domingo, fevereiro 29

Que se passa com Évora

Pergunta o compadre da Planície Heróica.
Não procuro aqui uma razão para o eventual esmorecimento dos blogues que tinham Évora como ideia central.
Talvez, como disse e bem o Frederico Mira George, seja apenas uma questão de paisagem. Talvez.
Contudo, apesar de considerar que a paisagem se altera e se transforma, seja por intervenção humana, seja por intervenção natural, considero também oportuno levantar um conjunto de questões sobre a associação temática de Évora e da blogosfera. Acreditem que não tenho, para as questões que coloco, respostas. Procuro-as.
Será que a blogosfera é espelho de um dado sentir e de uma dada forma de estar na cidade?
Será que se pode inferir, a partir do esmorecimento dos blogues com Évora em fundo, que Évora também esmoreceu?
Será que após as acessas discussões e a troca de ideias do Verão passado, não há agora novas ou velhas ideias para discutir?
Será que andam preocupados com outros assuntos? Quais?
Ou será apenas uma questão de gestão de tempos, espaços e oportunidades? Nos quais a blogosfera ou não lhe é reconhecido papel ou protagonismo ou simplesmente os cenários serão outros?
Votei e apoio José Ernesto de Oliveira. Mas, apesar disso e por isso mesmo, considero fundamental discutir a cidade, discutir as condições de uma cidadania participativa, debater as opções e as alternativas, as apostas e a falta delas, os caminhos e os sentidos, as políticas e os políticos.
Sem este debate, sem uma acção participativa e interventora das pessoas não há nem democracia nem alternativas. Tanto uma como outra considero-as fundamentais à construção do presente e à definição do futuro.
Mas afinal, que se passa com Évora?

Fim

Por mim o campeonato podia e devia acabar já, imediatamente.
Como a morte que avança com pés de lã, de mancinho.
Acabe-se já com este sofrimento, o Benfica está acabado, mesmo para o segundo lugar, para o qual nunca devia de lutar. Fica-lhe mal.
Excelente meia hora de jogo que o conterraneo cá da terra estragou.
Para mim, chegou ao fim este campeonato. Ponto final.

Obrigado

Considero um claro privilégio a manifestação de que fui alvo em face do aniversário do "velho Manel Cabeça".
Na impossibilidade de o fazer de outro modo - OBRIGADO.

Reconfiguração

Em particular dos links laterais.
Alguns sumiram-se, dando cumprimento ao que, de resto, já tinha acontecido à sua escrita. Outros aparecem, em virtude de por lá navegar com alguma regularidade.

sábado, fevereiro 28

aniversário

Hoje, 28 de Fevereiro, o Manuel Cabeça mais velho faz 69 anos. Perigosa idade para quem soube disfrutar da juventude, da idade adulta e da entrada na terceira idade.
Para quem conhece este homem que trabalhou uma data de anos no Arco Iris, que dele se tornou sócio gerente, que deixou quase 20 anos na livraria Nazareth e que trabalhou mais 12 com o irmão na Papelaria Eborense, sabe que não minto nem exagero quando afirmo que é uma das melhores pessoas do mundo.
Não é nem graxa, nem um pedido deslocado de atenção. Sei que ele não irá ler estas linhas. Apenas o reconhecimento e a gratitude de ser filho daquele homem.
Conta mais uns quantos, pelo menos para vermos o Benfica de novo campeão. Parabéns, meu pai.

sexta-feira, fevereiro 27

dos concursos

Certamente que muitos daqueles que estão interessados em concorrer já terão reparado e apercebido na e da simplidade e facilidade de leitura, preenchimento e utilização do novo figurino?
Obvimente que estamos todos certos que os problemas agora irão ser muito menores que, pelo menos, no ano anterior e que as situações ocorridas, pelo menos aquelas mais conhecidas na zona centro, não se irão repetir?
Ufa, ainda bem que pensam assim, já estava a pensar que era eu que estava a ficar doidinho.

da "inserteza"

Afinal o Pedro não partiu para parte "inserta". Esteve apenas a observar e a cuidadr da prole. Ainda bem. Este artigo, obviamente que para além de todos os outros, merece toda a atenção e o prazer de o sentir de regresso.
Ainda bem. Que os dias, corrijo, que os post sejam menos "insertos".

com os alunos

Quem se expõe corre riscos. O primeiro é de ser zurzido pela primeira carta que se coloca fora do baralho. Mas também se corre o risco de essa carta se tornar importante no meio de uma qualquer jogada.
Tenho que reconhecer que esta blogosfera me tem trazido mais alegrias que tristezas, apesar de ser zurzido, com e sem direito.
A última, se leram os comentários, diz respeito aos erros ortográficos.
Uma aluna não perdeu a oportunidade e zás... vá de comentar os meus erros (seria exagerado se dissesse deslizes?) e, mais ainda, achou "q o devia castigar como a minha professora da primária me fazia" (assim se vê a importância e a fixação dos primeiros anos) e repetir 100x a palavra correcta.
Nem de propósito. Com razão, também é verdade.
Esta uma circunstância inapelável. De quando em vez alguns alunos acusam os professores, agora sem qualquer dado ou elemento em concreto, de injustos ou de exigentes. Mas os alunos são-no muito mais (talvez por mimetismos docentes) e procuram o mais pequeno erro, o mais pequeno deslize, um vício de linguagem, um tique para cair em cima do professor e fazer com que este se sinta humano.
Afinal erro. Viva, sou humano. No meu caso e nesta situação (blogosfera) acresce que escrevo, como há pouco tempo aqui o escrevi, à flor da pele. Nem as penso, saem como estavam cá dentro. Não estou minimamente preocupado em encontrar (ou corrigir) o erro, nem em pensar muito aquilo que escrevo. Se as penso saem de maneira diferente, com alguns rodriguinhos, alguns floreados, mais um ou outro rendilhado, o que não gosto.
Afinal e para terminar gostei de ouvir este canto.

Sumisso

Mais correctamente sumiram-se, a maioria dos blogues com Évora em fundo. Restam pequenos nichos de "snipers" resistentes. E, ainda por cima, dissertam sobre muita coisa, menos sobre Évora. Apenas um ponto, um pontinho aqui um outro ali. De resto, Évora em fundo, de perfil ou como se gostaria, nada.
Afinal, tanta genica, tanta verborreia, tanta incontinência verbal mais não foi que sol de pouca dura.
Porque será?

da escola

O Cravo, do blogue Os Mundos da Educação, contesta a minha ideia sobre uma escola de esquerda, questionando o que é a esquerda, o que é a direita, e que prefere "apenas a labuta diária, quase campesina, tentando obter resultados evolutivos...".
Concordo com ele. Certamente também concordará que as condições em que quotidianamente labuta, os recursos que diariamente encontra ao seu dispor, os meios com que as crianças lidam no seu dia-a-dia, estão, e muito, dependentes de opções político-partidárias, aquelas que condicionam um modo de vida, que procuram, o mais das vezes, criar mundovidências, modos de encarar o quotidiano.
É nestas diferenças, é nestes contextos que condicionam, no meu entendimento, a nossa labuta, que se insere uma escola de direita ou uma escola de esquerda. Uma escola apoiada por uma visão de esquerda ou uma escola apoiada por uma visão de direita.
E aí o Cravo assume, desde o princípio do seu texto, o reconhecimento do que é uma esquerda e uma direita, ele próprio o afirma.
Não sou a favor de modelos, tenho-o o escrito por diversas vezes e, particularmente, na troca de argumentos com o Miguel Pinto. Sou a favor de existirem, local e contextualizadamente, condições para que se possa definir uma labuta. E aí sou de esquerda. Por princípios políticos, mas também por questões partidárias. Sem receios. Ainda não os tenho.

