quarta-feira, agosto 31

saudade

gosto de estar onde estou. Gosto de desafios.
Mas, depois de ler um mail recebido de uma colega, sinto saudades da escola, dos colegas, da correria, das angustias, das contrariedades, dos alunos.
Daqui a pouco até tenho saudades da sala e professores...

obviamente

sabemos que a escola reflete, de algum modo, a sua sociedade. Não direi que é um espelho, mas serve para nos admirarmos, sentirmos e exigirmos.
Aqui, na área da administração pública em que presentemente me encontro, encontrei a mesma surpresa que na escola, nomeadamente quando digo às pessoas que definam o seu percurso, que solicitem o meu apoio na construção de um percurso marcadamente individual mas feito no colectivo.
Não sei se me faço entender. Não digo aos outros o que têm ou o que devem fazer (na mesma medida em que digo que não dou aulas). Procuro com eles construir um percurso de trabalho, e nele definir um sentido ao que se faz, sentido individual mas integrado no colectivo, quer pelas claras interpenetrações organizacionais, quer pelas inter-relações pessoais e sociais que se estabelecem.
Mas vejo, sinto a surpresa dessas margens de liberdade, da descoberta da planície, da abertura dos horizontes.
Obviamente que um chefe, tal como um professor, não é assim que habitualmente age. O chefe como o professor estão, social e esteriotipadamente, definidos. Gosto de contrariar essa ideia.
obviamente.

público

torno público, faço colectivo o gosto, o prazer que senti ao ler (e sentir) o regresso da LN à minha anterior entrada.
esta rede, mais do que protagonismos e evidências, é feita de cumplicidades, de reconhecimentos pessoais que encontramos no outro.
obrigado.

terça-feira, agosto 30

desconstrução

Não sou dos mais inteligentes, também não quero ser dos mais parvos.
Sou curioso, naturalmente curioso e um curioso orientado, isto é, em função de questões mais ou menos específicas, de questões que me permitam perceber contextos ou situações mais amplas, mais gerais.
Nada de mais para além do normal de cada um de nós, penso eu, digo eu.
Neste contexto uma das coisas que gosto de fazer, quando pergunto o porquê, é o de desconstruir ideias, conceitos, palavras, sentimentos e algumas emoções que estão por detrás das palavras.
Colocado como responsável de uma organização onde trabalham 14 pessoas, é importante perceber alguns porquês de modo a poder perceber o para quê.
Mas reparo na surpresa de uns ou de outros quando procuro, dentro das minhas limitações, a desconstrução dos sentidos e procuro ir para além do óbvio, do aparente, do mais directo.
Numa qualquer organização as coisas são sempre mais do que aquilo que aparentam, o resultado final do número de pessoas não é, muito longe disso, a sua soma aritmécia.
Fruto de pequenos ou de grandes arranjos, há situações que vão fundo na explicação de alguns porquês, na construção das evidências.
Seja na escola como nas organizações [não educativas, no caso] é a vida que serve de exemplo e como nela precisamos de construir sentidos. Na falta de um mais geral, com o qual nos possamos identificar, criamos um pessoal, individual. Por vezes choca com o geral, outras concorre com ele, outras ainda é dele complementar.
Agora querer sintonizar ideias particulares na e para a construção de um sentido colectivo do trabalho que se desenvolve é, claramente, um desafio.
é este desafio que me move, na escola ou aqui, onde agora estou.

segunda-feira, agosto 29

imprevistos

Moro numa aldeia próxima de Évora. Hoje, como em todos os outros dias, para iniciar o trabalho fazemo-nos à estrada.
Nos cerca de 15 minutos que distam da cidade aprroveitamos para descobrir as cores do dia. Hoje um claro imprevisto, uma surpresa. Em plena estrada, duas vacas e um boi entretinham-se a pastar na sua mansidão, vagarosamente olharam para nós, ruminando, com pontas de ervas a sair do canto da boca. Como se nada fosse com elas voltaram ao seu entretém e eu, entre o apreensivo e o surpreso, desviei-me delas, passei ao lado e segui em frente.

