segunda-feira, abril 25

sobre

Uma coisa a brincar, pois casos sérios não são para aqui chamados. Uma coisa sobre a velhice. esta coisa que quase não tem espaço nem lugar disponível na cultura rápida, instântanea do mundo ocidental.
Cá em casa o tom tem sido o meu sentir dos anos, de algum peso que se tem manifestado com alguma intensidade, com alguma presença. Eles são os cabelos brancos que se espalham com alguma pressa, os movimentos que não saiem como pensamos ou como estavamos habituados. As memórias que temos e onde procuramos abrigo, descanso, justificação para tanta e tanta coisa. Os filhos, os nossos e os dos outros, a crescerem desenfreadamente, sem qualquer autorização, sem permissão dos pais nem de amigos e que, de repente, estão na universidade, a terminar a universidade. Ele é a morte daquele conhecido, do amigo que sempre assim conhecemos, que julgavamos quasi eterno. É sentirmo-nos deslocados num concerto, numa manifestação onde, todos os que conhecemos, estão velhos.
Podemos esconder, remediar, justificar esta coisa sobre a velhice, dizendo que é um estado de espírito, que o que conta é o interior, o que vale é a idade com que nos reconhecemos.
O tanas. A idade, sorrateiramente, delicadamente e com toda a força da natureza deixa as suas marcas, marca-nos o espírito e o sentir. Passamos a fazer parte de um outro intervalo etário. Como disse e escreveu uma vez Miguel Esteves Cardoso deixamos os inhos e passamos aos ões, trintões, quarentões...
Caramba, também eu sinto o peso de todos os anos por que já passei, onde estive e que senti. Também já sinto estórias a mais onde encontrar abrigo e justificação.
Afinal é sobre a velhice...