quinta-feira, fevereiro 26

fora de serviço

Não sou eu. Eu ainda resisto à tentação de me ir embora, o prazer de escrever é excessivo. O gosto de torcar ideias é maravilhoso.
Quem está fora de serviço é o servidor do Min-edu. Tentei aceder, nem sequer à DGAE, e puf, nada.
Os concursos, de calendário anunciado pelos senhores, só começam amanhã.
Não há banda larga que nos valha, nem servidor que se aguente. Afinal, no min-edu talvez a tradição ainda seja o que era, e nada melhor que apostar no impresso, vivinho e cheiroso da silva.
Estou quase certo que os senhores do min-edu virão dizer que o problema ou é da PT (porque não assegurou as condições técnicas necessárias a uma sobrecarga de acessos, ou de uma qualquer empresa de serviços que não programou o ajustamento do servidor).
É de rir e chorar... e não é por mais, porque disto já estou eu farto e enjoado.

vida de professor

A vida de um professor, particularmente daqueles que exercem fora da sua localidade de residência, não é fácil.
Hoje saí de casa eram 7h50, deixei a esposa no centro de saúde e fiz-me à estrada (estou a exercer a 30km de casa, coisa que faço, respeitando a lei, em cerca de 20 minutos).
Infelizmente deparei com um acidente. Resultado, faltei ao primeiro tempo. Ainda encontrei alguns alunos nos corredoures, mas não valia a pena. Outros esgueiravam-se furtivamente. Uns aceitaram o cumprimento de bons dias, o entabular de outras conversas.
O segundo tempo decorreu normalmente.

quarta-feira, fevereiro 25

À solta

Não tenho por hábito pensar muito no que escrevo. As ideias afluem ao teclado e apenas as deixo sair. Não trabalho os textos como se fossem artigos, escrevo à flor da pele. É como gosto de viver, é como gosto de estar na vida.
Já aqui o disse uma vez, a minha razão é a minha emoção, são as paixões que me fazem viver e estar.
Talvez por questões de signo, não sei, sou balança, não consigo ser meias tintas, gostar do leite morno ou do copo estar meio (seja vazio ou cheio).
Gosto de estar nas coisas, gosto de as viver. Assim entendi os blogues desde o meu primeiro momento. Por isso, peço desculpa de alguns erros ou da baralhação de algumas ideias. Mas quem escreve com emoção escreve assim, pelo menos eu.

do debate

Gosto, tenho que reconhecer e já aqui o fiz por diversas vezes, da discussão, do esgrimir de argumentos, da elevação do discurso.
Permite-me enriquecer o meu léxico e aprofundar algumas das ideias. Como me permite, em determinados momentos e perante determinados argumentos, sentir que posso ou que estou efectivamente equivocado.
O trocar de argumentos, nomeadamente com os meus mais recentes amigos bloguistas, faz-me sentir ter pena de não estarmos na mesma escola. Mas simultaneamente, sinto-me feliz por estarmos no mesmo país e em diferentes escolas. Estou certo que por isto, e desculpem-me o pretensiosismo, teremos um sistema educativo melhor, pelo qual lutamos.
Neste sentido apenas duas ideias a propósito dos paradoxos que o Miguel destaca.
Nunca escondi as minhas filiações, não sou nem quero ser independente (?), sou claramente dependente das minhas ideias, bebidas à esquerda dos partidos políticos e de cor bem vermelha no clube. Desde o meu primeiro blogue (em Julho de 2003) que aqui deixei expressas essas minhas simpatias, as minhas preferências. Abandonar estas ideias era renegar à democracia. Assumir a negociação como factor de participação é assumir a democracia (Perrenoud, 2002) e é isso que eu quero.
Em segundo lugar, luto por ideias, por ideais, como todos aqueles que certamente têm uma dada ideia de escola e que, nesta blogosfera a partilham, a trocam, a difundem.
É neste grupo que me incluo e por isso, meu caro Miguel, não há equívocos nem paradoxos, ou a exisitir apenas residem naqueles que pretendem esquecer o passado, fazer com que ele nunca tivesse existido, procurar cavar um buraco e nele enterrar a governação socialista. Nesses, que são da esquerda e da direita, dependentes e independentes, eu sei que não te incluis.
Mas quero assumir a política e a política na escola como factor de participação e de mudança. Sem ela a mudança na escola, a implementação de medidas de política educativa tornam-se mais complexas quando não mais complicadas. Assumir a política na escola é assumir opções, escolhas, alternativas, ideias para a escola. É assumir o papel do professor na defesa dos seus interesses, nos interesses da sua comunidade escolar e educativa, da sua autonomia profissional, da sua responsabilidade perante a construção do saber e das comunidades.
Se isto não é política, então não sei o que é política.

terça-feira, fevereiro 24

Da escola e da esquerda

Atenção vou ser, para alguns sectores mais políticos, algo provocante. É um aviso antecipado de um gosto que sinto de enfrentar, sem receios, os fantasmas e os esqueletos no armário.
Vou ser provocante a propósito de uma certa esquerda que, agora, diz mal do PSD, publicamente, é certo, mas que com ele procura dissertar sobre opções, trocar algumas recordações e, parece, combater um mesmo inimigo, o PS.
Considero inadequado que uma certa esquerda, sindical e partidária, procure o melhor de dois mundos, o do PC reivindicativo, mobilizador e o de uma direita que lhe agrada, nas propostas, nas concessões, no combate e no esvaziamento que procura fazer ao PS. Considero impertinente que uma certa esquerda procure agradar a Deus, defendendo o seu ateísmo, e ao diabo.
Mas afinal que quer esta esquerda que, com o PS no governo não lhe concedeu a mínima das tréguas, não lhe permitiu o mínimo dos deslizes, não lhe concedeu a mínima das tolerâncias, e agora, com a direita no poder, procura uma escola de esquerda.
Mas querem melhor exemplo que uma escola de esquerda que aquela que esteve no governo entre 1995 e 2001, aquela esquerda que foi combatida pelo PC e que defendeu a aposta nas políticas de territorialização, na autonomia, nos currículos alternativos, na concessão de competências e poderes às autarquias, que apostou no pré-escolar sem descurar o ensino superior nem a aposta na investigação e desenvolvimento, na articulação do ensino superior com os territórios educativos circundantes, que defendeu, no âmbito da educação sexual, uma articulação e colaboração com o Associação Nacional Para o Planeamento Familiar, no âmbito da formação a docentes e no apoio à construção de currículos locais, que procurou articular com sindicatos e parceiros a redefinição dos grupos pedagógicos, do estatuto da carreira docente, do papel e das competências dos funcionários e dos auxiliares.
Cometeu erros? Obviamente, só não os comete quem não faz. Ficou aquém das expectativas? É claro, queremos mais e queremos melhor. Não foram perfeitas as apostas? Pois não, foram desenhadas e implementadas por pessoas que assumem erros, que têm defeitos.
Mas caramba, nesta altura do campeonato vir defender uma escola de esquerda, procurar saber o que isso pode ser é querer tapar o sol com a peneira, é querer fazer, de outro modo, o que a direita agora faz desenfreadamente, esquecer o passado, querer criar um hiato entre 1 de Outubro de 1995 e 21 de Abril de 2002.
Não nos iludamos. O período socialista não foi nem isento de erros, nem isento de políticas que poderiam e deveriam ter um outro impacto, quer na escola, quer na sociedade portuguesa. Conceda-se, no mínimo, um benefício de dúvida uma vez que, ao contrário do que agora acontece, não teve parceiros à altura que lhe permitissem criar uma alternativa de esquerda. Daí o ziguezaguear negocial entre um e outro partido de que é acusado. Porque o PC nunca se constituiu com alternativa nem, muito menos, como parceiro.
Mas pronto, é Carnaval e ninguém leva a mal este diletantismo.

