Em conversa
Se resolvem os problemas da educação, do sistema educativo, da escola, do país e do mundo. É verdade, acreditem.
Passei, depois de almoço, pouco mais de uma hora a falar com um colega com quem já não estava há bastante tempo. Conhecemo-nos na escola, um e outro ocupava cargos no órgão de gestão, em escolas diferentes, partilhávamos ideias e princípios, discutimos, muitas vezes, propostas e ideias de reconfigurar este sistema, as nossas escolas. Construímos castelos no ar, arquitectamos planos e estratégias.
Hoje eu estou numa outra escola e ele é chefe de divisão, de uma qualquer divisão mais ou menos obscura da direcção regional de educação do Alentejo.
Nesta pequena hora de conversa resolvemos grande parte dos problemas do sistema educativo e das escolas. Arrumámos com grandes entropias e desentupimos bloqueios de décadas.
Conferimos poder e autonomia, com a consequente responsabilidade e avaliação, às escolas.
Definimos que o papel das direcções regionais é o de apoiar as escolas no exercício das suas autonomias, na definição e implementação dos seus projectos.
Concebemos que compete à inspecção agir em conformidade de acordo com directivas de avaliação emanadas das escolas e de entidades autónomas e independentes que aferiam a concretização e adequação dos objectivos.
Implementámos uma formação de acordo com as necessidades dos docentes, inventariadas em rigorosa actividade empírica, criámos centros de formação, em articulação entre entidades do ensino superior e escolas, do pré-escolar ao secundário, que permitissem rendibilizar custos, gerir recursos e responder às necessidades dos professores e das escolas e não dos formadores.
Desenhámos equipas pluridisciplinares que apoiassem o trabalho dos docentes, nomeadamente no âmbito do ensino especial, na integração de crianças em risco de abandono, absentismo ou insucesso, que facilitassem a articulação entre ciclos, que promovessem a articulação e o conhecimento do trabalho que se faz nos diferentes ciclos, nas diferentes escolas, nos diferentes concelhos.
Redefinimos a legislação dos concursos de docentes, tornando-os mais próximos das escolas, criando factores de colocação plurianuais, por projecto ou por acções específicas.
Implementámos redes informáticas de banda larga e criámos apoios, monetários e fiscais, aos professores para a sua utilização. Articulou-se a Internet com bibliotecas e centros de recursos capazes de desenvolver a literacia e os níveis de leitura, considerando que ler deve ser um prazer e não uma obrigação.
Definimos objectivos quantificados e quantificáveis tendo em conta a redução do insucesso, do absentismo, da articulação entre a escola e as outras ocupações profissionais, a formação contínua da comunidade, a abertura da escola a públicos diferentes e à diferenciação de públicos.
Demitimos ministros e secretários de estado, proibimos zangas e desavenças entre políticos no governo, apelámos à estabilidade de uma política governativa e ao respeito pela diferença de políticas, ainda que mudem os políticos, no sentido de criar estabilidade a quem está, a quem vive a escola.
Atribuímos medalhas e honrarias a quem, com dedicação, empenho, profissionalismo e amor, se tem entregue à escola e à educação de alma e coração e a única coisa que pede, a única coisa que gostaria de ter, era o respeito pelo seu trabalho.
Concordam agora? Resolvemos, ou não, os principais problemas da escola, da educação e do sistema educativo nacional?
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