quinta-feira, março 11

da docencia

Hoje, ao longo da manhã, entre imagens estúpidas da televisão e uma pausa para café, duas conversas sobre um mesmo assunto: o difícil que é ser docente.
Não quero com isto, com esta minha ideia, defender que somos os mais coitadinhos e os mais necessitados. Apenas pretendo realçar, sob o meu ponto de vista, interno é óbvio, o quão difícil é ser-se docente.
É uma profissão em que, na generalidade dos casos e dos comentários, é analisada pelo seu tempo livre.
Elas são as férias constantes e permanentes, do Natal, da páscoa, as grandes e as baldas. Ele é o prazer de trabalhar com gente jovem, curtida, g'anda curte, etc. Ele são os horários curtos de 15h, de 20h comparadas com as miseráveis 35h a que o resto do pessoal da administração pública está obrigado, para já não falar nas quarenta e muitas que os privados são obrigados a fazer. Ela é a gratidão que sinto pelo facto de ter lugar mais ou menos assegurado (nas palavras do nossos primeiro ministro) etc, etc, que isto de me queixar até pode parecer tolice minha, insanidade mental ou velhice, algo precoce reconheça-se.
O certo é que se alguém, que não docente, quiser passar apenas um dia dos meus, na minha companhia (não sou assim tão bárbaro para os abandonar completa e totalmente) com as turmas que tenho, com o horário que tenho está, desde já convidado. Se gostar tem lugar assegurado a apoiar-me, a colaborar comigo e com a escola.
É difícil, tenho que reconhecer, fazer passar esta ideia, mas devia ser considerado profissão de desgaste rápido ou, pelo menos, intenso.
Acreditem, aqueles que não são docentes, que não é fácil estar perante 20 ou 25 pessoas, agilizar o racíocíonio para cada uma delas, porque todas têm os seus problemas e os seus casos, bem como os seus interesses e desinteresses, alterar, em face dos anos e dos níveis de ensino, o pensamento, as estratégias, as metodologias, ligar e desligar de acordo com os contextos, as oportunidades, os momentos. Saber distinguir o pertinente da crítica, o desinteresse do problema pessoal, as dificuldades por falta de atenção do insucesso por dificuldades específicas. O trazer/levar trabalho para casa, corrigir testes, elaborar testes, definir fichas de trabalho, pesquisar informação complementar, esclarecer uma dúvida, apoiar um interesse, aprofundar uma causa, estruturar uma acção, equilibar entre didácticas e teorias.
Queixo-me apenas por manifesto cansaço e, como disse, num curto espaço de tempo duas conversas com pessoas diferentes sobre o mesmo assunto.
Mas sinto-me feliz por esta minha opção, contente por esta minha oportunidade. Já tive oportunidade de conhecer outras realidades e outros contextos, quer no âmbito da administração pública quer na área privada. Regressei por que gosto efectivamente desta minha escolha.
Mas que cansa, lá isso cansa.