segunda-feira, fevereiro 23

leituras

Dou comigo, ao efectuar um zapping pelos blogs que estimo e que considero imperdíveis (um destes dias hão-de estar presentes, numa reconfiguração completa, aqui ao lado), a reconhecer algumas das leituras que faço, algumas das ideias que possuo, algumas das vontades que transporto, alguns dos sentimentos que partilho.
Assim sendo e porque lemos os mesmos livros, por que sentimentos os mesmos sentimentos (obviamente que contextualizados pela formação, educação e amores) pergunto-me o que podemos fazer para operacionalizar estes sentimentos e estas ideias de escola que transportamos connosco?
Como podemos, em face das mesmas leituras e de um conjunto partilhado de ideais, implementar estas ideias, dar sentido material às leituras e operacionalizar uma ideologia?
Considero urgente, mais do que se contruir uma análise, começar-se a construir uma materialização das ideias.

domingo, fevereiro 22

Educação Sexual

Mais uma de tantas notícias dos últimos tempos.
Entendam-se, porra, estou farto de indecisões, indefinições (a fama, como dos alentejanos, era do Guterres, o proveito a outros dirá respeito), trocas e baldrocas, entendimentos por baixo dos panos e desentendimentos por detrás das câmaras.
Por mim tudo bem, só quero é perceber onde, no meio de tanta área curricular autónoma, cabem as disciplinas da quais tantos se queixam de os alunos portugueses pouco saberem.
Aceito que muito do papel de educador cabe, é da responsabilidade da escola.
Mas caramba, antes de uniformizarem tudo, de alto a baixo, deixem que as escolas, os professores, os alunos, os pais e encarregados de educação, os centros de saúde, as autarquias, se articulem, se cozam e entendam entre si, de forma local, contextual e localizada, para que possam definir o que pretendem, como pretendem, com quem e de que modo e maneira pretendem salvaguardar essa realidade preocupante e problemática que é a gravidez na adolescência, a gravidez indesejada, o aborto clandestino, a hipocrisia das gentes, a ignorância das gentes.
Uniformizar tudo, estandardizar tudo é nada querer fazer, é deixar franjas enormes de fora e meter tudo dentro do mesmo saco como se as realidades entre Rio Tinto e Maia, Porto e Lisboa, Bragança e Évora, Faro e Vila Nova de Milfontes, fossem todas iguais, uniformes, igualmente previsíveis.

frio

Estou certo que o frio e chuva estragaram metade dos carnavais deste país. A outra metade estava demasiado ocupada para perceber que era carnaval.

sexta-feira, fevereiro 20

da mudança

O título e a preocupação são repetidos, desculpem lá a falta de imaginação. Mas torno público um comentário que fiz ao comentário do José Pais (não és o cantor, pois não? ou és?).
Queixa-se, queixamo-nos que a mudança não tem ocorrido na escola, apesar das sucessivas tentativas da qual tem sido alvo desde, pelo menos na democracia, 1986.
O Miguel espanta-se com o facto de sentir "carapaças a estalar".
Vamos, por este meio, discutir duas ideias.
Uma - a escola tem mudado, e muito, nos últimos anos. Tem mudado de atitude, têm mudado comportamentos, têm mudado relações, como se têm alterado estruturas mentais de olhar a escola, de olhar a relação pedagógica. Contudo, porque imperceptíveis muitas das vezes, porque requerem uma maior atenção e um olhar mais atento, porque com ela lidamos no nosso quotidiano por vezes não nos apercebemos das pequenas mudanças, das pequenas alterações, dos pequenos quês quotidianos que fazem uma história.
A não ser que algo suceda e que as vizibilize, as torne audíveis e sensíveis essas mudanças permanecem escondidas, no seu recato.
Quais sãos as mudanças? A massificação do ensino, a sua democratização, o apoio social escolar, o apoio das equipas de psicologia e orientação escolar, a entrada de parceiros na escola, os tempos lectivos, as reuniões de professores, os critérios de avaliação, a forma como olhamos e aplicamos a avaliação, as relações entre professores e funcionários, as relações entre a escola e as estruturas político-administrativas. Convenhamos que muita coisa se alterou na nossa escola.
Entre um e outro ponto uma ponte de ligação.
Não vou discutir é se essa mudança foi boa, ou para melhor. Como não vou discutir a pertinência nem o sentido dessa mudança. Isso é da responsabilidade, em primeira instância, de cada docente, de cada escola.
Segundo ponto, que a mudança não corre ao ritmo do qual todos precisamos, que não tem a dinâmica que gostaríamos, que não é num sentido que consideramos mais adequado ou correcto? bem, isso é uma outra história da qual fazem parte actores em demasia para dela poder dar conta. Isso compete a cada escola, ao conjunto de professores que elegem os seus órgãos directivos e executivos, que definem e implementam projectos, ideias e constroem, bem ou mal, uma imagem da escola.

das conversas

Em face do comentário do Francisco Nunes, tenho de argumentar que as coisas continuam como estão decorrente de dois básicos motivos/razões:
pela desorganização que grassa neste país e que interessa a um conjunto de indígenas de um bloco central, de um centrão (ora papas tu, ora papo eu) que ainda tem fantasmas no sótão e esqueletos nos armários. Por muito que não concorde com as propostas da geração do Beato tenho que concordar ou pelo menos é também minha leitura, que existem claras diferenças (e divergências) geracionais no entendimento e na gestão da coisa pública, no relacionamento e no entendimento do papel das pessoas nas organizações, como protagonistas da mudança.
É do interesse de alguns, poucos mas influentes, bestas andantes, mas com esperteza saloia, manter esta desorganização, tendo em conta que ganham claramente com ela, é a segunda razão, a da economia de bolso, que dificilmente se enfrenta e muito mais dificilmente se contrapõe. É um espírito de alguns e de alguns sectores, ainda corporativo, de defesa intransigente, fundamentalista do que é deles, do que é particular.
Enquanto uma e outra não forem ultrapassadas não há país que aguente.
Já se provou (é político, eu sei, mas é uma prova cabal) por exemplo no âmbito do PROALENTEJO, que se era capaz de fazer, que se era capaz de alterar muito do vigente, que se eram capazes de abrir “janelas de oportunidade”.
Para que se possam mudar algumas coisas, para que exista alteração de uma realidade inquinada não é importante nem determinante fazer uma reforma de fundo onde muita coisa abana mas nada cai. Há que entender que a "mudança é um processo não é um acontecimento" (Fullan, 2003, p. 48). E para que o processo ocorra é fundamental que as pessoas se identifiquem com ele, sintam aí uma oportunidade de reconhecimento pessoal e profissional, sintam que vale a pena. As pessoas resistem ou oferecem resistência à mudança, na escola ou em qualquer outro local, porque não sabem o que é que se passa, o porquê ou os objectivos dessa mudança, não se reconhecem nela, nem sentem que nela tenham participado ou para ela tenham, de algum modo ou de alguma maneira, contribuído.
Para que o processo de mudança ocorra, permitam-me a simplicidade e a eventual ingenuidade, bastava que existissem interesses, vontades e coragem política de dotar de autonomia (e responsabilização) os actores, que os deixassem definir, contextualizadamente, os seus objectivos, que se definissem modelos de monitorização e acompanhamento do trabalho desenvolvido, que se formassem equipas (EQUIPAS, entendam, é a diferença entre jogar à bola e jogar futebol) de trabalho.
Evitar-se-iam alguns constrangimentos ou outras singelezas.
Certamente apareceriam outras.
Mas privilegio a primeira, por isso é que sinto prazer e orgulho em, como afirma o Miguel, ser basista.
Acredito, quero acreditar, tenho provas disso, que uma escola sabe gerir mais e melhor 100€ que o ministério 1.000€.
Sei e tenho experiência disso que uma escola, com vontades, com trabalho e equipa pode e consegue definir e estruturar apoios, definir e implementar projectos de sucesso, arquitectar e apoiar ideias e professores.
Enquanto acreditar nisto, enquanto não me mostrarem o contrário, por aqui continuo, a dar a escrita, a voz e o corpo ao manifesto, na defesa, algo intransigente (reconheço e assumo esta ideia, algumas vezes como defeito) da escola situada, dos actores contextuais, dos protagonistas locais, da participação – da democracia participativa – como factor fundamental do processo de mudança.

