terça-feira, novembro 23

do silêncio

não sei se por confronto com a velhice do meu pai dou comigo a passar mais tempo a ouvir os outros do que a falar com os outros. Será que finalmente me entrou algum do juizo nesta cabecinha ôca?
Tenho uma paciência que alguns rotulam de santo, que não sou por muito que me possa pintar com essas cores (quais são elas?).
O certo é que este passar de anos e de aturar as gentes e de as gentes me aturarem deram por esta altura para me sentir não sei como dizer, velho? não sei se será uma resposta adequada, tenho dúvidas, quero ter dúvidas. Mais experiente, talvez seja essa uma das virtudes deste momento que atravesso.
Dou por mim a apreciar coisas vulgares, normais, simples, do nosso dia-a-dia, de um quotidiano que é feito por nós. A procurar não complicar aquilo que é simples e bonito, a não procurar acrescentar nada àquilo que está, penso eu, completo.
Alguns certamente sorriem com a evidência, com a constatação deste facto. Pois é, eu agora também. Gosto de sentir este tempo a passar por mim, como gosto de lhe reconhecer alguns dos seus efeitos.
É claro que há contratempos. No fim de semana passado, armado em rapaz ágil, capaz de entrar por uma janela que está mais ou menos a dois metros de altura esparramei-me todo junto, com todos os ossinhos junto no chão, num baque ôco e silencioso. Apenas soltie um ai e um porra que já não tenho idade para estas coisas. Mas entrei.