Agenda oculta
Há dias o meu amigo e conterrâneo Luís Carmelo dissertou sobre o fenómeno da agenda noticiosa.
Afirmava ele que esta agenda "serve para nos delimitar, com alguma precisão, as coisas em que devemos pensar e as coisas que devemos ouvir e ver (os chamados "conteúdos"). No fundo, a "agenda" resume-se a um conjunto de instruções que tende a edificar um mundo fechado sobre si próprio e que conteria em si todas as referências possíveis do nosso discorrer."
Ontem, ao ver as imagens em catadupa que assinalam o terceiro aniversário da SIC Notícias dou comigo a pensar na obrigatoriedade assumida pelo telespectador na assunção de uma agenda noticiosa. Como o mundo, os factos, os acontecimentos, as pessoas, os sentimentos se volatilizam, se desvanecem no escoar dos telejornais, dessa agenda noticiosa. Como é feita uma opinião publicada que condiciona um olhar, uma perspectiva, a nossa, perante o outro, perante a sociedade e a política, perante o mundo.
No comentário ali colocado regressa, nesta forma mediática, um elemento que já fez carreira na escola, a do currículo/agenda oculto. Entre o que nos oferecem, de modo directo, aquilo que pretensamente nos é imposto e aquilo que de modo subliminar nos é exigido. Entre a agenda e o currículo ocultos venha o diabo e escolha. Estou convencido que, perante um e outro, apenas o aprofundar do pensamento crítico, a adopção da desconstrução do dado pode contrariar a passividade e a formação de sujeitos homogéneos. Na escola apenas se pode alcançar, em face da idade e da formação dos jovens, pela diversidade de opiniões, pela pluralidade de ideias, pelo debate de opiniões, isto é, se a escola se assumir como um espaço de formação da cidadania.
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