quinta-feira, novembro 20

Por causa do big brother nos manuais de português, Francisco José Viegas escreve no JN:

Portugal está um país tonto, vulgar e sem pretensões a mais do que isso, vandalizado pela televisão e pelo sensacionalismo, pela má gramática e pela falta de qualidade geral. Não devia escandalizar-nos porque este embrutecimento subtil, cheio de falta de generosidade e de sensibilidade, ameaça alastrar à vida toda dos portugueses, massacrados por horas seguidas de bola na televisão e de falta de senso dos políticos profissionais, rendidos à magia da audiência e do populismo mais fácil. Só devíamos estranhar porque o facto de ser a escola a promovê-lo, desta forma aberta e consensual entre os pedagogos e os "cientistas da educação", significa que a reforma (a acontecer um dia) terá de ser mais profunda e dolorosa mais tarde.

O que mais me custa e dói aturar é a clara e evidente constatação deste facto. Há um alhear perante as dificuldades, há um óbvio baixar de nível, para justificar o sucesso, há um evidente desligar das relações por esgotamento de quem lá anda.

Não quero desculpabilizar nem os professores, nem a escola, nem atirar as eternas desculpas para cima dos ministros, dos ministérios ou do sistema. Não podemos é continuar com a cabeça enterrada na areia a fingir que nada se passa, a ignorar o crescer da ignorância, do cavar do buraco, da falta de profissionalismo, da atenção e do cuidado que todos merecemos.

Reforço uma firme convicção, deixem as escolas organizarem-se de acordo com os seus projectos, permita-se o fomento de ideias, de políticas na escola, criem-se condições para a participação e o envolvimento, activo, pró-activo, de pais, comunidade educativa, professores, alunos, funcionários, estruturas representativas e criem-se projectos, debatam-se ideias, estruturem-se apoios, fomentem-se equipas.

Deixar tudo ao cuidado de um único sector é deixar andar o barco do descontentamente. Criar áreas de co-responsabilização é, em hora de aperto, sacudir a água do capote.

Desregule-se para que a sociedade civil se permita à auto-regulação.