quinta-feira, fevereiro 19

Em conversa

Se resolvem os problemas da educação, do sistema educativo, da escola, do país e do mundo. É verdade, acreditem.
Passei, depois de almoço, pouco mais de uma hora a falar com um colega com quem já não estava há bastante tempo. Conhecemo-nos na escola, um e outro ocupava cargos no órgão de gestão, em escolas diferentes, partilhávamos ideias e princípios, discutimos, muitas vezes, propostas e ideias de reconfigurar este sistema, as nossas escolas. Construímos castelos no ar, arquitectamos planos e estratégias.
Hoje eu estou numa outra escola e ele é chefe de divisão, de uma qualquer divisão mais ou menos obscura da direcção regional de educação do Alentejo.
Nesta pequena hora de conversa resolvemos grande parte dos problemas do sistema educativo e das escolas. Arrumámos com grandes entropias e desentupimos bloqueios de décadas.
Conferimos poder e autonomia, com a consequente responsabilidade e avaliação, às escolas.
Definimos que o papel das direcções regionais é o de apoiar as escolas no exercício das suas autonomias, na definição e implementação dos seus projectos.
Concebemos que compete à inspecção agir em conformidade de acordo com directivas de avaliação emanadas das escolas e de entidades autónomas e independentes que aferiam a concretização e adequação dos objectivos.
Implementámos uma formação de acordo com as necessidades dos docentes, inventariadas em rigorosa actividade empírica, criámos centros de formação, em articulação entre entidades do ensino superior e escolas, do pré-escolar ao secundário, que permitissem rendibilizar custos, gerir recursos e responder às necessidades dos professores e das escolas e não dos formadores.
Desenhámos equipas pluridisciplinares que apoiassem o trabalho dos docentes, nomeadamente no âmbito do ensino especial, na integração de crianças em risco de abandono, absentismo ou insucesso, que facilitassem a articulação entre ciclos, que promovessem a articulação e o conhecimento do trabalho que se faz nos diferentes ciclos, nas diferentes escolas, nos diferentes concelhos.
Redefinimos a legislação dos concursos de docentes, tornando-os mais próximos das escolas, criando factores de colocação plurianuais, por projecto ou por acções específicas.
Implementámos redes informáticas de banda larga e criámos apoios, monetários e fiscais, aos professores para a sua utilização. Articulou-se a Internet com bibliotecas e centros de recursos capazes de desenvolver a literacia e os níveis de leitura, considerando que ler deve ser um prazer e não uma obrigação.
Definimos objectivos quantificados e quantificáveis tendo em conta a redução do insucesso, do absentismo, da articulação entre a escola e as outras ocupações profissionais, a formação contínua da comunidade, a abertura da escola a públicos diferentes e à diferenciação de públicos.
Demitimos ministros e secretários de estado, proibimos zangas e desavenças entre políticos no governo, apelámos à estabilidade de uma política governativa e ao respeito pela diferença de políticas, ainda que mudem os políticos, no sentido de criar estabilidade a quem está, a quem vive a escola.
Atribuímos medalhas e honrarias a quem, com dedicação, empenho, profissionalismo e amor, se tem entregue à escola e à educação de alma e coração e a única coisa que pede, a única coisa que gostaria de ter, era o respeito pelo seu trabalho.
Concordam agora? Resolvemos, ou não, os principais problemas da escola, da educação e do sistema educativo nacional?

Atrasos

Gostamos, na generalidade dos casos, há que ressalvar, de chegar atrasados de, com essa atitude, nos fazermos, caros, importantes, ocupados.
Venho de umas jornadas médicas onde a esposa (enfermeira, há que salvaguardar) apresentou uma comunicação. Inicialmente agendada para as 14h00 começou, nada mais, nada menos, que pelas 15h30, com meia dúzia de gatos-pingados na sala e após muitas e sucessivas insistências da organização a chamar as pessoas. Mas não. O pessoal, por uma questão de preço do seu produto, por falta de interesse no produto apresentado, por desconsideração profissional (entre médicos e enfermeiros é difícil meter a colher) ou por uma qualquer razão por mim desconhecida, optou por chegar atrasado, chegar às pinguinhas, às mijinhas como diria o meu avô, quebrando ritmos, interferindo com a apresentação, atravessando-se no meio dos diapositivos.
Será que não notam que já não é bem chegar atrasado aos sítios, armarmo-nos em caros e ocupados? Será que estas pessoas não respeitam os outros nem o trabalho dos outros?
Não assinei um manifesto que por aí circulou sobre esta idiotice de se chegar atrasado(a), por que considerei algo despropositada a iniciativa e a estratégia adoptada (apresentar uma petição à Assembleia da República, sinceramente).
Acho que me arrependi.

quarta-feira, fevereiro 18

Furo - folga - feriado

Estou na escola, deveria estar em aula, isto é, deveria estar a acompanhar e a apoiar as pessoas que frequentam o ensino recorrente por unidades capitalizáveis. Não estou por que me deram furo. Ninguém apareceu.
Em dia de jogo de todos nós deram folga ao prof, descansam da escola e das unidades que têm, em princípio, de fazer.
Cá fico eu, em vigília, atarefado a carregar nestas teclas.

Carnaval

Tenho de reconhecer publicamente que nunca simpatizei, nunca achei lá muita graça ao Carnaval. Lembro-me de apenas três distintas circunstâncias em que me mascarei.
Uma, sem voto na matéria, teria eu uns 6, 7 ou 8 anos, em que a minha mãe me enfarpelou um traje à toureiro (deve ser por isso que não simpatizo com a festa brava). Uma segunda, em plena adolescência e na guerra da conquista, em que me vesti de fantasma. Ainda hoje recordo com alguma dor a farinha molhada que pus na cara, para dar o respectivo ar e que secou deixando-me algumas marcas. Por último, estava eu na tropa e aproveitei o traje de "feijão verde" para ir ao baile de máscaras (o único a que fui) com os colegas.
Se há coisas que o pai não passou aos filhos esta foi uma delas. Hoje andámos a descobrir fatos, made in China ou Tawain ou qualquer coisa para esses lados, por 5 Euros a peça. O entuasiasmo era grande e o rebuliço na loja também. Nunca imaginei, numa destas lojas de chinesices, que a confusão fosse tanta por causa do Carnaval.
Enfim, ninguém leva a mal.

de bicicleta

Há pouco fui almoçar com a esposa ao seu local de trabalho. Quando fechei a porta de casa pensei, vou de bicla, exactamente, vou com calma, apanho um pouco de ar fresco e as ideias mais idiotas pode ser que se arrastem com o vento. Melhor pensado, melhor feito. Lá fui de bicla.
Mas não foi uma experiência lá muito agradável. Évora tem pouquíssimas pistas de ciclovias (será que estão pensadas para os espaços em reestruturação?), os condutores, desde os mais jovens em motociclos tronituantes aos mais velhos instalados em viaturas fumegantes, pouco (ou nada?) ligam a quem procura, calmamente, circular de bicicleta na cidade.
Para além de alguns calafrios, suplementares ao frio que se sente, o barulho e o fumo são incomodativos, transtornam quem circula pelas bandas mais próximas das artérias da cidade.
Apesar de existir uma política (ou uns políticos) que têm desencentivado a utilização de viatura própria, a alternativa é a viatura da câmara o que, convenhamos, não é nada agradável.
Sendo apoiante desta autarquia - apesar de todos os infortúnios e sortilégios - não sou conhecedor do sentido de uma política urbana que articule transportes e qualidade de vida, bem estar social, transportes colectivos e alternativas ambientais.
Certamente é desconhecimento meu.

dos comentários

Ultimamente tenho recebido e lido um conjunto de comentários aos posts que por aqui vou deixando, que me fazem sentir gente, que me reconfortam, me aquecem o espírito em tempos de frieza e desencanto.
São, como podem notar, pequenos textos, pequenos desabafos, pequenos quês de uma relação virtual, é certo, assente na distância que nos separa, no conforto e reconforto do anonimado físico, da leveza da impunidade de nada provarmos, de nada querermos a não ser partilhar ideias, palavras, sentimentos.
Em tempos que me sinto claramente em baixo, por cansaço e por algum desgaste físico e "pisicológico", as palavras que me deixam, a apropriação que delas faço tornando-as minhas, sendo minhas, dão vontade e ânimo para continuar a deixar ideias, a partilhar vontades, a construir sonhos.
Apetecem-e dizer, desculpem-me o lugar comum, gosto de os sentir por aí, gosto de me sentir acompanhado. Obrigado.

