quarta-feira, janeiro 7

Com os pais

As relações entre professores (escola de um modo geral) e os pais/encarregados de educação não tem sido, nos últimos tempos, pacífica. Exemplo disso basta ler a blogonovela do blogue Educa Portugal. Lá se pode encontrar grande parte da fricção entre professores e pais com alunos de permeio.
Contudo, não considero que tenha de ser forçosa e obrigatoriamente assim, e sempre tive boas e fartas razões para assim pensar e, mais importante, assim agir.
Terminei há pouco a reunião com os pais encarregados de educação da turma da qual sou director de turma. Gente humilde, pobre, no pleno sentido que a senhora ministra das finanças dará à palavra, daqueles que nada recebem do Estado Providência. Alguns, poucos, com alguma formação, isto é, atingiram, no seu tempo de escola, o 6º ou 7º ano. Poucos daí passaram. Pessoas na casa dos 30 ou dos 40 e poucos anos analfabetas, pouco, muito pouco mais sabem do que assinar o seu nome e folhear um ou outro jornal. De meio rural, ainda que próximos da cidade, com uma cultura marcadamente agricola, artesanal.
Depositam ainda algumas esperanças em que a escola possa, consiga mudar os desencantos do(a)s seu(a)s filho(a)s, do(a)s seu(a)s educando(a)s, que consigam, com os estudos, melhorar um pouco a sua condição de vida. Em 18 alunos de uma turma com sérios problemas de comportamento (quanto sérios podem ser os problemas de desinteresse, alheamento, indiferença e desconsideração pela escola) e de aproveitamento (resultado ou consequência do anterior?), apareceram 14 pais/encarregados de educação.
Falámos da turma, do que se tenciona fazer na tentativa de melhorar resultados, pedi-lhes o contributo e a colaboração, para não deixar tudo à escola, para exigirem também eles dos seus filhos/educandos. Exigirem respeito, tolerância, paciência, compreensão. Rigor.
Trocámos ideias e palavras e, no meio das palavras que não saíam por falta de vocabulário, na simplicidade das intenções e das vontades, pergunta uma mãe se a escola não devia ter outros técnicos capazes de ajudar professores e pais na resolução de problema, na ultrapassagem de obstáculos na superação de dificuldades. É que uns e outros estão limitados nas suas capacidades, nas suas disponibilidades, nos seus conhecimentos, outros, com outros conhecimentos seriam certamente úteis para formarmos esta geração, para nos ajudarmos, para fazermos melhor aquilo que todos pretendemos, formar pessoas. Na minha condição actualmente de docente do batente, da prática lectiva, da sala de aula, não tenho referência em como está, ou não está, estruturada a rede de psicologia e orientação escolar. Mas nesta "minha" escola nota-se a sua carência, a importância que seria ter mais um conjunto de cabeças a pensar sobre o mesmo, a considerar outros pontos de vista, a inventariar outras propostas.
Há, é determinante, necessidade de definir outros arranjos organizacionais à escola, com capacidade de responder à diversidade, à heterogeneidade, à pluralidade. Arranjos que considerem outras formas de organizar o trabalho, outras realidades profissionais importantes na escola e para a formação das pessoas.
O tempo em que o professor, voluntarioso ou curioso, fazia um pouco de tudo e de tudo tomava conta, por muitos que não queiram, já foi chão que deu uvas.