sexta-feira, fevereiro 20

das conversas

Em face do comentário do Francisco Nunes, tenho de argumentar que as coisas continuam como estão decorrente de dois básicos motivos/razões:
pela desorganização que grassa neste país e que interessa a um conjunto de indígenas de um bloco central, de um centrão (ora papas tu, ora papo eu) que ainda tem fantasmas no sótão e esqueletos nos armários. Por muito que não concorde com as propostas da geração do Beato tenho que concordar ou pelo menos é também minha leitura, que existem claras diferenças (e divergências) geracionais no entendimento e na gestão da coisa pública, no relacionamento e no entendimento do papel das pessoas nas organizações, como protagonistas da mudança.
É do interesse de alguns, poucos mas influentes, bestas andantes, mas com esperteza saloia, manter esta desorganização, tendo em conta que ganham claramente com ela, é a segunda razão, a da economia de bolso, que dificilmente se enfrenta e muito mais dificilmente se contrapõe. É um espírito de alguns e de alguns sectores, ainda corporativo, de defesa intransigente, fundamentalista do que é deles, do que é particular.
Enquanto uma e outra não forem ultrapassadas não há país que aguente.
Já se provou (é político, eu sei, mas é uma prova cabal) por exemplo no âmbito do PROALENTEJO, que se era capaz de fazer, que se era capaz de alterar muito do vigente, que se eram capazes de abrir “janelas de oportunidade”.
Para que se possam mudar algumas coisas, para que exista alteração de uma realidade inquinada não é importante nem determinante fazer uma reforma de fundo onde muita coisa abana mas nada cai. Há que entender que a "mudança é um processo não é um acontecimento" (Fullan, 2003, p. 48). E para que o processo ocorra é fundamental que as pessoas se identifiquem com ele, sintam aí uma oportunidade de reconhecimento pessoal e profissional, sintam que vale a pena. As pessoas resistem ou oferecem resistência à mudança, na escola ou em qualquer outro local, porque não sabem o que é que se passa, o porquê ou os objectivos dessa mudança, não se reconhecem nela, nem sentem que nela tenham participado ou para ela tenham, de algum modo ou de alguma maneira, contribuído.
Para que o processo de mudança ocorra, permitam-me a simplicidade e a eventual ingenuidade, bastava que existissem interesses, vontades e coragem política de dotar de autonomia (e responsabilização) os actores, que os deixassem definir, contextualizadamente, os seus objectivos, que se definissem modelos de monitorização e acompanhamento do trabalho desenvolvido, que se formassem equipas (EQUIPAS, entendam, é a diferença entre jogar à bola e jogar futebol) de trabalho.
Evitar-se-iam alguns constrangimentos ou outras singelezas.
Certamente apareceriam outras.
Mas privilegio a primeira, por isso é que sinto prazer e orgulho em, como afirma o Miguel, ser basista.
Acredito, quero acreditar, tenho provas disso, que uma escola sabe gerir mais e melhor 100€ que o ministério 1.000€.
Sei e tenho experiência disso que uma escola, com vontades, com trabalho e equipa pode e consegue definir e estruturar apoios, definir e implementar projectos de sucesso, arquitectar e apoiar ideias e professores.
Enquanto acreditar nisto, enquanto não me mostrarem o contrário, por aqui continuo, a dar a escrita, a voz e o corpo ao manifesto, na defesa, algo intransigente (reconheço e assumo esta ideia, algumas vezes como defeito) da escola situada, dos actores contextuais, dos protagonistas locais, da participação – da democracia participativa – como factor fundamental do processo de mudança.