quinta-feira, novembro 20

Nem de propósito, juro que ainda não tinha passado os olhos sobre as páginas da Visão.

Freitas do Amaral, curto, grosso e a sacudir a água do capote, afirma:

O estado em que os alunos chegam ao Ensino Superior [as maiúsculas são do autor, F. do Amaral] (...) é francamente confrangedor"

Obviamente que está presente a culpa dos professores do secundário que não se preocuparam em "ensinar" os alunos em prepará-los para a Universidade (será que têm de ir todos para a Universidade?, será que o nível de preparação terá que ser para todos o mesmo?).

Por sua vez e como é hábito, os professores do secundário atribuem a culpa aos colegas do básico, questionando em como é que os alunos ali chegaram. Os do básico referem que é no 1º ciclo que tudo se joga e que os professores daquele nível de ensino não ensinam.

Eu, já agora, acrescento que as Universidades é que estão desfasadas no tempo e no espaço.

Resultado, todos temos culpa, todos somos responsáveis pela incúria a estamos a deixar um país.

Mas até tremo só de pensar que David Justino vai fazer uma reforma ao secundário. Certamente que a apelar aos valores da qualidade e da excelência, da autonomia e do respeito pelas especificidades, do reforço das ligações da escola ao mundo empresarial, no aprofundamento dos aspectos científicos, na valorização da matemática e do português.

Depois de implementada e só depois, é que surgirá alguém a questionar quanto às necessidades dos locais, dos indígenas, quanto aos projectos de formação, ao que se pretende de uma cidade, de um concelho, de uma região e qual o papel que a educação neles pode e deve ter.

O senhor ministro e todos os sapientes que o rodeiam, definirão um currículo que, depois de implementado, ninguém cumpre, com a preocupação dos exames e do cumprimento dos programas e da preparação para os exames.

O fosso entre quem pode ter e pagar explicações, adensa-se, como se acentuará o fosso entre quem tem uma cultura de escolarização e quem a não possui.

Como se acentuarão as diferenças entre um país de interior e de litoral, onde todos marcarão presença quando caiem pontes ou ardem os pequenos haveres.

Com todo o respeito e consideração que me merece um senador deste país (estou certo que Santana Lopes o elegeria, é político e escreve na comunicação social) Freitas do Amaral caiu na asneira de, ao procurar picar ou criticar o ministro da educação, ir pelo lado mais fácil, mais óbvio e mais demagógico.

Que a escola e o secundário merecem um repensar profundo não tenho a menor das dúvidas, não podemos é cair no facilitismo e na demagogia.
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