quarta-feira, janeiro 5

da confiança

...e da confiança.
Muito do que se joga nas próximas eleições vai no sentido de criar desafios e assegurar factores de confiança entre o Estado e quem o administra, o governo, e os cidadãos. E este pode ser um passo essencial na construção de uma administração pública moderna e da reinvenção do nosso quotidiano político e administrativo.
Tentarei, ainda que sucintamente, explicar.
A relação entre o Estado e o cidadão tem sido marcada, desde Salazar, pela desconfiança, pelo princípio assumido que quem não está no Terreiro do Paço não sabe, não pode, não tem conhecimentos, não domina a terminologia, os mecanismos os instrumentos que permitam gerir e administrar o seu domínio. Vai daí e as sucessivas tentativas são de controlar e comandar tudo e todos a partir daquele espaço mais que simbólico. A concentração de poderes, a assunção de funções a isso tem conduzido e reforçado essa situação - singelas tentativas foram feitas em sentido contrário, mais com base em atitudes pessoais, do que com sentido e orientação estratégica.
Quando se desconcentraram poderes, quando se deslocalizaram espaços, quando se autonomizaram funções, quando se delegaram poderes há, quase sempre, duas interrogações.
Por um lado, será que o Estado quer aliviar responsabilidades ou quer justificar atitudes ainda mais concentracionários. Ou, por outro lado, qual será a bandeira eleitoral a jogar porque o pobre desconfia sempre da boda.
Ora está na hora, é tempo do Estado, na figura do seu futuro gestor, assumir uma relação de confiança com o cidadão, assumir que este é maior e vacinado, que tem competências e saberes próprios, que hage de boa fé e com sentido de Estado, que procura, na individualização da gestão, o bem comum e a salvaguarda do interesse colectivo.
Que há excepções? obviamente, que há gatunos e incompetentes, também. Há que criar os mecanismos que permitam minimizar essas situações, definir instrumentos que permitam avaliar competências e práticas, corrigir disfunções.
Depois talvez exista espaço e tempo para que a administração pública seja um espaço diferente, diferenciador e estimulante para quem dela precisa e quem a utiliza.
Depois talvez seja possível repensar a administração pública.