da participação e da recriação
Na sequência do meu último post, encontrei, após um dia de ausência deste espaço, um conjunto de mensagens curiosas, umas mais agressivas, outras de incentivo, que apresentam, entre elas, um traço comum. Defendem e afirmam que ataquei os docentes, que os acuso de serem os responsáveis pela falta de trabalho dos alunos, pela sua ineficácia e ineficiência. De certo modo como se fossem os docentes os (ir)responsáveis pela ignorância dos alunos, pela falta de bases e de conhecimentos de cultura geral.
Clarifiquemos a situação. Ainda que possa ter dado azo a tal situação, procurei, na medida das minhas faculdades, deixar claro que o principal responsável pela situação de incúria, de abandono, de esgotamento, de alheamento a que muitos docentes chegaram se deve fundamentalmente ao modelo organizacional em que assenta a escola, a nossa escola.
Reconheço em inúmeros colegas o prazer de ser docente, de procurar incutir o gosto pela descoberta, pela curiosidade, pelo sentido crítico, pelo aprimorar de sentidos estéticos. Reconheço em muitos dos colegas com quem partilho sonhos e vontades, muita dedicação, ambição e arrojo de querer determinar outras estratégias, de criar alternativas. Mas não é disso que se trata.
Se, por uma qualquer razão, posso apontar uma dose de responsabilidade aos docentes, essa reside no facto que terem de ser também os docentes a pensar qual o melhor modelo, a proposta que melhor se adequa ao seu projecto educativo, aos objectivos que a comunidade educativa e escolar definiu. Isso, em minha opinião, é indiscutível e inquestionável. Terão de ser os docentes em articulação com todos os elementos que integram a escola, a pensar o que é melhor para o alcance dos seus objectivos. Isto implica a defesa da democracia participativa, implica responsabilização das partes. Implica um sentido de construção de ideias e de propostas.
Não podemos estar à espera que outros (mais iluminados?, mais espertos?), pensem e definam uma solução, a solução milagrosa que fará com que todos os males sejam ultrapassados.
É este trabalho, e não a dedicação que muitos e muitos colocam no seu desempenho, que questiono ou responsabilizo.
O que mais me angustia é ver docentes que não pensam nem querem pensar o seu trabalho, as suas propostas, determinar alternativas. O que me assusta ver na classe docente é o alheamento de proposta, é a aposta no mais fácil, mais imediato, mais instantâneo.
O que ambiciono, o que procuro desenvolver no meu trabalho e na colaboração que dou ou que solicito consiste na construção de propostas, na inventariação de ideias, na definição de projectos que mais se adeqúem às necessidades de uns e de outros, permitam e respeitem processos individuais, de aprendizagem, de descoberta, de recuperação de atenção. Que concebam sentido ao trabalho do aluno, mas também reflictam a importância do trabalho docente.
Criticar tudo e todos não é solução. Imaginar um eldorado educativo ainda o é menos. Há que incentivar e determinar mecanismos e formas de participação para que, juntos, possamos determinar as propostas mais adequadas ao contexto social, cultural, económico, regional e educativo em que nos inserimos.
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