Balanço
Entramos na última semana de aulas, aquela que é mais difícil de passar, de chegar ao fim. Inevitavelmente é tempo de balanço, de avaliação.
Na passada 6ª feira iniciei a minha avaliação com uma turma. O comentário na generalidade é que os resultados e a atitude não é nem pior nem melhor que dos restantes docentes (seria de esperar coisa diferente?), há coisas que são diferentes, é certo, outras que se mantêm. Foram referidas algumas dificuldades na compreensão daquilo que quero, dos objectivos que apresento. Tenho consciência desta dificuldade, em que, por vezes, me atrapalho na apresentação de uma ideia, na clareza dos conceitos, seja perante os alunos seja em outras situações. Já houve tempos em que justificava esta minha dificuldade de clareza pela enxurrada de ideias que, de quando em quando, me inundam o espírito, na vontade que sinto de dizer tudo de uma só vez, se, perante adultos é complicado fazer-me entender, perante adolescentes maior é a dificuldade.
Em termos de nota a média e a moda caiu no nível três, ainda que tivessem existido 2 ou 3 níveis 4 e um nível 2.
Vão existir algumas alterações no 2º período, tenho e assim tentarei, corrigir alguns tiros, algumas orientações. Tentarei dosear o trabalho entre a realização de fichas, a apresentação de esquemas síntese da matéria e a realização de pequenos trabalhos de levantamento/investigação realizados pelos alunos.
Mas o grande balanço a fazer é o do meu regresso, a tempo inteiro, à escola. Desde 98 que não estava no sistema, ainda que nunca dele me tenha desligado completamente, fosse pelo estudo, pelo acompanhamento ou pelo trabalho que desenvolvi. Neste regresso tenho de assumir uma certa atitude intempestiva, emotiva, reactiva que me caracterizou nas primeiras semanas de aulas e do confronto com a sala de professores. Foram surpresas a mais, foi o regressar e constatar que muito estava na mesma, a desorganização, a desorientação, o alheamento, o abandono do trabalho, o individualismo, o começar, permanentemente, tudo de novo, de princípio. Foi constatar muita da arrogância e pretensiosismo que caracteriza o trabalho docente, foi o permanente muro de lamentações. Foi a relação afectiva mas fria entre professores e alunos. Foi o constatar do esconder o lixo debaixo do tapete, o empurrar para fora da sala de aula os problemas, como se se resolvessem, escondessem. Foi o insistir no mito do sucesso educativo, que a escola é para alguns e não para todos, foi o diálogo difícil entre pessoas que, apesar da mesma profissão, ainda não consensualizaram conceitos.
Sou, obviamente, responsável por algum deste meu e pessoal mau estar. Assumo a minha cota parte de responsabilidade. Mas a escola necessita de alterar paradigmas, comportamentos, atitudes, pré-conceitos. A escola, e neste contexto falo essencialmente dos professores, precisam de reequacionar matérias, conteúdos, competências, objectivos, relações, metodologias. É esta (in)capacidade que sinto, com que todos nos confrontamos e nos arrepiamos. Mas que necessitamos de repensar, em conjunto, em equipa, com responsabilidade, autonomia e sentido estratégico. É também este sentimento que não sinto em muitos e muitos dos meus colegas. Como se tudo estivesse bem, como se tudo corresse no melhor dos mundos.
Mas é mentira e precisamos de o repensar.
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