Mudança
A discussão tem rondado, nos últimos tempos, sobre a possibilidade de mudança nas escolas. Há quem a defenda, há quem afirme da sua impossibilidade e há aqueles, como eu, que dizem que resistimos a tudo aquilo em que não reconhecemos interesse.
Em primeiro lugar uma constatação. Só o facto de se equacionar a possibilidade de mudança nas escolas, faz com que ela seja uma possibilidade. Logo, por este raciocínio é possível mudar a escola. Segundo, a escola tem resistido, e bem, ás sucessivas tentativas de mudança de que tem sido alvo. Por muito incrível que possa parecer continuamos com a mesma escola que herdamos da velha senhora, como disse um dos Migueis. Estou também certo que muitos concordarão que esta escola que herdamos a poucos interessa e ninguém, pelo menos de bom senso, nela se reconhece. Uma escola elitista, com base na meritocracia, selectiva, entre outros adjectivos. É certo que não tem sido apenas por oposição dos seus actores, professores, alunos, pais/encarregados de educação, membros da comunidade. Para além dos interesses a sua própria estrutura física é, em muitos casos, o claro obstáculo à mudança.
Mas, a despeito destas considerações, o problema da mudança, se me permitem o pretensiosismo, radica no seu sentido, na sua direcção, nos seus objectivos. É fácil concordar que queremos mudar para melhor. É fácil concordar que queremos melhores condições, melhores oportunidades, maior sucesso, maior participação, maior envolvimento e que para tudo isto é importante mudar a escola. Não concordo. E não é por uma questão de pessimismo, nem de inconformismo. Apenas de receio quanto ao sentido, à direcção dessa mudança. Eu divirjo, recuso o sentido de mudança deste governo. Outros certamente divergirão do meu sentido de mudança. Isto é, não me queiram convencer que existe um caminho mais correcto que os outros, um sentido mais adequado, uma direcção mais certa para a mudança.
Existem hoje nas escolas, nas nossas escolas, espaços de mudança, espaços de trabalho, oportunidades de esperança que devem ser aproveitadas. Mais que criar um sentido de mudança, importa criar tantos quantas as pessoas que se reconhecem na escola, nesta ou noutra, que queiram criar e participar numa escola em mudança.
Caso contrário corre-se o risco de se repetir aquilo que aconteceu com o programa das TIC do secundário. Discute-se tanto, equacionam-se tantos cenários e tantos sentidos de evolução e mudança que quando implementado o programa ele se encontra ultrapassado, desadequado das necessidades e do real.
Mudar é possível, é desejável, é ambicionado por tudo e por todos. Mas a mudança tem que ser em cada um de nós, em cada pessoa, na forma como entende a escola, nos modos como com ela se relaciona, nos modelos de relacionamento que define, nos objectivos que se constroem.
Aqui, reconheço pertinência às valorizações, recuso modelos, sejam oriundas da escola moderna, da escola nova, da escola cultural, como ao papel das pedagogias, sejam elas mais ou menos directivas, da participação, mais ou menos empenhada, do envolvimento, mais ou menos determinado.
É esta mudança, a que é re-construída diária e quotidianamente em todos nós que ambiciono, que prescrevo como fundamental na construção de uma escola em mudança.
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