quarta-feira, dezembro 10

viagens - outra vez

Assumo o discurso, considero que é importante perceber, compreender o que é a blogosfera, o que ela nos traz de novo, o que ela realça, ainda que com um suporte específico e diferente, de tradicional.
Assumo o discurso porque gosto da discussão, gosto de ideias, gosto de as partilhar, gosto de as sentir. Com elas sinto que estamos vivo e que temos oportunidade e hipótese de sobrevivência neste mundo.
Isto a propósito do post de Luí­s Carmelo, com a finura que o marca, com a delicadeza e a ternura que caracteriza muito dos seus livros, afirma, entre o meu post de ontem - viagens - e os comentários do Bomba inteligente, que o desafio dos blogs poderá residir na "falta de sustentabilidade da escrita em rede" e que por seu intermédio pode ser um desafio à  ordem dominante esta "escrita livre e pessoal, fragmentária e aberta, fortemente intertextual e contaminada, dissociada de um suporte que a tornasse num organismo centrado, tendencialmente estático e alérgica ao interactivo".
Creio, como Luí­s Carmelo, que sim que este pode ser um caminho, pode ser uma "janela de oportunidades".
Mas, não nos fiquemos por aqui. O Bomba destaca um outro elemento que também assume, ainda que dele tenha senão medo, pelo menos algum receio, que é a recusa da indiferença e a nossa (in)capacidade de lhe responder.
Entre um e outro, num contexto de viagens, volto aos aspectos pessoais, corro menos riscos de falhar, para referir que o percurso iniciático se deu pelo debate, pelas propostas de discussão de ideias com o Mário Simões, no seu vivaz.
Mas tenho também reparado que muitos assumem a clara posição de um diá¡rio mais ou menos í­ntimo, se é possí­vel este enquadramento. É um discorrer sobre um tema, habitualmente o quotidiano, é um valorizar aspectos, situações, momentos que antes possivelmente não aconteceria.
Outros assumem-se, de modo mais ou menos deliberado, mais ou menos camuflado, como aquilo que Luí­s Carmelo referiu de autonomização a posições político-partidá¡rias, a interesses e a correntes, com aquilo que noto de narcí­sico na escrita.
Onde pode estar a ruptura, onde pode estar a continuidade com um outro suporte? quais os reflexos, os impactos de uma e de outra das posições no quotidiano de quem assume o blogue? Qual o impacto na escrita quotidiana? qual o papel dos blogues no ou para o entendimento dos nosso dia, na leitura dos momentos que queremos transpor para este suporte?
Se é certo que não podemos ficar indefinidamente a viver o quotidiano, com o risco de o transformamos em pesadelo de escrita, de interpretação, de reflexão, também poderá ser certo que não podemos responder a todos os comentários, tanto que o fazemos mais com quem conhecemos, mais do que estimular o desconhecido, em estabelecer conversação com quem não conhecemos, nem de livros, nem da TV.
Ou será que existe uma extensão do nosso quotidiano para este suporte?, onde apenas reforçamos as amizades que já temos? e não ligamos a quem não conhecemos? - para além do Luís Carmelo, nunca ninguém me respondeu, será que alguém me considerou?.
Ou será que outros, como eu, por exemplo, utilizamos este meio para dizer, para escrever que há outros meios, outros mundos, outras palavras, outras opiniões, não vinculadas?
Será este um dos poderosos meios de democratizar também as opiniões? De colaborar na feitura da opinião?