terça-feira, novembro 18

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ontem senti-me muito próximo de um límite de destempero, perante um aluno.

Que podemos e devemos nós fazer perante pessoas em que a escola nada lhes diz, que não passa pela escola qualquer sentimento, sonho ou ambição.

A não fazer nada corre-se o sério risco de insistir no ciclo vicioso da desqualificação, desconsideração, insucesso, abstencionismo e abandono. Inevitavelmente são oportunidades perdidas para o futuro e, por incrível que possa parecer, não afectam apenas a pessoa que abandona a escola com 13, 14 ou 15 anos. Afecta toda uma comunidade perante a qual não há produção de riqueza, desenvolvimento de conhecimento, massa crítica com tenacidade de mudar estes ciclos.

Cada vez mais sinto vontade de reforçar a educação local, reforçar os meios e os mecanismos de as escolas e as autarquias poderem definir trajectos, medidas, opções de política educativa.

Instrumentaliza-se a escola, dirão uns, politiza-se a educação, dirão outros, dirão certamente mais do que aquilo que consigo, neste momento, imaginar. Ainda bem, pois considero que falta política à escola, falta formação aos actores educativos para que possam afirmar a sua política, as suas ideias, definir e assumir as suas opções e convicções.

Reparem nesta frase: a falta de formação teórica e política dos professores fá-los correr o risco de reproduzirem os discursos retóricos que lhe são impostos, e de se conformarem com a função de meros executores de tarefas planeadas por outros (in a página da educação);

Não é, obviamente, nem inocente nem infundada e apela aos mesmos sentimentos que procura combater. Mas é real e é uma óptima tese.

Enquanto a escola não se tornar e assumir como um espaço de participação política e ideológica, estou certo que dificilmente teremos (professores, pais e responsáveis políticos autárquicos) condições para redefinir estratégias, repensar o modelo de organização de espaços e tempos educativos, a gestão e coordenação de recursos, combater o insucesso, o abandono e a desqualificação de uma dada comunicade.

é disto mesmo que este governo tem medo. É isto mesmo que este governo, certo e senhor da sua sapiência procura evitar: que os actores ganhem protagonismo e o filme deixe de ser do realizador para ser de actor.

É por isto que eu luto, é por isto que eu ambiciono. É isto que me move.
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