quarta-feira, fevereiro 11

devagar

Hoje tenho passado o dia a escrever devagar, devagarinho. Não apenas pelo facto de ser alentejano e gostar de fazer as coisas devagar, devagarinho. Não é apenas por isso. A minha filha re-encontrou-me uma caneta que não sabia por onde andava. E não sabia há já algum tempo. Habitualmente não perco as coisas, as pessoas, de que(m) gosto. Apenas me limito a não saber onde as coloquei, a não perceber por que teimam a arrumar-me o escritório, como se estivesse desarrumado.
A filha felizmente que tem o dom de mexer em todos os cantos e recantos, e encontrou-me uma Pierre Dumond, deve ter um pouco mais de 20 anos. Algo pesada, um peso que gosto de sentir nos dedos, que me obriga a sentir a caneta, as suas formas. Com aparo em pena, dourado. Custou a escrever, pensei que se tivesse esquecido, mas não. Depois de alguns safanões, depois de alguns assopros a escrita voltou a brotar daquela ponta adormecida há muito.
É um prazer voltar a escrever devagar, devagarinho, a pensar cada letra, a somar as letras e a verificar o seu resultado final, a ver o fim apenas lá longe, a antecipá-lo, a reescreve-lo.
A idade tem destas coisas. Faz-me apreciar as coisas com outros olhos, com um outro olhar, com outros prazeres, com um outro escorrer do quotidiano.