o que (não) se sabe
O Mocho traz de volta, por intermédio de um artigo no Expresso, um velho tema da escolaridade básica obrigatória: saber ou não saber, seja ler, escrever e contar, interpretar um mapa, um gráfico, um quadro ou uma imagem, seja a capacidade de manipular um dado boletim informativo, um jornal ou uma revista, pesquisar na Net ou na biblioteca da escola, elaborar uma entrevista aos familiares ou preparar um programa de rádio, e chega, para não me alongar exageradamente.
É certo que partilho da preocupação de os alunos adquirirem um conjunto mínimo de competências que lhes permitam perceber e compreender a sociedade em que estamos, possuir capacidade crítica e sentido estético, entre outras atitudes e competências. Não pretendo, longe de mim, incutir valores ou defender qualquer ideia ou ideal, seja de Portugal, da nação, de cultura ou de política, esses deixo-os ao livre arbítrio e à capacidade de renovação e reconfiguração que cada geração lhe confere.
O problema não reside aí, penso eu, digo eu.
O próprio autor destaca os diferentes níveis e ritmos, interesses e expectativas dos alunos. Omite é o trabalho do docente, a sua capacidade de organizar espaços e tempos, metodologias e estratégias, didácticas e actividades que permitam criar um sentido diferenciado e que respeite o aluno. O que se defende no artigo mais não é que um mito, o da escola igualitária, democrática e homogénea. O que se defende no artigo mais não é que um dado pronto-a-vestir pedagógico.
Relembro, outra vez, o excelente artigo no Real Colégio sobre o processo de ensino. Ali se pode ler e dali se pode retirar uma frase que terá todo o sentido na adequação a este novo artigo, cquando se afirma que "É nesta ratoeira que cai o referido autor, a de uma contumaz idealização do processo de aprendizagem em correspondência com uma idealização do ensino. "
O problema, em minha opinião, reside na capacidade da escola, do conjunto de actores e protagonistas, docentes, discentes, funcionários, pais e encarregados de educação, autarquia e outros parceiros, serem capazes de definir um sentido ao trabalho escolar, qual o conjunto de competências mínimas pelas quais todos os que integram a escola, deverão pugnar, quais os objectivos pelos quais nos orientamos, quais os critérios de avaliação que devemos definir.
Apesar de genericamente concordar com o artigo ou, pelo menos, com a preocupação que se lhe encontra subjacente, considero que o alvo não deverá ser o aluno mas, preferencialmente, o modelo organizacional em que assenta o trabalho do professor e a escola portuguesa. Enquanto este não se alterar, enquanto não se definirem outras alternativas, que por aí se podem referenciar, chegaremos sempre a esta triste conclusão.
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