Para (não) esquecer

foi um fim-de-semana quase para esquecer, ou talvez não.
Sábado dei início à profiláxia canina, de modo a não ficar sem cães. Foi um improvisado hospital canino o que esteve montado, com soros, agulhas e coisas que tais.
À noite a desgraça que cantou de galo [não resisto, tenho que dizer que já aqui tinha dito e escrito que este treinador deixa muito adesejar].
Domingo um incidente que caso o meu pai descubra, serei condenado a muitos meses de prisão. Caiu-me uma estante onde, provisoriamente, guardava algumas garrafas de estimação, desde tapada de chaves, esporão, borba - colheita de sócios, redondo numeradas, cartuxa, entre outras mais ou menos conhecidas, mais ou menos apetecidas, foi tudo parar ao meio do chão, feitas em milhar de cacos numa mistura explosiva.
Espero que a semana seja melhor.

sexta-feira, agosto 26

absorção

Tenho uma forma de trabalhar que não se compagina com abordagens simples, delicadas, colaterais.
Porque sou alentejano tudo o que tenho para fazer é para fazer, e rápido, de modo a que tenha mais tempo e possibilidades de descansar. Como resultado empenho-me nas coisas, sinto-me absorvido por elas, dominado por elas. Umas digo que por paixão, outras por vezes por pura ilusão.
Estou com novas funções faz hoje três semanas, afastado do pensar a escola, mais preocupado em perceber relações, modos e estruturas, lógicas e formas de actuação da organização em que me integrei.
De tal modo é absorvente que parece qu sempre aqui estive, com vontade de trabalhar, não de inventar a roda, mas de pensar o que se faz, como se faz, porque se faz, com que impactos e consequências.
Uma das realidades que provavelmente por aqui irá perpassar será exactamente a do pensar a administração pública, estrutura e funcionamento, numa perspectiva interaccionista.
Um outro olhar sobre aquilo que gosto, este mundo e as pessoas que o rodeiam.

triste

Tenho, como consta na referência pessoal que se encontra ao lado, vários cães. Ontem morreu-me um deles. Um cão grande, preto, traçado entre o labrador e o rafeiro, pés e mãos grandes, enormes, um olhar terno, amoroso, um andar desengonçado que parecia não aguentar o peso ou a vontade, tanta, de brincar.
Fiquei triste. Gostava do cão, esforçamo-nos para lhe prestar os cuidados necessários que permitissem ultrapassar as dificuldades. Não resistiu e morreu.
Sempre que me abeirava do computador e pensava escrever sentia-me, como me sinto, condicionado por esta ideia, a da morte. Mas também a da relação que os meus filhos estabeleceram com ela. Entre a tristeza, o sentimento algo difuso de perda, e a indiferença, não perceptível se porque se trata de um animal se como defesa de sentimentos e da perda.
De quando em vez pergunto-me como será a sua relação com a more de alguém próximo, um dos avós, ou de pessoas próximas.
Serão os mesmos sentimentos que perdurarão?

quarta-feira, agosto 24

sensações

oiço, a partir de uma qualquer estação de rádio, a "menina das setes saias", trovante; há pouco, ao final da manhã tinha sido a vez de ouvir a "esplanada"; entre uma e outra sinto a recordação das sensações, das emoções que sempre despertou em mim a música dos trovante. As inúmeras frases, palavras e textos que escrevi, e perdi, tendo como pano de fundo estas músicas, e os seus concertos.
sensações

centralização

Muita das vezes não damos conta das dinâmicas que percorrem certas localidades, certas regiões.
A comunicação social massificada (de âmbito nacional) provoca, na generalidade dos casos, um certo desviar de atenções sobre o local que pode, em alguns casos, levar a pensar que este local pouco nada tem, que está parado, qual lago estagnado, que somos coitadinhos de uma qualquer incerteza do presente.
No entanto, quando falamos com as pessoas, quando paramos e apenas sentimos o nosso local, a nossa terra, por vezes temos surpresas e sentimos dinâmicas, vontades, acções, ideias, projectos em movimento.
Por vezes pequenas iniciativas (micro-iniciativas) mas que vão ao encontro de expectativas, interesses e interessados. Que alimentam e sustentam pequenos mundos, pequenos [grandes] prazeres].
Só há que ter a capacidade de desviar o olhar, saber distrinçar os ruídos que nos rodeiam e sentir o coração.

