palavras que o Ademar mais gosta. Não por ser alentejano e também, ainda, gostar de dormir. O prazer que senti nesta frase é mais sobre o que transparece, a relação entre o sono e a morte, um estar ausente (sem ser uma tautologia), um perfeito enlevo

DORMIR - É um verbo que acumula a sabedoria do tempo. As crianças e os adolescentes detestam-no. Os jovens aprendem, pouco a pouco, a conjugá-lo. Os adultos prestam-lhe tributo. É quando começamos a desaprender de DORMIR que regressamos à infância e começamos a preparar, interiormente, o "rendez-vous" com a morte. Há verbos que fazem parte de nós e nos desvendam o destino...

quinta-feira, novembro 10

ausências

tenho-me sentido (e estado) ausente deste espaço. Essencialmente por dois motivos.
Mantenho-me sem acesso caseiro à net e escrevo em múltiplos sítios e por múltiplas razões. Como resultado sobra pouco para este espaço.
Não regressei a uma escrita individual e intimista e isolada. Será mais uma aposta na escríta reflexiva sobre o meu quotidiano, as acções e projectos por onde me movo, sejam eles pessoais, profissionais ou políticos.
Para acrescentar mais banalidades deixo-me estar ausente.