Rua

A propósito de um post dos Mundos da Educação dois comentários, porque não consigo, não resisto a ficar quieto e, muito menos, calado.
Sou professor farão dia 1 de Setembro, se lá chegar, 15 anos. É certo que me ausentei do sistema entre 1998 e 2002, neste tempo nunca convidei nenhum aluno a sair da sala de aula. Consegui, por clara e manifesta capacidade negocial, resolver os assuntos dentro da sala, cara a cara com o meu interlocutor.
Tenho, por hábito, o vício de afirmar que o professor é, na generalidade dos casos, mais velhos, mais experiente, com mais formação e, em princípio, mais educação. Tudo factores que devem permitir que, em face de uma negociação de poderes, o professor tenha mais argumentos, seja mais convincente que o aluno.
É certo que há casos e há casos. Este ano tenho-me sentido manifestamente impotente e algo incapaz para definir estratégias que me permitam a inclusão de todos nas actividades que desenvolvemos. Não tem sido fácil.
Segunda observação, os pais, com informação q.b., com alguma conversa e abertura de espírito, proporcionada pelo director de turma, ou pelo docente titular da turma, mediante o esclarecimento, a apresentação do que se faz, a transparência de atitudes, objectivos e competências, reconhecem, ainda, o papel do professor. E há situações que reconhecem também as dificuldades com que nos debatemos.
Talvez falte, como em muitos outros sectores da nossa vida, comunicação, entendimento de qual o papel do outro, perceber o que o outro faz, como faz, porque faz.
Por outro lado e para terminar, não podemos esquecer que estes pais passaram pela escola, pelas nossas escolas. Muito tempo? Pouco tempo? com sucesso? Com insucesso? Atenção àqueles que formamos para que não sejam iguais a estes pais, mas tenham a capacidade de discernir entre a participação crítica, a exigência de mais e melhor profissionalismo e o bom senso que os leva a calar quando não temos conhecimento de causa do que se passa (ainda que os argumentos possam existir).

terça-feira, fevereiro 17

cenas do meu quotidiano

Hoje confisquei, temporiamente (pena?, incerteza?, constragimento ao adolescente?), um télélé.
Falava eu nas razões que permitiram a emergência dos regimes ditatoriais, do Quino e da Mafalda, para que possam perceber o que é uma visão sobre a dita dura, relatava as incidências do pós I Grande Guerra, da Crise de 29, organizava as sessões subsequentes, no vídeo que iremos trabalhar na próxima sessão, nos objectivos que haviamos definido, enquanto o moçoilo, sorrateiramente como se o prof fosse tótó, carregava nas teclas, digitava, por baixo da mesa, mensagens de curta duração e, provavelmente, longo alcance.
Pimba. fiquei, temporariamente é certo, com ele.
O meu é mais recente e de operador diferente.
O nosso quotidiano.
Eu, agnóstico confesso, peço Ajudai-me Senhor a aguentar este meu quotidiano, a incerteza da minha impaciência.

sem ideias

Objectivamente ando sem ideias e sem imaginação.
Chego ao computador e perco horas a não fazer nada. Não navego como gosto, não leio o que gosto, limito-me a perder tempo com derivações algo idiotas.
As leituras acumulam-se, um romance, o novo de João Aguiar, ando com ele desde 6ª feira (mau sinal ou apenas sinal deste meu espírito?), um pequeno livro, ainda por cima colectânea de ideias velhas, de João Lopes, (Escola, território e políticas culturais), não o ato nem o desacto.
Vá lá eu entender o porquê destes dias. Até sou do género masculino. Talvez seja do tempo, depois de uns maravilhosos dias, quase percursores de uma primavera antecipada, não é que regressam os dias cinzentos, estes que me deixam indisposto?

segunda-feira, fevereiro 16

rapidinha III

outras cenas de um mesmo quotidiano.
Em conversa de café, na mesa do bar/bufete da escola, em hora fora de atropelos, trocam-se ideias sobre a semelhança de problemas que, com diferentes formas de expressão, se podem denotar entre os arredores da grande cidade e o interior adormecido. A indiferença perante a escola, a perda de sentidos e de utilidades que as pessoas conferem à educação, o abandono a que os pais votam os filhos, à pretensa facilidade com que se reage a este abandono, o facilitismo aparente de um quotidiano.
Serão assim tão lineares estas semelhanças? Estou certo que não. Serão assim tão coincidentes estas formas de desapego à escola? Estou certo que sim.

rapidinha II

cenas de um quotidiano - novos episódios.
Em conversa de sala de professores falam-se das notas, das provas, dos testes,m das más classificações. Procuram-se inventariar razões, causas. Analisar os porquês e os eventuais remédios.
Um comentário na sequência da conversa com palavras colaterais: quer dizer que estás out perante os alunos. Não te preocupes, não é contigo.
A sério? Não me preocupo?

rapidinha I

uma vez que não consegui organizar, razoavelmente, o meu tempo fiquei sem grande oportunidade para este espaço. Porque considero indelicado não responder a "provocações", de resto agradáveis e amáveis, cá vão umas rapidinhas, que há boa maneira do Alentejo são bem capazes de durar umas duas a três horas.

A primeira para o meu conterrâneo Frederico Mira, tenho que meter conversa um destes dias, com algum tempo, quando vamos buscar a prole à escolinha, lá chegaremos.
Deixou-me um amável recado, a propósito do Congresso do Alentejo, perdão Alentejo XXI, uma vez que o amorfismo decorre da manipulação e da utilização, abusiva, claro está, a que foi sujeito durante demasiado tempo. Este era exactamente um dos motivos pelos quais, aqui na blogosfera, eu esperava mais participação, mais reacção, maior empenho em alterar, ou acentuar, essa situação. Talvez me tenha enganado e, como na generalidade deste nosso país, estejamos a atravessar um período de letargia, o que convenhamos, aqui no Alentejo, não augura nada de bom.

sábado, fevereiro 14

s. valentim

Ao fim de semana, geralmente, não me apetece escrever.
Hoje faço-o apenas para vos desejar um dia feliz, aos namorados, claro, que eu sei que são, todos, de alguém.