terça-feira, agosto 23

o homem do piano

Ao contrário do que o Miguel afirma, e é no contraditório que muitas das vezes nos afirmamos e descobrimos, não foi o piano man que criou uma ideia na opinião pública. Prescisamente o contrário, a opinião pública e em concreto os meios de comunicação social ingleses, numa primeira fase e depois europeus, é que criaram uma ideia, uma opinião, uma estória sobre este personagen.
Repare-se que não havia argumento, apenas o silêncio; não havia pretexto, apenas o desconhecido; não havia conhecimento, apenas desconhecimento. E, apesar de tudo, criou-se uma estória que acaba por se confirmar que é uma não estória.
O Piano man apenas criou condições para que a estória surgisse.
Talvez apenas neste ponto seja comparável, pelo menos em alguns aspectos, a estratégia do piano man e o governo de Sócrates.
Mais do que ele proporcionou foi mais aquilo que nós quizemos ver, quizemos ler ou perceber numa actuação ou nas expectativas nele depositadas. A grande diferença é que o piano man chegou ao fim, enquanto o governo de Sócrates ainda tem muito que percorrer.

amizade

Deixei, ainda que temporariamente, a escola essa enorme paixão que me move e me estimula. Como tal deixei para trás não apenas um conjunto de preocupações, às quais procuro manter a minha atenção e reflexão, como ficou para trás (cada dia que passa mais se confirma) uma proposta de doutoramento que não tem cabimento nem pertinência desenvolvida fora da escola ou do contexto escolar (quer pelas opções metodológicas, quer pelo objecto de estudo, quer ainda pelas perspectivas que enformava).
Pelos comentários que tenho o prazer e o privilégio de ler não deixei para trás, as amizades que por causa da escola, se formaram no mundo dos blogues.
Fico contente por sentir o Miguel por perto. Como me sinto mais reconfortado. Eu sei que há mais, mas este é claramente especial. Obrigado.

o Verão

Convenhamos que já sinto alguma saturação de um Verão que foi demasiadamente longo e demasiadamente quente.
É certo que os velhotes da aldeia dizem que é tempo dele e que agora é que ele está certo. MAs estou cansado. Dou por mim a olhar para a lareira com apetites de a acender, de sentir o calor a crepitar.
Mas não, ainda é Verão, coisa que seria doideira competa, como há ainda muita gente de férias.
Há que esperar.

segunda-feira, agosto 22

glorioso

Antes que se avance mais e depois não possa falar (por falta de argumentos ou por contexto) deixem-me dizer a minha opinião sobre o glorioso em início de campeonato.
O ano passado não tinhamos equipa, mas tivemos um treinador que soube gerir (des)equilíbrios, interesses e recursos bem escassos.
Este ano a equipa está mais equilibrada, tem um banco mais ocerente e sustentado, mas, e é a minha opinião, não temos treinador capaz de ler o jogo, distribuir peças, montar um ataque ao adversário capaz de o imobilizar.
Foi, no meu entender, uma vez mais visível no primeiro jogo de campeonato.
Será que aguentamos?

carência

O facto de não ter net em casa fez ressurgir na família a saudade e a necessidade de voltar a comprar informação, desde revistas a jornais, desde os generalistas aos mais específicos.
Como consequência passasse uma boa parte do fim-de-semana a folhear as suas páginas, a ler títulos e desenvolvidos, a comparar ideias, opiniões e artigos.
Reconheço algum gosto no cheiro de um jornal impresso, no sujar os dedos de virar as páginas.
Mas sinto, mais agora que antes, o carácter (a)condicionador da informação de massas. Quer nos pontos de vista que têm palco nesta nossa comunicação social, quer nos relevos/destaques editoriais (e seus sentidos) que são definidos e apresentados.
Facto inquestinonável e incontornável, a net democratizou a informação ao massificar a notícia de opinião. Ainda bem.
Só que alguns jornais ainda ão se aperceberam disso e continuam a tratar-nos como antigamente.

