domingo, setembro 28

Fui à civilização

De 5ª a Sábado fui passear, fui respirar à civilização, passear à cidade do Porto. Ver coisas diferentes, sentir sabores e aromas diferentes, ver pessoas diferentes, sentir de maneira diferente.
Reconheço que não sou o mais indicado para falar daquela cidade, daquela nação "carago". Estou demasiadamente nela embrenhado, sempre e eternamente apaixonado, porque vou lá poucas vezes, porque não vivo lá, por que gosto de lá regressar, sinto esta paixão, vai para vinte anos.
Peço desculpa de alguma susceptibilidade, mas, mais do que em Lisboa, quando vou ao Porto sinto que estou no meu país, sinto que respiro um ar diferente da minha terra mas que posso chamar de meu. Desde as francezinhas, à ribeira, passando pelas pontes que unem margens e separam pessoa, pelas águias e pelos dragões, pelas ruas e pelas livrarias, o Porto é uma cidade em contemplação, em permante degostação.
De regresso sinto-me aliviado, de pulmão cheio, pronto para submergir nos dias e nas recordações.
Regressei ao Porto passado pouco mais de 6 meses e muita coisa mudou. Desde logo o estádio do Dragão, imponente, branco, contemplativo de uma ponte, de toda uma zona da cidade. Depois a parte alta da baixa. De cara lavada, orgulhosa a evidenciar os seus anos. Da Batalha ao marquês, passeando pela faculdade de arquitectura, pelos jardins fronteiriços.
Nota-se, ao contrário de outras cidades, que o Porto cresce, se expande, ganha novos rumos, procura novos desafios.
E, o mais engraçado nisto é que, de acordo com o meu ponto de vista, a ideologia que marca aquela cidade é a do povo, a das gentes que nela navega. Os presidentes têm vindo e ido, orientam e decidem, mas a marca é das gentes, das pessoas, daqueles actores.
Sente-se que existe um sentido colectivo mais marcante que o futebol, mais determinante que a política, mais sentido que a pronúncia do norte.
Concilia-se o novo com o antigo, a tradição com a vanguarda, a inovação com a permanência.
Tudo isto para dizer que gosto, realmente, do Porto.
mas sou do benfica.

quarta-feira, setembro 24

Mudanças

Após o longo interregno, volto com força e pujança. Pretende-se algumas mudanças, para tudo ficar no mesmo.
Já repararam a quantidade de blogs que por aí abundam. Eles são os maldicentes, os bem falantes, os locais e os regionais, os amorfos e os picantes. Acredito, sinceramente, que apenas conseguimos ler os nossos e as gordas dos outros.
Torna-se, face à imensidão de ideias, impossível fazer um zapping de jeito. Perdemo-nos, entusiasmamo-nos, é labirintico.
Para descansar fico com a clara ideia que escrevo para mim, para dizer que também tenho um blog.
E pronto.

de regresso

Cá estamos, de regresso a este espaço após uma demasiado longa ausência, derivada de algumas angustias.
Regressei, a tempo inteiro, à escola, sou professor dos ensinos básico e secundário (3º ciclo e secundário). Após 5 anos de afastamento convenhamos que foi tempo. Tempo em que podiam, deviam, ter acontecido algumas mudanças. Afinal foram, se não estou enganado, 4/5 ministros da tutela e outros tantos secretários de estado. Todos a quererem deixar a sua marca, indelével, no sistema.
Mas não. Sabem o que mudou, os toques, os tempos lectivos, a designação de algumas disciplinas. O essencial permanece quase que intocável, a organização dos tempos, espaços e modos da escola, a inexistência de objectivos e de consensos sobre o que se pretende da escola, qual a missão da escola, qual o tipo de serviço que devemos prestar (escola e professores) o que se pretende da, na e para a escola.
São dúvidas que todos os dias discutimos, são exigências que se colocam aos professores, aos pais, aos alunos. Poucos reparam que, na falta de um caminho, as respectivas autonomias se esbatem, se esvanecem na forma esteriótipada de um normativo, de uma circular, de uma directiva.
Seria importante não perdermos a capacidade de construir um caminho, que possamos percorrer, que possamos perante ele desesperar, saber voltar para trás, construir e destruir com o gozo o prazer com que deitamos abaixo castelos de areia.
É este espaço de falta de imaginação que reencontrei, copiamos do caderno para a folha em branco e o aluno fica com a ideia de ter feito um grande trabalho. O professor lê e, para não se maçar, classifica o trabalho, diz que está bem, mais ou menos ou que, apenas, precisa de corrigir os erros ortográficos.
São ciclos viciantes. Não sei se conseguirei ultrapassar, não sei se conseguiriei ser muito diferente daquilo que constato. Não sou nem melhor, nem pior do que todos aqueles que andam e vivem na escola. Procuro fazer o que a minha consciência manda, obedecer à vontade de colocar a imaginação no poder. De sentir este como um espaço de liberdade e de criação. De amarras todos estamos fartos, ainda que elas possam constituir um claro engano de segurança e tranquilidade.
Cada vez mais confirmo aquilo que sempre defendi, a necessidade de permitir às escolas a construção do seu próprio projecto, definirem os seus próprios currículos e objectivos. Pode, para não assustar tudo e todos, existir uma orientação nacional, mas as escolas devem ser capazes e devem ser habilitadas a construir o seu próprio percurso. Os órgãos de gestão devem poder contar com horas suficientes para que possam chamar aqueles que podem dar algum contributo ao desenvolvimento da escola, dos alunos, dos professores, dos funcionários.
E quando falo em escola falo em professores, alunos, pais, funcionários, câmara, centro de sáude, segurança social, IPSS, etc. Falta política à escola, falta discussão, faltam espaços de debate, faltam espaços de troca de ideias, faltam, por incrível que isso possa parecer a muitos, um espaço de aprendizagem colectiva.
Não é por os legisladores não os terem criado ou não se terem criado espaços com esse fim, com esses objectivos. Os actores que formam a escola é que não os têm querido ou conseguido vivificar.
E não é necessário redefinir o sistema, inventar a roda ou redominar o fogo. Muito do que é preciso está aí, à mão de semear, saibamos nós aproveitá-lo.