sexta-feira, fevereiro 13

Congresso

Permitam-me divergir um pouco da área que ocupa mais espaço neste blogue, a escola, para escrever e dissertar sobre uma outra área que me merece a mesmíssima atenção, o Alentejo, em véspera do seu Congresso.
Primeiro, parece que a iniciativa passa um pouco ao lado da blogosfera alentejana, certamente pela pouca pertinência que lhe atribuem, pelo relevo e atenção que não merecerá, mas num rápido zapping - desde os mais recentes, como As Noites Alentejanas ou o Alentejo Blog, aos menos recentes, como O Paraquedista, ao Alentejanando, Ao Sul, ao Sexo dos Anjos, àqueles a que já chamo de amigos, como os oriundos da Planície Heróica, ao Vivaz, que terá desaparecido para parte certa - a ausência de notícias ou de comentários sobre o congresso são a marca.
Notícias apenas (?) Na Praça da República, no Alentejão,
2 - Esta situação será, em meu entender, algo paradigmática das posições que se confrontam na região;
posições que vão desde a afirmação político-partidária dos partidos, numa clara disputa entre PS e PCP, com umas tentativas de se imiscuir por parte do PSD, às alianças envergonhadas, mais ou menos escondidas ou recônditas entre PSD e PCP com uns passes de mágica de um PP envelhecido e envergonhado, mas presente na região; como será paradigmática da divisão - real ou artificial - que se pretende criar entre actores, protagonistas e zonas desta região;
3 - estou certo que, à semelhança dos temas, as conversas irão ser interessantes, acutilantes, que irão existir ideias capazes de renovar o convento do Beato e os tecnocratas do Terreiro do Paço, da Praça de Geraldo, da Praça da República ou do largo do Município, ou de qualquer outro ponto. Como estou certo que se apresentarão eminências - pardas ou não - que se disponibilizam para protagonizar essa mudança.
Como estou certo que, depois das conversas, das ideias e da discussão, tudo permanecerá rigorosamente como até aqui, sem se alterar uma vírgula, um ponto que seja. Porquê? Simplesmente porque a ninguém interessa e os protagonistas, que os há, estão isolados e são alvos a abater. Interessa a demasiados apresentar bandeiras, de luta, de atraso, de compadrios, de isolamentos, de subdesenvolvimentos, de dinheiros soltos, de ideias dependentes, mais do que apresentar uma ideia política, com protagonistas regionais políticos, capazes de mobilizar as gentes.
4 - finalmente, esta minha região merece mais, muito mais. Merece mais atenção, merece mais destaque, merece mais protagonistas, merece mais gente, merece mais ideias, merece que olhem por ela como gente de que é feita.
Merece que os bloguistas não se distraiam a discutir "porras e moengas", entre o alto e o baixo alentejo, com o do meio de permeio, a zona azul ou amarela, o blogue daqui ou dali.
Sou alentejano, de todo o lado, de todas as partes, do alto, do baixo e do meio, do meu Alentejo, com todas as costelas, porra.

história

Encontro-me à procura de uma tema de trabalho e enquanto procuro e enquanto não encontro desenvolvo uma ou outra ideia, um pouco à base do se tem dúvidas porque pergunta?.
Uma das áreas onde me entretenho é relativa às políticas educativas, ao papel da escola e do professor. Neste contexto tenho procurado nos suportes legislativos imagens, objectivos e papeis para uns e para outros. E aquilo que uma simples passagem de olhos pelos diários da república nos permite perspectivar face aos últimos meses, é uma clara tentativa de reescrever a história, de redefinir novos rumos e novos caminhos, os certos, os mais adequados, aqueles que uns sabem, têm a certeza e nunca se enganam que estão certos e que é a verdade.
Como se nada nunca tivesse existido antes do psd/pp, como se, este governo, estivesse a criar uma nova era, antes e depois da coligação.
Há quem, com legitimidade e sinceridade, defenda a definição de políticas assentes na capacidade técnica, tecnocrática, no parecer dos entendidos, dos espertos. É ver, no diário da república, o engavetar de qualquer assomo técnico ou pedagógico. Não há uma justificação, não há um enquadramento, não há uma orientação que não seja clara e manifestamente política.
São opções, legitimas de resto, mas são opções eminentemente, exclusivamente políticas.
É um reescrever a História, é uma clara e objectiva tentativa de definir um sentido à História, o de uma direita conservadora, retrógrada, maniqueísta.
Onde é que eu já vi isto?

clareza

(...) Acaba de sair o Calendário de Exames para 2004. A grande surpresa é o fim da 2.ª chamada nos exames da 1.ª fase, um direito de que os estudantes portugueses usufruem há décadas - nem Salazar o negava - mas que o presente Governo vai abolir. (...) in DN

Mais palavras para quê?

quinta-feira, fevereiro 12

realidade

Quem trabalha na área da educação, particularmente na escola, sabe com que fios se coze uma realidade de desespero, de angustia, de desespero pelo facto de encontrar colegas que não têm lugar, outros que sabem que a única certeza que possuem é a incerteza do seu futuro, das suas impossibilidades, da distância dos filhos e da família, da deslocação para zonas desconhecidas e agrestes, porque agreste é sempre o desconhecido, o distante.
Quem trabalha na escola, em qualquer escola, tem clara consciência de quanto importante seria ter grupos, gabinetes, pessoas, equipas que colaborassem na resolução de problemas, que efectuassem a ponte com a comunidade e a família, que apoiassem estratégias de compensação, que permitissem minimizar problemas, conflitos, dificuldades. Quanto importante seria ter professores que, para além de serem professores, pudessem ser colaboradores, quem tivesse e utilizasse o seu tempo para apoio ao tempo dos outros.
E, no entanto, a capa da revista Visão desta semana é elucidativa de uma realidade.
Não está lá tudo, falta a realidade, aquela mesma com que lidamos todos os dias e que nos dá prazer e orgulho, como nos angustia e desespera. Nos enternece e nos entristece.
Não se é professor por vocação, mas gostar daquilo que se faz é mais que suficiente para se enfrentarem as dificuldades e as angustias.
A recompensa? o sorrisso de uma criança, o olhar da descoberta, o prazer do encontro.
O que falta? a assunção das apostas, saber que sem ovos não se fazem omoletes, que sem professores não há nem escola nem futuros profissionais, nem actuais alunos.
Falta convencer alguns políticos que a aposta na educação neste momento não passa por mais dinheiro, nem por mais recursos. Passa, fundamentalmente, por bom senso, por considerar o outro e as outras políticas, por criar um sentido de estabilidade (político, normativo, pessoal, profissional).
Não se percam os bloguistas em derivações inconsequentes, em valorizações do acessório, tempo com o dispensável. Fazem cursos e mais cursos, assumam a política como condição primeira para que a escola, a nossa escola, possa melhorar.
Hoje fico-me por aqui, amanhã há mais, do mesmo, pelo mesmo e da mesma maneira, com o mesmo prazer e encanto que tenho todos os dias.

quarta-feira, fevereiro 11

devagar

Hoje tenho passado o dia a escrever devagar, devagarinho. Não apenas pelo facto de ser alentejano e gostar de fazer as coisas devagar, devagarinho. Não é apenas por isso. A minha filha re-encontrou-me uma caneta que não sabia por onde andava. E não sabia há já algum tempo. Habitualmente não perco as coisas, as pessoas, de que(m) gosto. Apenas me limito a não saber onde as coloquei, a não perceber por que teimam a arrumar-me o escritório, como se estivesse desarrumado.
A filha felizmente que tem o dom de mexer em todos os cantos e recantos, e encontrou-me uma Pierre Dumond, deve ter um pouco mais de 20 anos. Algo pesada, um peso que gosto de sentir nos dedos, que me obriga a sentir a caneta, as suas formas. Com aparo em pena, dourado. Custou a escrever, pensei que se tivesse esquecido, mas não. Depois de alguns safanões, depois de alguns assopros a escrita voltou a brotar daquela ponta adormecida há muito.
É um prazer voltar a escrever devagar, devagarinho, a pensar cada letra, a somar as letras e a verificar o seu resultado final, a ver o fim apenas lá longe, a antecipá-lo, a reescreve-lo.
A idade tem destas coisas. Faz-me apreciar as coisas com outros olhos, com um outro olhar, com outros prazeres, com um outro escorrer do quotidiano.

compromisso educação - II

É um tema, como muitos outros, que daria pano para mangas, para divergir e convergir, distrair e omitir, disfarçar e muitas outras coisas para a qual este país lenta mas gradualmente descai, como seja a opinião publicada, a fabricação de uma dada opinião, a valorização só de um ponto de vista, só de um olhar, como se a realidade fosse a preto e branco, entre bons e maus, entre esquerda e direita, entre uns e outros, entre os espertos e os outros.
Cada vez mais abomino este sentimento, de alguns senhores que promovem uma opinião e se recusam a ouvir a outra parte - vejam, por exemplo, o livro sob organização do Prof. João Barroso, A Escola Pública - regulação, desregulação, privatização.
Por isto e por muito mais, é preciso marcar presença na blogosfera, é determinante criar-se um sentido alternativo, defender e afirmar que existem outros mundos para além deste. É preciso dar voz e fazer ouvir quem tem palavras para dizer.
Um distinto colega deixou-me este comentário, reproduzo-o como o recebi, com sua autorização, sem mais palavras.

