terça-feira, fevereiro 24

Da escola e da esquerda

Atenção vou ser, para alguns sectores mais políticos, algo provocante. É um aviso antecipado de um gosto que sinto de enfrentar, sem receios, os fantasmas e os esqueletos no armário.
Vou ser provocante a propósito de uma certa esquerda que, agora, diz mal do PSD, publicamente, é certo, mas que com ele procura dissertar sobre opções, trocar algumas recordações e, parece, combater um mesmo inimigo, o PS.
Considero inadequado que uma certa esquerda, sindical e partidária, procure o melhor de dois mundos, o do PC reivindicativo, mobilizador e o de uma direita que lhe agrada, nas propostas, nas concessões, no combate e no esvaziamento que procura fazer ao PS. Considero impertinente que uma certa esquerda procure agradar a Deus, defendendo o seu ateísmo, e ao diabo.
Mas afinal que quer esta esquerda que, com o PS no governo não lhe concedeu a mínima das tréguas, não lhe permitiu o mínimo dos deslizes, não lhe concedeu a mínima das tolerâncias, e agora, com a direita no poder, procura uma escola de esquerda.
Mas querem melhor exemplo que uma escola de esquerda que aquela que esteve no governo entre 1995 e 2001, aquela esquerda que foi combatida pelo PC e que defendeu a aposta nas políticas de territorialização, na autonomia, nos currículos alternativos, na concessão de competências e poderes às autarquias, que apostou no pré-escolar sem descurar o ensino superior nem a aposta na investigação e desenvolvimento, na articulação do ensino superior com os territórios educativos circundantes, que defendeu, no âmbito da educação sexual, uma articulação e colaboração com o Associação Nacional Para o Planeamento Familiar, no âmbito da formação a docentes e no apoio à construção de currículos locais, que procurou articular com sindicatos e parceiros a redefinição dos grupos pedagógicos, do estatuto da carreira docente, do papel e das competências dos funcionários e dos auxiliares.
Cometeu erros? Obviamente, só não os comete quem não faz. Ficou aquém das expectativas? É claro, queremos mais e queremos melhor. Não foram perfeitas as apostas? Pois não, foram desenhadas e implementadas por pessoas que assumem erros, que têm defeitos.
Mas caramba, nesta altura do campeonato vir defender uma escola de esquerda, procurar saber o que isso pode ser é querer tapar o sol com a peneira, é querer fazer, de outro modo, o que a direita agora faz desenfreadamente, esquecer o passado, querer criar um hiato entre 1 de Outubro de 1995 e 21 de Abril de 2002.
Não nos iludamos. O período socialista não foi nem isento de erros, nem isento de políticas que poderiam e deveriam ter um outro impacto, quer na escola, quer na sociedade portuguesa. Conceda-se, no mínimo, um benefício de dúvida uma vez que, ao contrário do que agora acontece, não teve parceiros à altura que lhe permitissem criar uma alternativa de esquerda. Daí o ziguezaguear negocial entre um e outro partido de que é acusado. Porque o PC nunca se constituiu com alternativa nem, muito menos, como parceiro.
Mas pronto, é Carnaval e ninguém leva a mal este diletantismo.