previsibilidade

Dizia Miguel Esteves Cardoso, no diário de notícias deste fim-de-semana:
"Em Portugal - para mais em Agosto - é tudo tão repetitivo e previsível que, caso se mudassem uns nomes, poder-se-iam vender os jornais de há um ano atrás. Os incêndios, a crise do governo, a recessão, os negócios da federação de futebol, as nomeações."
Parece uma reveladora e factual verdade. De tão evidente abanamos a cabeça no sim de concordância evidente.
Mas não é. As pessoas são diferentes, os factores por detrás de uns e de outros são diferentes, a nossa saturação é diferente. Nós estamos diferentes, mais velhos, mais cansados, mais fartos de tudo isto.
Com aquela afirmação até podemos pensar que não andamos para a frente, que marcamos passo. E lá culpamos o país, como se dele não fizessemos parte.
Fazemos e andamos para a frente, por muito que possa não parecer.

sexta-feira, agosto 19

amizade

Quem navega na net, quem gosta deste espaço e deste mundo já terá ouvido falar dos muitos conhecimentos, dos muitos romances e de alguns casamentos que aconteceram tendo como pretexto ou, melhor dito, elemento de ligação, a net.
Se já se casaram por causa da net porque não reforçar amizades?
No aproveitamento das férias, de um maior descompromisso de todos e em face das rotas veraneantes tive oportunidade de conhecer um amigo. Era virtual, felizmente deixou de o ser. O Miguel conseguiu, no Alentejo do fundo, dar com o meu cantinho. Passámos um final de tarde e serão em amena cavaqueira, olhos nos olhos a trocar ideias, a degostar prazeres comuns, fossem o tinto regional, a escola ou outras paixões. Uma ficou inclusivamente preterida apenas circunstancialmente. O nosso glorioso ganhou nessa noite, certamente com influência desta nossa amizade, a sua primeira taça da época. Apenas vimos o golo de relance, nas sucessivas repetições. Não gritámos, não por respeito um ao outro, apenas por distracção.
Já agora, dizer que estava acompanhado das suas senhoras, uma com escamas (palavras dele) outra com um sentimentos nas palavras.
Já estou com saudades dos próximos encontros.

o manel é porreiro

Estava na fila de pagamento da bomba de gasolina. Na fila estava atrás de quem pagava e, atrás de mim, mais umas três ou quatro pessoas aguardavam pela sua vez.
Quase de repente um velhote de voz gasta pelo tabaco, pelo alcoól e pelos anos, ultrapassa tudo e todos e, de braço estendido, coloca duas cervejas em cima do balcão, olha para mim e diz, no fundo da sua rouquidão, o Manel é um gajo porreiro, é sim senhor.
Olhei para o senhor a tentar perceber de onde ele me conhecia, das eventuais razões deste seu comentário. Não conseguia perceber o porquê daquela consideração, amável é certo, mas que ao mesmo tempo me embaraçava.
O senhor voltou, no mesmo tom de voz, a repetir a frase, o Manel é um gajo porreiro, é sim senhor. Não deixava de olhar para mim e agora acrescenta apenas o pedido para que o empregado se pagasse das cervejas que queria despachar.
E eu que não percebia a razão daquela afirmação.
O empregado olha para mim, como se pedisse autorização para despachar o senhor, como nada disse agarra na nota que o velhote lhe estendia, faz o troco e diz, O Manel é um gajo porreiro, é sim senhor, mas deves respeitar quem está na fila, para a próxima esperas pela tua vez.
Lá diz o povo que pretensão e água benta cada um toma a que quer.

regresso

Talvez, de mansinho, devagarinho, pé ante pé, como se de nada se tratasse ou fosse significativo.
Quero regressar, por claro pretensiosismo de ter ideias, impressões (como eu gosto de assinalar) a reconhecer ou rever.
Quero regressar por simples amizades, gratos prazeres, palavras amáveis que me fizeram sentir gente, sentir talvez útil, senão a muitos pelo menos a alguns, o que é um grato prazer.
Regresso de mansinho, para deixar a minha impressão, as minhas ideias, o meu ponto de vista.
Regresso como crónicas do meu quotidiano e com reforço do meu subtítulo, crónicas de coisa nenhuma sobre tudo e para nada.