Gostei, meu caro Manuel, da sua reflexão de hoje!
E o que me custa é que esses homens são tratados como génios!
Os génios do Beato!
E as pessoas? E os jovens que procuram constituir família? Era vê-los (aos génios, claro) a ter empregados apenas com menos de 30 anos e que , na véspera do 30º aniversário, recebiam um "pré aviso" de despedimento.
Mas eles não conseguem ver que é nesta faixa etária que há mais despesas: com os filhos, os livros, os brinquedos, os passeios, a compra de habitação, e dos móveis e dos automóveis.
Mas estes génios não percebem que são eles, os jovens até aos 30 anos, que podem ser o motor do desenvolvimento económico?
Detesto-os todos vestidos de igual, com fatos iguais, óculos iguais, usam as mesmas palavras, ocas e sem sentido, ditas sem qualquer expressão, gravatas iguais, meias iguais. Quero que eles se....
Que falta nos faz a Natália Correia - penteam-lhe os crâneos....

Querem mais?

compromisso educação

Eu bem que tentei, eu bem que procurei resister a esta tentação de escrever sobre um dos aspectos que marcou e marca, em forma de balanço, os diários da manhã. Propostas muitas, ideias mais ainda. Soluções todos temos, por medidas, à medida, à maneira e sem maneiras.
Aposte-se na livre concorrência, deixe-se funcionar o mercado, liberalize-se o funcionamento do Estado, privatize-se o Estado e de certeza que poderá existir um melhor Estado. Com a clara vantagem de, caso se falhem os objectivos, podermos despedir o gestor, sem apelo nem agravo, sem indemnização.
Os custos sociais, esses, os senhores do Beato não estão preocupados, nem têm nada a ver com isso, é uma espécie de selecção natural pela capacidade económica. Os que a têm ou herdaram safar-se-ão, os outros nada têm a fazer por aqui.
Não quero estes senhores, não quero estas ideias, não quero a tentação ditatorial de um supremo conhecedor e consciente pelos outros.
Não quero o poder da economia nem do dinheiro.
Como não estou preocupado com os centros de decisão ou de indefenição.
Estou preocupado com as pessoas do meu país, aquelas que poucas, quando nenhumas, possibilidades têm de acesso a uma consulta com alguma atenção, com o cuidado e a emoção que deve rodear uma relação humana.
Estou preocupado pela desertificação - não do interior - mas de ideias.
Estou preocupado pelo acentuar do Portugal profundo, um porque dorme, outro porque o afundam.
Estou preocupado, e exijo um compromisso para isso, com a educação que falha, com as diferenças sociais que se acentuam, com as clivagens regionais que se promovem, com o cansaço dos professores, com a ângustia de se falharem o alvo e se acentuarem as perdas colaterais, com a incúria das pessoas, com a falta de profissionalismo de muitos.
Exijo um compromisso para com a pessoas deste meu país, com as vontade de fazermos mais e melhor, com a possibilidade de haver consciência social, com o compromisso de solidariedade social.
É pedir muito?

terça-feira, fevereiro 10

angustias

Há pessoas que entendem de uma dada maneira e com um dado sentido a escrita dos blogues perante o qual tenho dificuldades em me reconhecer ou identificar.
Um dos colegas afirma, de forma algo intempestiva, que aqueles que por aqui discorrem, que deixam pensamentos dispersos sobre a escola, em particular ou sobre a educação, ou são palermas ou tolos, qual camponês que pergunta a outro se quer ser rei.
Equívocos todos temos, dúvidas, pelo menos a generalidade, também. Agora não podemos com isso criar uma roda vida onde todos comentamos todos e tudo, onde trocamos galhardetes e nos sentimos mais próximos - será menos camponeses? será mais reis?.
Pessoalmente, já aqui o escrevi por diversas vezes e em face de diferentes circunstâncias, não comecei a escrever para ser lido, para ganhar protagonismo ou reconhecimento. Escrevo, ainda hoje, apenas para saber se sou capaz de alimentar esta ideia, de tornar público um pensamento, o meu, sobre um tema que adoro, a escola.
Se há alguém por aí, desses que escrevem sobre a escola ou sobre qualquer outra coisa, e alguns são óptimos pontos de observação, são olhares acutilantes e mordazes da nossa realidade campesina, mas, dizia, se há por aí alguém que queira ser rei atenção, não conte comigo, sou republicano, socialista e agnóstico.
Escrever assim dá oportunidade a trocar ideias destas, e que se fique fique inconformado, que se diga (ou se pense) que o pensament, a ideia não era essa, paciência, depois deste post e do comentário já feito, não volto ao tema. Um abraço e continuem os tolos e palermas a escrever por aí, pois eu gosto de vos ler e, muitas vezes não todas, reconheço, abano a cabeça para cima e para baixo.

segunda-feira, fevereiro 9

coisas da escola

Copio a designação de um dos novos blogues para contar cenas de um quotidiano, se me é permitido.
Regressei depois de uma semana por outras paragens. Qual o meu espanto quando encontro no cacifo da minha direcção de turma, passada uma semana de ausência, nada mais nada menos que 12 participações disciplinares referentes a três, 3, alunos.
Não há pachorra, não há paciência nem santo que aguente uma situação destas.
Em 13 docentes 3 são estagiários, 2 têm menos de 5 anos de serviço, 4 têm entre 10 e 15 anos de serviço, os restantes mais de trinta.
É uma turma desiquilibrada, desde os professores, aos alunos, interesses, expectativas, ambições, valores, opções e trabalho. Que alternativas determinar depois do trabalho que se procura desenvolver. Sinto-me, à segunda feira, derriado.

do pai

Eu mesmo que também me acontece ser.
Imagino, sob um outro olhar, a ansiedade e a ângustia dos pais (mãe e pai) quando confrontados com o desgosto de um(a) filho(a) que afirma que não gosta da escola.
Hoje perpassou esse sentimento pela minha pessoa.
Sou eu habitualmente que levos os filhotes à escola. Hoje a filha, sem qualquer explicação - será que nos seus 6 anos a teria que dar? - disse que não queria ir à escola, depois, já lá, que não queria ficar. A professora, simpática, senhora já com basta experiência, lá tentou. Ficou, é certo mas angustiada.
Imaginam como eu fiquei?
E os pais daqueles que não querem vir, que afirmam, já com alguns anitos, que não querem a escola para nada?
Um outro olhar.

do entendimento

Felizmente que o entendimento entre os membros do governo, pelo menos na área da educação, que acompanho com maior atenção, é expressa, sublinhada e realçada quer pelo titular da pasta quer pelo senhor primeiro ministro.
Nesta perspectiva estou certo que esta notícia, mais não é que um tentar desacreditar uma política que mais não visa que estimular os professores e os demais actores educativos, eventualmente pagar favores a uma esquerda que sempre exigiu mais uma disciplina, e termos uma melhor saúde sexual.
Com isto, arriscamo-nos a ter uma resposta positiva a uma positiva e pertinente reivindicação, ainda por cima vai ao fundo do nosso inconsciente, como inconsciente é a sua proposta.
No final teremos um secundário mais superiorizado da Europa, onde algumas das actuais disciplinas e cursos superiores mais não terão que um lugar na... memória, nem sequer colectiva, apenas na de alguns, face aos valores de frequência do ensino secundário.

