segunda-feira, outubro 20

Ouvi à pouco na rádio eborense que a Câmara de Évora promove um projecto de luta contra o abstencionismo e insucesso escolar, de nome extenso mas em que a abreviatura é CAIPIRA.

em primeiro lugar, e após este nome, fica-se com a sensação que é mais um projecto de intervenção multicultural, em particular entre Portugal e Brasil, já que as caipiras são deste país.

Por outro lado, a atitude é louvável, mas penso que se encontra à partida seriamente condicionada. Os meios, as condições e os recursos que a câmara, esta ou qualquer outra, detém, são escassos face às necessidades de intervenção. Mas é um passo fundamental.

Estes projectos contam se inseridos em projectos mais vastos, quer de escola, quer de autarquia, em que mais não serão que elementos facilitadores de um processo (de Ensino-aprendizagem), de um momento de integração (numa cultura escolar e formal), como um factor de transição (entre mundos, de modo particular entre a escola e o mundo profissional).

Só que, e péssimismo meu, tenho sérias dúvidas que exista uma ideia de escola por esta banda. Alguns protagonistas, estou certo, têm uma ideia de escola, nomeadamente as secundárias, uma ou outra básica. Mas se dessa ideia faz parte a câmara, sem ser para facultar transportes ou disponibilizar verbas, tenho dúvidas.

Qual a capacidade operacional de partilhar responsabilidades, isto é, de tomarmos parte da decisão do outro.

Dito de outro modo, como entendem os actores educativos a intervenção dos eleitos autarcas na definição de um sentido de escola, na definição dos objectivos desta, na construção da sua missão?? Por outro lado, como entenderiam os eleitos a participação dos actores educativos na construção de uma política educativa local??

Estou certo que uns e outros dizem que se consultam periodicamente, com regularidade. Que não são definidos alguns dos objectivos (do projecto educativo de escola, do projecto curricular, de animação sócio-educativa, entre outros) sem que se auscultem sensibilidades, sem que se oiça o parceiro. É certo e é verdadeiro, mas intervir com capacidade de regulação, num e noutro campo, tenho dúvidas que uns e outros queiram.

Uns por que receiam que a sua autonomia profissional e pedagógica seja colocada em causa, outros porque se defendem das legitimidades alheias.

A educação é este desafio. Construir sentidos locais, utilidades próprias e individuais de cada contexto, todos diferentes, todos iguais. Partilhar responsabilidades porque se partilham objectivos, porque se constroiem caminhos colectivos e solidários. Porque todos temos uma palavra a dizer no futuro que queremos. Ter a capacidade de integrar a diferença (de género, política, de raça, de credos, do que se entenda) na construção de um mesmo processo, o de aprender a sermos autónomos, a termos capacidade de colectivamente construirmos o futuro individual.