terça-feira, janeiro 6

Invisibilidade

Esta manhã, ao chegar à sala de professores, dou de caras com um jovem na casa dos 20 anos, barba mal feita, ou por fazer de um ou dois dias, magro, estatura mediana, na casa do 1.70m, cabelo muito curto e negro, tez escura e olhos castanhos, a minha curiosidade foi directa à questão, ao olhar para ele e perguntar "novo professor?", uma vez que alguns professores, em horário de substituição de colegas, apareceram sem qualquer informação por parte do Conselho Executivo, não seria de estranhar se fosse mais um dos casos.
Mas não. É um jovem estudante israelita, em intercâmbio escolar com uma Universidade de Telavive. Neste intercâmbio permite-se a sua circulação por escolas portuguesas, para vendas de arte, angariação de fundos que sustentem a sua estadia no nosso país.
Na pequena conversa que com ele estabeleci, a partir de um ideia feita - a de que Israel é uma zona quente - fiquei a saber que se estava a sentir invisível. Desde as 09h00 que ali estava, eram 10h30, e ninguém lhe tinha dirigido o olhar, quanto mais uma palavra ou, muito menos, estabelecido qualquer conversa. Nem por curiosidade, como foi o meu caso, nada.
Há que reconhecer que este não é um comportamento típico da escola portuguesa, mas é da escola em que estou. Por isso me sinto algo incomodado, como se ali estivesse a mais, a incomodar. Foi este o tema que mais o preocupou, que o atormentava. Logo a seguir foi embora.
Soube também que, no intercâmbio, podia escolher entre dois países de destino, Portugal ou Inglaterra. Optou por Portugal pelo desconhecido, pelo eventual tipicismo (ou exotismo?) que esperava encontrar. E, diz, que encontrou, não se sente arrepende. Será que nós nos arrependemos deste país?