Futuro

Pelas manchetes que num rápido zapping efectuo pelos jornais on-line, como este, ou este, ou ainda este, chego ou arrisco-me a chegar à brilhante conclusão que o governo, falta-me saber se o PSD apenas, irá obter maioria absoluta nas próximas legislativas.
Se assim não é então somos masoquistas, gostamos de passar mal, gostamos que nos tratem mal, existirá um qualquer sentido ou sentimento para mim claramente incompreensível que justifica estas sondagens ou os seus resultados.
No fim de semana em conversas de café com um colega que decide o seu voto em face de circunstâncialismos de momento (personalidades, ideias força, temas de debate) e como tal ora vota PS ou PSD (nas últimas votou PSD) discorria ele que concorda com as medidas deste governo, uma vez que não somos um país rico, que vivemos acima das nossas possibilidades, que nos julgamos muito europeus sem os custos inerentes.
Acham que discuti com ele?

geografia

para saber a posição onde estamos, com comentários e crónicas de um percurso, interessante para um outro olhar a escola, sob um ponto de vista não menos interessante.
Passem por .

sol

sinto a sua falta, nesta manhã de névoa onde as luzes ressaltam do fundo.
sou do sul (elitista???) tenho necessidade do sol, como os dias se têm apresentado, hoje apenas uma camisa em cima do corpito, para chamar o sol.

sábado, fevereiro 7

tranquilidade

Na leitura, em diagonal assumo, que fiz dos blogues meus favoritos encontrei dois textos perante os quais não posso deixar de procurar contribuir para a discussão, para a arrumação das ideias.
São eles e como ponto de partida UTOPIAS: reformamos ou reinventamos o sistema educativo? um texto de J. P. Serralheiro, de 31 de Janeiro, e um comentário do Miguel a esse mesmo texto.
Apesar de algumas diferenças, de resto desde sempre assumidas, considero que não existem divergências, e o que nos resta é procurar acrescentar algo à ideia do outro. É isso que procuro fazer neste momento ainda com influências oriundas de outras paragens.
A questão quando colocada da forma como o foi apela a princípios da utopia, da re-construção não de um sistema mas de um mundo, de outro mundo, provavelmente melhor, mais equilibrado, mais equitativo.
Neste momento o que apelo, e no que ao sistema educativo diz respeito, é de tranquilidade, serenidade, bom senso e medidas de política q.b..
Ou seja, este governo, quando tomou posse teve como clara preocupação suspender todas as medidas que pode e que tinham sido adoptadas pelo governo PS. Não houve interesse nem preocupação na avaliação das medidas de política antes adoptadas, na determinação dos seus impactos perante os actores educativos, nem a aferição do modo como essas medidas tinham sido adoptadas e contextualizadas às diferentes realidades escolares, educativas, sociais. A preocupação foi - é - a de apagar, pura e simplesmente, o período que mediou entre Outubro de 95 e Março de 2002.
Voltou-se às intensas reformas, às alterações de fundo e estruturais, voltou-se a uma indefinição de sentidos, de objectivos, à dificuldade em planear, nas escolas, um ciclo de formação de, no mínimo, de três anos.
Mais do que que reformar ou reinventar o sistema necessita-se de se avaliar o trabalho desenvolvido, definir projectos e avaliá-los, responsabilizar actores, alterar medidas de política que mais do que regulamentar criam entropias ao sistema, necessita-se, como diz e bem o Miguel, de definir a formação dos professores, apostar na sua capacitação e adequação aos tempos.
Em caso contrário corre-se o sério risco de se cair naquilo que o Paulo apresenta sob o título o Vidro e a professora. A ironia da autonomia? Não o considero e para o justificar busco legitimidade em palavras de alguém que foi responsável por medidas de política em governo PSD, "a construção de escolas competentes, capazes de tirarem o máximo partido, em cada momento, das inteligências dos seus principais actores, requer também um Estado competente e inteligente" (p. 109).
Agora pergunto eu, será que temos um Estado inteligente?

sexta-feira, fevereiro 6

estabilidade

Coloquei, face à fama, uma pergunta directa a um colega gaélico: qual ou quais as razões em que assenta o sistema educativo irlandes e que lhe granjeia fama e proveitos?
Resposta não menos directa, tipicamente saxónica, estabilidade, avaliação, liderança.
Estabilidade uma vez que o sistema educativo é mexido apenas na perspectiva da sua regulação, da correcção de disfuncionalidades (entropias) que se emiscuem no sistema.
Avaliação feita pelas escolas, pelo ministério e por entidades independentes que regulam o sistema e fornecem informações à comunidade sobre a escola e que permitem a sua regulação.
Liderança assente em contratos de trabalho estáveis [mas com alguns custos profissionais], numa gestão com formação e num sistema de escolas muito próprio.
Acrescentou, no âmbito da conversa, outros dois aspectos que não sei se não terão decorrido dessa mesma conversa - participação dos pais, quer nas reuniões, quer na definição do projecto de escola, quer via web, com página e acesso próprio, no acompanhamento da situação do seu filho/educando e financiamento que, obviamente também lá, sempre escasso e que o Estado não cumpre como devia e quando devia.

uma pergunta

Na caixa do correio duas novidades, uma das quais considero pertinente nos tempos que correm e com sentido, face ao que vi por outros lado.
Primeiro, mais um colega se apresentou na blogosfera, não muito assiduo, pelo menos de princípio, - coisas da escola.
Segunda, não há blogues sobre a escola ou sobre a educação de direita? Com quem possamos trocar ideias, olhares pontos de vista?
Foi uma questão que se me colocou a partir de uma outra que encontrei em alguns dos blogues, já não há ninguém de direita?
A Irlanda que foi exemplo para alguns dos políticos hoje no activo do poder, optou pelas obras públicas, pela intervenção estatal de modo a suster, em face das possibilidades, a crise social. Definiu, em tempo, um plano nacional de desenvolvimento - penso recordar nesta designação um outro, talvez Plano de Desenvolvimento Económico e Social (PNDES), de João Cravinho.
Enfim, países e lógicas diferentes.

Preocupações

Ao descentrarmos o olhar, as preocupações, ao deixarmos a autocentração percebemos o que somos.
Neste contexto foi interessante perceber que um dos sistemas educativos que é apontado como modelo, o irlandes, sente preocupações idênticas a este país em rectângulo implantado à beira mar, isto é, os rankings das escolas, a adequação da formação escolar ao mercado de trabalho, são preocupações presentes no quotidiano dos professores.
Também lá, mas com outras perspectivas, afirmam que este sistema que é modelo para muitos - lembro-me de um senhor que andava em tempos de feira em feira o apregoar - não nos doar outros B. Shaw, J. Joyce, S. Beckett, O. Wilde, entre outros.
Por outro lado, nas poucas notícias existentes na comunicação social (imprensa escrita e televisão) sobre a educação saltou-me à vista, para além destas, uma outra preocupação, esta relativa à tolerância religiosa e ao facto de uma professora na Alemanha ter sido proibida de usar, na escola, a "shara" - véu islâmico.
Num país com um ensino com claro suporte e orientação religiosa, não seria para menos. Para além do facto de ver crescer, diariamente, o número de emigrantes com religião islâmica.
Como foi interessante trocar ideias com docentes sobre a crescente preocupação pelo facto da escola não estar a preparar os jovens para se relacionarem com o sexo, pelo que decorre o elevado número de mães adolescentes, nem a sensibilizar para uma adequada dieta alimentar, daí o elevadíssimo número de adolescentes obesos.
Outro país...

de regresso

Tudo o que é bom, e mau, algum dia acaba. Foi o que aconteceu a uma curta, mas revigorante, pausa pedagógica.
Deu para conhecer outras realidades, deu para descentrar olhares e compreender, um pouco mais e um pouco melhor, o que somos, porque somos e o que queremos talvez ser. Conhecendo o(s) outro(s) conhecemo-nos um pouco mais e um pouco melhor.
Assumo com orgulho, tive saudades deste matraquear do teclado. Tive saudades das dúvidas, das certezas, das esperanças e das oportunidades perdidas.
Não tive saudades da política nem das notícias da casa pia, nem do governo, nem da agrura do nosso quotidiano. Reconheço que desde que cheguei, era de manhã, ainda não me consegui aproximar, seriamente, do televisor. A primeira vez que tentei levei com o processo casa pia de frente. Desisti e vim para este meu cantinho, olhar os colegas, sentir a escrita dos outros. Sentir o correr dos dias, apenas.
Coisas lá de fora?...